Esqueça o Papito, os realities e a celebrity. Supla quer se desvencilhar disso tudo para ser visto apenas como um músico. “É o que eu faço desde meus 18 anos”, lembra ele, que está lançando o oitavo CD solo, Diga o que Você Pensa.
Com cinco décadas de vida, completadas em abril deste ano, e o mesmo jeito molecão de falar – com frases terminadas num sonoro e paulistano “mêo” –, Supla ligou para a Redação de A Tribuna no fim da semana passada para divulgar seu novo álbum.
Assim, ele retoma o lema punk Do it yourself (faça você mesmo) e surpreende jornalistas de Norte a Sul do Brasil anunciando pelo telefone: “Bom dia, aqui é o Supla e estou lançando um CD solo”.
Antes de termos certeza de que não se trata de uma pegadinha, ele já está pedindo o e-mail para enviar o link do álbum completo, fotos de divulgação e a capa do disco. Na sequência, emenda uma conversa como se o conhecêssemos dos tempos do colégio.
Supla é assim. Um cara autêntico e “único no mundo”, segundo o próprio – por mais contraditória que pareça a afirmação, uma vez que o músico reproduz a moda punk inglesa dos anos 1970. Mas encarna esse estilo com tanta naturalidade que ele mesmo se confunde com o personagem que criou: Eduardo Smith de Vasconcelos Matarazzo Suplicy é mais Supla do que o contrário.
Bom, mas a ideia é falar do álbum Diga o que Você Pensa, que chega depois de um hiato de dez anos sem lançar um solo (o último foi Vicious, de 2006).
Nesse meio tempo, ele não ficou parado. Quem acompanha Supla sabe que ele se dedicou à parceria com o irmão João Suplicy no projeto Brothers of Brazil – nome sugerido pelo empresário Bernard Rhodes, que trabalhou com The Clash.
Com o Brothers, lançou quatro álbuns bastante elogiados: Punkanova (2009), Brothers of Brazil (2011), On My Way (2012) e Melodies From Hell (2014), e levou sua música até o Japão e a Noruega.
O projeto abriu novamente as portas do showbiz para Supla, com convites para apresentar programas na MTV ao lado do irmão – antes disso o cantor tinha experimentado a vida de celebridade ao participar e ganhar em segundo lugar o primeiro reality show do Brasil, Casa dos Artistas, exibido entre 2001 e 2004, no SBT.
O carisma e o apelo de Supla motivaram o programa Papito in Love, também na MTV, reconhecido como o melhor reality de 2015 pelo Prêmio F5 de Televisão e Internet Brasileira.
Mas ele parece estar cansado de ser reconhecido nas ruas como Papito. “O problema é que muita gente me confunde com celebridade. Comecei muito antes disso. O (falecido) Chorão (da extinta Charlie Brown Jr.) ia aos meus shows no (antigo) Caiçara, aí em Santos”, lembra.
Rap é o…
Compostas em cinco meses, ao violão, as 14 faixas de Diga o que Você Pensa vão do chill out ao pós-punk, passando pelo reggae e a country music, com letras em português e inglês. “Joguei tudo o que gosto nesse CD”, diz Supla. Ele próprio comenta música por música para a reportagem (quadro acima).
Ao falar sobre a faixa que dá nome ao disco, ele defende que o rock ainda é porta-voz da rebeldia.
“Tenho lido entrevistas de roqueiros passando a bola para o rap, que agora seria o estilo que sustenta a indignação. Rap é o caralho, eu faço rock minha vida inteira e sempre falando o que penso”.
Uma das bandeiras que levanta no novo disco é a legalização da maconha, na música Parça da Erva. “Sou a favor. Tem um monte de gente morrendo de cachaça nas ruas”.
