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Crédito: Evandro Feliciano

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Entrevista | Juliane Hooper – “Expresso minhas emoções através da música”

A cantora paranaense Juliane Hooper fez sua estreia, no último dia 30, com o álbum Soulful, que traz canções autorais em inglês e português. Famosa por seus vídeos de releituras de outros artistas, Juliane virou a chave com os singles Soulless e Wasting Away, que tiveram grande repercussão.

Representante da neo soul brasileira, Juliane Hooper havia preparado o lançamento de um EP, quando percebeu a importância de cada faixa escrita e a evolução que o trabalho estava tomando junto com a produção de Julio Mossil. Durante um ano, a artista buscou sonoridades, letras, referências que a representassem cem por cento. E isso, permitiu que o álbum tivesse mais a sua cara.

Em entrevista ao Blog n’ Roll, Juliane Hooper falou sobre a mudança na carreira, influências, popularização do jazz, entre outros assuntos. Confira abaixo.

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Qual foi o ponto de partida para trocar os covers pelo trabalho autoral?

Acho que chegou um momento que aquilo ficou meio chato digamos assim, ficar fazendo cover e tal. Eu queria um desafio para mim mesma, queria criar algumas coisa que fosse gostar, então, até chegar nesse álbum e tal, fiz bastante música.

Fiz bastante coisa, mas não foram lançadas por exemplo, só agora que foi lançado, então foi um processo de aprendizado. Então quis me desafiar, acho que primeiro foi isso. Depois quando julguei que tava legal com qualidade, pensei em lançar um álbum mesmo.

Seu álbum de estreia, Soulful, traz muita influência de soul e jazz. O que norteia essa produção?

É difícil colocar só um estilo, mas tem bastante influência de soul e jazz, acho que atualmente seria classificado com neo soul, mas tem bastante artistas que gosto muito. Tem os clássicos do jazz, como Nina Simone, Ella Fitzgerald, Etta James, que são mulheres que gosto muito.

Minha cantora preferida é a Lauryn Hill e tem um cara antigão, que não é muito famoso aqui no Brasil, o Gil Scott-Heron, é uma pessoa que me influenciou muito.

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De brasileira, a Liniker, gosto muito do som dela, então me influenciou bastante no processo, é um som que gosto muito, acho que as maiores são essas que falei.

O jazz está voltando a crescer no cenário mundial, a Samara Joy, que ganhou o Grammy de artista revelação, representa muito isso.

Sim, com certeza. É muito legal isso porque é uma coisa que aqui no Brasil acho que não tem muito, né? Pelo menos não no mainstream. É muito bom isso porque costumo falar que é o som que pessoas mais velhas curtem normalmente, então desde que comecei, todo mundo falava: nossa você é tão nova e gosta desse tipo de música? Mas sempre foi o que mais gostei.

Comecei cantando rock. Fiz minha primeira banda de rock e foi como comecei a cantar, mas cantava de tudo um pouco. Era uma banda de rock, mas já tinha um soul e blues ali no meio. Logo depois, quando decidi que queria compor, fui ir por esse caminho do soul, jazz, blues, gosto bastante de ska também, hip hop, RAP.

Quando você perguntou como saí do cover para o autoral, também foi uma coisa que mudou completamente a minha vida porque não tocava, né? Quando comecei a cantar, só cantava, tinha minha banda.

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Já tinha comprado um violão quando estava na faculdade, porém comecei a tocar com uma amiga, que me ensinou umas duas músicas simples. Mas desisti por um tempo porque era muito difícil.

Só que aí isso começou a me encher o saco depois de um tempo porque queria ser meu próprio karaokê, queira cantar cantar várias músicas, mas queria tocar. E aí isso me incentivou, fui pegando as músicas que gostava de cantar e aí com o tempo foi ficando mais e mais fácil. Isso também foi o que me ajudou na hora de compor, porque até existem pessoas que compõe assim sem tocar, mas acho que facilita muito, você fica mais independente.

Meu baixista Matheus Lima me ajudou muito nisso tudo, durante a pandemia ele me deu aula de teoria, violão e tudo isso foi enriquecendo. O processo desse álbum também foi longo, era para ser um EP, e como artista independente sem grana, é sempre difícil então por isso que demorou tanto pra ficar pronto e ser lançado da melhor maneira.

Você tem um timbre de voz muito forte e marcante. Você chegou a fazer cursos de canto ou fez parte do coral da igreja?

Fiz aula de técnica vocal, e tenho certeza que mudou completamente a minha voz. Como comecei há uns anos assim, mas fiz durante 10, 11 meses as aulas e depois fui estudando sozinha mesmo.

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Soulful fala muito sobre emoções. A música é um campo terapêutico para você? Se sente mais confortável em expor sentimentos nela?

Sim, com certeza. Acho que expresso minhas emoções muito melhor através da música, da arte. Ou seja, só escrevendo poesia porque também escrevo, tem coisas que escrevo que não viram música ou não viraram música ainda. Então é um local que me sinto mais à vontade pra falar disso, é um álbum bem sentimental mesmo.

Na tua opinião, qual é a principal dificuldade no mercado fonográfico brasileiro? Por que artistas independentes demoram tanto para conseguir um lugar de destaque no mainstream?

Na minha experiência, que também é nova, porque não sou uma pessoa que começou a tocar e cantar quando era criança, todos os meus músicos tinham cinco anos e tinham uma guitarra já. Eu não, comecei quando tinha 23, 24 anos, comecei do zero, então nessa experiência desses sete anos, acho que é dinheiro mesmo. Até falo disso em uma das músicas, porque a gente precisa de dinheiro para investir na música, porque senão elas não chegam, tanto pra gravar, tanto pra pagar as pessoas, o produtor, a assessoria, enfim.

Tudo precisa, cada profissional tem o seu campo, a sua função e quando você coloca tudo em cima de uma pessoa, acaba ficando difícil, então tem o dinheiro, pagar para essa música chegar nas pessoas, porque é assim que o mainstream opera.

Então, aquela música que tá em primeiro nos charts, quanto de dinheiro não foi investido naquilo para chegar lá? Não é simplesmente porque as pessoas ficaram sabendo e uma mandou para outra, foi dinheiro, publicidade, ads.

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A primeira dificuldade é o dinheiro, a segunda é de ficar sobrecarregado porque a gente tem que fazer tudo, então 20% do que a gente faz hoje em dia é a arte, o que vira o produto. Os outros você têm que usar as redes sociais, ir atrás de show, tem que fazer todo trabalho que seria de outras pessoas num mundo ideal.

Sempre fui uma pessoa que precisei ter três empregos, por exemplo, para conseguir me sustentar, pagar aluguel, não tenho ajuda financeira de ninguém. Tudo foi feito sozinha, então sempre tive que trabalhar muito para conseguir me sustentar e também fazer arte acontecer.

A gente precisa dividir o tempo em todas as coisas, fazer dinheiro, ser ativo no Instagram, enfim. Você tem que fazer sua propaganda, mas sou uma pessoa que não gosto muito, faço por obrigação porque o trabalho vem da rede social, mas às vezes isso cansa nossa saúde mental.

Hoje, muitos artistas trabalham com lançamentos de singles e EPs, deixando o álbum cheio de lado. Você optou por outro caminho. O que mais impacta na hora de escolher o álbum cheio?

Ele é um álbum ainda curto, como era minha estreia, acho que não ia ser interessante lançar um álbum com 15 músicas porque é muito investimento que rola, muito trabalho, e queria trabalhar bem mesmo que fosse um álbum curto. São sete faixas, antes eram quatro, quando o Julio Mossil estava produzindo meu trabalho, a gente estava entre a segunda e a terceira música a se gravada. Um álbum de sete faixas é o mínimo e ele topou, gostou da ideia.

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Quais são os três álbuns que mais impactaram na tua formação como musicista? Por que?

The Miseducation, da Lauryn Hill, é um álbum histórico em muito sentidos. Foi muito sampleado por muitos artistas, é um álbum que gosto muito porque adoro a Lauryn Hill. Mas também porque todas as músicas pra mim são incríveis, gosto muito dessa mistura das rimas com o canto, é uma coisa que me agrada muito, principalmente as letras.

Falando do Gil Scott-Heron, que tinha comentado, tem um álbum de 1971, Pieces of a Man, que também tem essa mistura de canto com rimas e sou uma pessoa muito atraída assim por letras, então é um álbum de soul, jazz, mas sou muito atraída pelas letras, então tem letras muito fortes e políticas da época. Aliás, ele é um artista que admiro demais.

Back to Black, da Amy Winehouse, também é histórico. A Amy foi uma das primeiras artistas que comecei a acompanhar e gostar nesse estilo, com certeza me influenciou demais. É um álbum muito triste e melancólico, mas ela também tem essas influências de ska que gosto bastante.

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