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Entrevista | Paulo Veríssimo (Distintos Filhos) – “O rock está se fortalecendo”

Às vésperas do lançamento de seu novo disco, a banda Distintos Filhos mergulha fundo na mente das pessoas, seus medos, angústias, dúvidas, paixões e esperanças em Exílio.

Para saber mais sobre o novo álbum e os planos da banda, a cena do rock independente e, de quebra, discutir o novo formato do mercado fonográfico, bati um papo com Paulo Veríssimo, vocalista e guitarrista da Distintos. Se Liga!

Isabela Taylor: Parabéns pelas músicas novas, Paulo! Um som muito atual.

Paulo Veríssimo: Pois é! E olha que te mandei só a mix. A gente ainda vai pegar a master. Mas o resultado vai ser bem aquilo mesmo. Tá bem diferente do nosso primeiro disco.

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IT: Isso! Achei as letras mais intensas. O próprio título, Exílio, é bem forte .

PV: Total! Aquelas músicas do primeiro disco escrevi com 16 anos, hoje já tenho 29. O Exílio não é tanto como se ausentar das coisas, é sobre se fechar para dentro. O primeiro disco era mais sobre romance e esse já é muito mais pessoal. Eu escrevi 90% do disco, o Ivo (baixo e voz) tem uma música nesse disco, sei lá.. acho que umas 70% das músicas são pessoais.

IT: Você compõe só as letras?

PV: Tudo! Temos um processo diferente na Distintos. A gente tem um estúdio aqui, uma sala nossa, então geralmente gravo tudo, todas as minhas ideias e mostro para o Ivo e o Marco (teclados). Daí a gente trabalha a harmonia e tal em cima do que eu fiz. Não escrevemos juntos. Eu até já tentei, mas não consigo. Eu acho até feio isso, meio egoísta, mas até hoje não consegui mesmo. Meio “síndrome de Paul McCartney”! [risos]

IT: Ué, mas se é o método que funciona, qual é o problema? 

PV: Sempre trabalhei assim, desde que comecei a compor. Sempre componho arranjo e música ao mesmo tempo. Tem gente que compõe os arranjos, acho até que o Ivo é assim, e depois vai começar a pensar na letra. Eu não, tem que ser tudo na hora, meio Chico Xavier, assim. [risos] De uma vez! Tem que baixar mesmo que é aí que funciona. E tem funcionado, né?!

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IT: Me fala do clipe de Não Leve a Mal. Ele é super direto. Dá um destaque muito bom para a própria música.

PV: A ideia era essa mesmo, soar meio como ao vivo. Foram poucos takes até. Nada de mais, é a banda tocando e ponto. Ele foi o primeiro single do disco. Nós lançamos ele no ano passado, já tem quase 20 mil views. Agora vamos lançar todo o disco e já estamos com planos de lançar outro clipe mais lá pra setembro. Estamos combinando umas animações com a empresa que fez toda a parte gráfica do disco e tal.

IT: Falando nisso, a capa é muito bonita!

PV: Pô, o cara conseguiu captar a mensagem! Tá tudo muito bonito! Mas eu acho que é tudo fruto dos que a gente amadureceu neste tempo, sabe? No primeiro disco a gente foi bem menos criterioso com várias coisas, inclusive com a arte. Acho que a diferença é que a gente fez o primeiro disco muito na emoção, na vontade. Este, a gente já sabe o que está fazendo. Não tem aquele frescor de juventude, mas tem um controle melhor sobre a arte que estamos produzindo. [risos]

Os dois são bons, né? É legal também esse lance de ser jovem e fazer as coisas, ser meio lúdico… mas prefiro a condição de hoje, onde você sabe o que está fazendo. Mesmo que às vezes eu ainda não saiba tudo. [risos]

IT: Mas esse processo é muito importante. Talvez, sem o primeiro disco, “Exílio” não fosse o que é.

PV: Claro! O primeiro disco foi uma experiência muito boa. Para uma banda completamente independente, sem nada, nem gravadora, nem produtora, fazendo tudo por conta própria, ele circulou bem! Tirando o norte, a gente tocou em todo o Brasil… tocamos em festivais, foi muito bom. Circulamos mais até do que eu ache que devíamos porque teve muita furada também. [risos] Mas tudo foi válido, estamos aqui por causa disso!

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IT: Furada é experiência! [risos]

PV: Total! Acho que a gente só aprende com furada. Coisa boa a gente tira muito pouco proveito.

IT: Vocês já estão planejando viajar com o novo disco?

PV: Já estamos com alguns shows fechados no Ceará. Agora no dia 18 de maio nós vamos fazer o lançamento digital em Brasília; dia 19, em Goiânia; dia 26 tocamos em Juazeiro do Norte; dia 27 no Crato, tudo Ceará. Dia 2 de Junho a gente faz Fortaleza e dia 3 tocamos em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ainda estamos tentando fechar shows em São Paulo, Curitiba e Florianópolis, provavelmente na primeira semana de setembro. Mas ainda estamos fechando o resto da agenda de shows.

IT: Quando você fechar um show aqui no Rio de Janeiro, avisa!

PV: Vou te falar: O Rio é um dos lugares mais difíceis, viu velho? Nunca consegui armar nada no Rio! Até queria encaixar mais para quando formos para São Paulo, tentar uma coisa menor, mais tranquila no Rio, mas vamos ver, né?

IT: Agora me conta das participações especiais: Como vocês juntaram pessoas tão diferentes num mesmo disco? João Suplicy, André Gonzales…

PV: Na real, quando a gente lançou o clipe de Deixa Acabar, do primeiro disco, trouxemos pra Brasília o Brothers of Brazil, projeto do Supla com o João Suplicy, irmão dele. Aí o João virou nosso brother! Quando fomos gravar o disco, acabou que coincidiu de fechar uns shows junto com ele. Eu fechei dois shows para ele aqui e nós fizemos dois shows juntos em Goiânia e Anápolis. Já tinha mandado a música, ele já tinha curtido… aí o João gravou com a gente.

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A questão do Móveis (Coloniais de Acajú) é que o Rogério, saxofonista do Móveis, toca com a gente, né? Eu já conhecia o André, ainda convidamos o Esdras, que também tocava no Móveis, para gravar uma música. O André topou e foi muito legal porque não é uma galera que a gente convidou por convidar, né? É uma galera que faz parte do nosso ciclo, tem todo um contexto.

Tem o Phillippe Seabra (Plebe Rude)… assim como tem a participação também de dois amigos nossos da Mamelungos, lá do Recife. Eles são muito amigos nossos! O Peu Lima, batera deles, veio gravar sete músicas com a gente porque a Distintos não tem baterista, né? Quem toca bateria nos shows é o Maicon, daqui de Brasília. Daí no disco o Peu gravou sete, o Maicon gravou duas e eu gravei uma, a Não Leve a Mal. O Thiago Hoover, também da Mamelungos, fez um solo de guitarra em uma das músicas. Foi bem natural, foi rolando. Tipo: “Essa música eu pensei em você, o que você acha?” e a galera foi topando.

Você ouviu Bem Mais Feliz? Essa foi a que o André dividiu o vocal comigo! Até porque as vozes são bem parecidas, né?

IT: Sim! E é uma música que combina muito com o trabalho do André!

PV: Total! Esse foi um dos motivos do convite. Essa música é tipo uma comédia romântica mesmo. Uma música pra cima com uma letra de desprendimento. Uma música que eu escrevi pós o primeiro disco. Eu tava saindo de uma relação de oito anos assim que lancei o primeiro disco.

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IT: Eu ia comentar isso! É um trabalho que gira muito em torno de desilusões amorosas também… pelo menos as músicas que você me mandou são assim.

PV: O primeiro disco tem muita coisa de desilusão e muita coisa de amor mesmo. Um lance meio lúdico. Namorei com uma mulher dos 16 aos 24, então foi um período enorme na minha vida. Foi um baque, mas ao mesmo tempo foi bom porque rendeu boas músicas. Foi bom que quando eu separei a temática mudou também, né? Eu tenho muito isso, pelo menos. Eu não consigo escrever uma música assim, sobre uma maçã verde, sei lá. [riso]  

Eu tenho que ter vivido aquela parada, ou alguém próximo de mim viveu e eu presenciei. Mas o bom é isso, as temáticas vão mudando. Eu vou ser pai agora, a temática já vai mudar de novo! [risos]

IT: Aliás, que ano, hein? Disco novo, primeira filha… Muitas mudanças!

PV: 2017 chegou fodido! Só falta casar, né? Ainda não casei. [risos]. Mas quem sabe um dia? Vamos deixar a Estela nascer primeiro!

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IT: Voltando ao disco, li que vocês o gravaram em seis meses. Rápido, hein?!

PV: Na verdade a pré-produção dele vem de muito antes. Como eu já vinha gravando essas músicas, quando a gente sentou para definir a ideia, já tínhamos umas 40 músicas gravas. Então, assim, o processo de composição veio de antes, mas o processo de gravação foi de seis meses, que é até um pouco longo se você parar para pensar.

Mas foi tranquilo porque a gente já chegou sabendo o que tinha para fazer. Apesar do primeiro disco ter sido mais rápido, foi um processo que a gente ainda tinha dúvidas. Hoje não, chegamos no estúdio, gravamos e pronto.

O processo do Exílio vem de antes, desde que lançamos o primeiro disco, já estamos gravando material para o segundo, mesmo que sem querer. Quer dizer uns 5 anos compondo. [risos] Acho que a gente tem que viver pra compor, né? Algumas músicas que ficaram de fora que eu adoro, só que não estão dentro da temática, da ideia do disco. Não dá pra lançar um disco diferente dentro dele mesmo, sabe? Fechar as músicas demanda um pouco de tempo.

Se você pensar, já temos músicas para mais 2 discos! Acho que foi mais um processo de escolha do que de composição. Por mim, eu tinha lançado um disco muito mais pesado, eu comecei a compor muita coisa pesada, mas os meninos me frearam. Eu penso em lançar coisas fora da Distintos, mas, ao mesmo tempo, sou muito centrado. Acho que a gente tem que dar os pontos na hora certa, sacou? Acho que o nosso próximo disco vai ser mais pesado que este, que eu já acho um pouco pesado.

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IT: E qual foi a participação do Phillippe Seabra neste processo todo?

PV: Na verdade, o Seabra tem um papel mais de técnico de gravação do que de produtor com a gente. Eu faço a primeira parte de produção completamente sozinho, gravo as músicas do jeito que eu acho que ficariam legais, e aí os três membros da banda trabalham as músicas juntos: Eu, Ivo e Marco. Depois é que chega no Seabra! Ele dá um pitaco aqui, outro ali, mas é mais questão de timbres e coisas do gênero.

Ele tem um puta arsenal de guitarras, tem um puta estúdio… é mais um lugar pra gravar do que para produzir. Tanto que a assinatura do disco é da gente com ele, né? O primeiro é assinado só por ele.

IT: Isso é bom porque vocês garantem a identidade do som da banda!

PV: Claro! E ele é muito tranquilo com relação a isso. Até brinca que a gente só vai lá pra dar dinheiro pra ele porque não tem trabalho nenhum! [risos] E como eu também gravo, muitas das vezes a gente gravou e ele não tava nem no estúdio, sacou? Eu tava lá fazendo toda a parte de gravação com os meninos, captando áudio.

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Ele ajudou muito, mas ele é mais um mentor da banda. Tipo: “Acho que se vocês forem por aqui fica melhor…”, ou “é por aqui, mas eu não vou te falar o caminho. Vai lá e faz!”.

IT: Nossa, mas isso é um diferencial enorme! Imagina quantas bandas queriam esses toques?!

PV: Nossa, claro! O cara trabalhou com o Herbert Vianna como produtor dos dois primeiros discos da Plebe. Gravou na EMI, que era um dos maiores estúdios da época. Ele tem uma vivência de estúdio, de gravação, que é foda! Goste ou não de Plebe Rude, que muita gente não gosta… não é o nosso caso, crescemos ouvindo isso. Eu acho que ele é um cara que precisa ser escutado. E tem dado muito certo!

Que nem você falou na matéria sobre a Dona Cislene, a nossa cena tem muito apoio dos medalhões do rock e isso é bom, véi! Estamos criando uma cena com o respaldo de uma galera legal pra caramba. Aliás, eu acho que daqui há uns cinco anos Brasília vai ter uma cena de bandas importantes nacionalmente porque tá fervendo! Nunca o circuito autoral foi tão bom. A galera é correria, todo mundo interessado, trabalhando. E acho que cena não se faz de gosto pessoal. Tem banda aqui que não tem nada a ver com o meu som, mas soma! Assim como foi nos anos 80 e 90, sabe? E cada vez a galera tá fazendo mais o que você acredita e fazendo bem feito.

Há uns anos atrás tinha muita coisa ruim, mas não de gosto, tipo mal gravado, sacou? Sem critério. Agora você ouve o disco da Scalene e tem um puta som. Dona Cislene? Puta som. Distintos? Puta som. Tem uma banda chamada Vitrine que também tem um puta som. E não destoa das outras bandas grandes! Acho que já já a gente chega no mainstream, graças a Deus! Porque eu não aguento mais sertanejo!

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IT: Com isso, eu não me preocupo muito, porque acho que o mercado funciona em ondas, ciclos. Assim como a lambada saiu de moda, eventualmente outros estilos que estão em voga poderão sair também…

PV: Sim, e o que é bom vai se manter, sacou? O Raimundos surgiu num momento completamente adverso, no meio da febre do axé music e foi a maior banda de rock do país daquela época na minha opinião. Tudo é muito relativo. O que eu percebo é que as pessoas não são bobas. A maioria, pelo menos! [risos] Quando o trabalho é feito de forma verdadeira, quando você tem um critério, um zelo pelo que faz, elas vão reconhecer.

Eu tava falando isso com o nosso tecladista: A gente nunca sentiu tanto feedback sem ter uma divulgação maciça, sabe? Mesmo há tanto tempo sem lançar disco, tem rolado uma onda de muita gente interessada no nosso trabalho e isso é bom, mostra que as pessoas estão procurando coisas novas. Acho que, nacionalmente, o rock está se fortalecendo.

IT: Você não acha que a questão gira muito mais em torno da dificuldade que as pessoas tem de consumir música independente do que o que está moda ou coisa do tipo?

PV: Com certeza! Todo mundo vai pelo mais fácil, mas eu acho que tá mudando. As pessoas não assistem mais TV como antigamente, por exemplo. Esse processo vai atingir mais a música. Porque da mesma forma que tem gente interessada no Wesley Safadão, tem gente interessada em ouvir rock, ouvir rap… ouvir um som novo. E tem pra todo mundo, sacou?

Eu não consigo acreditar que as pessoas deixaram de gostar de rock. Talvez porque ainda não tenha tido uma grande banda no mainstream nos últimos anos… mas é muito preguiçoso dizer que o rock morreu. Onde as pessoas estão procurando rock? Na Jovem Pan? Pode até ser que bandas despontem e apareçam, mas me fala qual foi a última banda que você viu nesses lugares? Sem ser NX Zero, essas coisas… A última que eu considero, foi o Raimundos.

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IT: Mas aí você me quebra porque não pode falar do NX Zero e nem da galera que foi muito popular na geração deles, pô!

PV: Eu respeito o trabalho deles, acho o último disco deles bom, mas não tem o que bandas como o Raimundos tiveram. Eles foram mainstream sem perder a qualidade, sacou? O último disco deles que é mais pop, é foda! Mas assim, me refiro ao Raimundos como mainstream até a saída do Rodolfo! Tudo bem que na época não tinha internet nem nada, mas a última banda que eu vi em Faustão, Gugu… foram eles, véi!

IT: É muito complicado porque era um mercado diferente, um jeito diferente de consumir música, de contabilizar o sucesso também…  já que era só pelo número de discos vendidos. Hoje em dia, até a venda de disco é relativa…

PV: Essa mudança é muito boa porque faz as pessoas buscarem o que querem, independente de mídia. É bom pra gente, inclusive.

IT: É bom porque quem consome música de nicho agora pode ir a eventos, festivais desses nichos!

PV: Total! Muitos festivais fodas no país. Tem a Casa do Mancha, em São Paulo, que é pequena, mas é um sucesso, com shows fodas. Até porque, mensurar o sucesso é muito relativo. Pra mim, o Cícero é um sucesso. Por mais que muita gente não o conheça, pra mim ele tem uma carreira de sucesso. Assim como Silva, Tulipa Ruiz, essa galera… o cara faz show pra 500… 1.000 pessoas… e estão sempre tocando. Isso pra mim é sucesso!

Pensando bem, acho que a última banda que conseguiu um sucesso maciço foi o Los Hermanos… impacto maior que o deles, aí acho que só a Legião Urbana mesmo! Dessas bandas que tem público xiita, sabe? Que canta todas as músicas, vai em todos os shows… mas é porque são trabalhos muito verdadeiros. As pessoas se identificam!

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Véi, teve uma época que todo mundo soava igual o Los Hermanos… mas eu acho que isso é um jeito de medir o tamanho de uma banda: Quando as outras começam a soar igual a sua. Até o Charlie Brown Jr. teve esse tipo de impacto nas outras bandas!

Aliás, nós fizemos com eles um dos últimos shows deles, lá em Rio Claro… que pena que essas bandas acabam, né? Se bem que acho que elas não acabam. Elas vão para um patamar e a gente fica aqui tentando alcançá-las! [risos]

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