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Crédito: Ana Karina Zaratin

Entrevistas

Entrevista | Nasi – “A música como nós conhecemos acabou”

Vocalista da banda Ira! e dono de diversos projetos paralelos, Nasi lançou seu nono trabalho solo na carreira. O novo disco, RockSoulBlues, tem oito faixas, totalmente composto por regravações de artistas que Nasi sempre admirou, como Zé Rodrix, Tim Maia, Erasmo Carlos, Jerry Lee Lewis e Martinho da Vila.

Nasi conversou com o Blog n’ Roll sobre a produção, inspiração e participações especiais do álbum. Além de ter dado sua opinião sobre a música atual, relembrou uma curiosa história em Santos.

Como foi o processo de produção do álbum, Nasi?

Primeiramente quero dizer que faço discos para mim, sem uma arrogância ou prepotência, mesmo porque hoje não se ganha mais dinheiro com disco. Eu tô super satisfeito com a resposta que tenho no Spotify e outras plataformas, mas sei que isso aqui não é nada. Sei também que muitas pessoas gostam do meu gosto musical, gostam do que faço no Ira!, do que faço na minha carreira solo.

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Não são 50 milhões, eu não sou um influencer graças a Deus, mas sou um cara que tem um público que gosta da minha visão musical, portanto, faço discos primeiramente para mim.

Pode não parecer nada, mas nos últimos anos temos lançado discos. Em 2020, lancei o disco do Ira!, em 2022 lancei Nasi & os Spoilers, agora lanço este disco. Na verdade, comecei a produção dele no final de 2022, foi um disco devagar, é um disco de intérprete, diferente dos meus outros discos.

Como foi a produção das músicas?

Fui fazer uma versão do Martinho da Vila, uma música que queria cantar, mas era óbvio que não ia cantar samba. Eu tentei fazer blues dela, não deu certo, ficou meio forçado, aí tentando essas coisas percebi que a divisão do country e do samba são próximas, então eu fiz uma versão ether.

O meu coprodutor e engenheiro de som do disco, o Jeff Berg, ele tem uma banda de old country, tradicional como Johnny Cash. Queria cantar Folsom Prison, do Johnny Cash, então essa faixa o Jeff fez o baixo e todas as guitarras com os músicos dele.

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Quis gravar também uma versão de Dias de Luta, uma versão blues, não o blues de Chicago, mas blues soul music, estilo Joey King, Albert King. Sou muito fã do Igor Prado, com quem já gravei dois discos anteriores e é um cara que comprou o blues/soul/funk, então chamei ele e nós bolamos essa onda essa coisa bem Al Green.

Tem mais três músicas que queria que tivesse um arranjo mais clássico do que o original, e aí chamei o Marcelo e seus músicos do Rio de Janeiro. Eles gravaram comigo a versão do Rosa SelvagemO Que Você Quer Apostar e Eu Não Te Quero Santa. Chamei o Johnny Boy para a música do Zé Rodrix (Devolve Meus LPs), era muito diferente o original. O original era rock’n‘roll, e eu imaginava uma coisa mais anos 1950. Para mim o Johnny é o melhor pianista de rock do Brasil. 

Com esse álbum de intérprete, como é transitar entre essas músicas com diferentes estilos de música? 

Elas parecem diferentes, mas não são. Uma frase que gosto muito fala assim: “O blues é a raiz, os outros são as frutas”. Na verdade é a minha raiz, sempre gostei de country, mas a minha raiz, apesar de ter nascido no punk rock, é o blues. O blues me apresentou o som, que me apresentou o funk, então isso é o avanço da música negra americana.

Você tem uma longa carreira como artista, como foi a transição dos LPs, CDs, rádios e streaming?

Sou muito da antiga, sou o cara que pensa, e isso posso falar em nome do Ira!, a gente pensa ainda com conceito de álbum. Pode até ser que o Ira! daqui a pouco lance um single, mas o nosso normal não é assim, nosso normal é pensar no disco, foi assim que o Ira! fez em 2020, é assim que o Edgard faz os trabalhos dele, é assim que faço meus trabalhos solo.

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Outro dia até lancei um single, mas foi uma coisa que quis gravar aleatório, quase entrou no disco que fiz com os Spoilers. Inclusive, uma outra coisa que não percebi, esse não é meu quinto trabalho solo, é meu nono trabalho solo. São nove álbuns, é uma carreira, o Ira! tem 12 álbuns. Então tenho sucesso, sucesso não é vender milhões, sucesso vem do italiano e significa suceder, sucedi na minha carreira solo. Quantas bandas tem nove álbuns? 

Agora vi todas essas transformações, e acho péssimo. Não vou deixar de fazer música do jeito que faço, sou um clássico. Não gosto de saudosismo, mas agora lamento os tempos de hoje. Hoje a garotada não tem mais incentivo para ser compositor, instrumentista, a não ser que seja de heavy metal, que tem um nicho, mas no geral tem auto-tune. Não sei se você já ouviu falar que as bandas sertanejas contam com uma voz que eles cantam por cima, já ouviu falar disso? A música como nós conhecemos acabou.

Acho que a atual geração se acostumou com este tipo de coisa também.

É um choque de geração, meus pais falavam das músicas que eu ouvia, minha mãe quebrou um disco do Ramones na minha cabeça. Não quero parecer o tiozinho que fala que a música de hoje não é música, mas que não é, não é.

Tem alguma história marcante aqui por Santos? 

Tenho sim. Tenho muitos amigos aí do Charlie Brown, Chorão, Champignon, entre outros. Tinha um lugar aí em Santos chamado Heavy Metal, era um antigo cinema, no andar térreo de um edifício. Era um dos melhores lugares para tocar, todas as bandas iam tocar lá, Paralamas do Sucesso, Gang 90, o Ira! tocou lá, e sempre existiu essa rivalidade São Paulo e Santos, hoje menos.

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Uma vez, eu que sou muito amigo dos Titãs, fui num show com eles lá no Heavy Metal, e era uma época que eles usavam batom, maquiagem. Na plateia tinha o que hoje nós definimos como bolsonaristas, uns ogros. Os caras começaram a xingar os músicos porque eles estavam maquiados, um dos Titãs respondeu o xingamento. Só sei que na saída deu um pau com os caras, sabe briga de saída de estádio? Nem lembro se bati mais do que apanhei, naquela época devia ter uns 22 anos. Era divertido nessa época, meu apelido é Nasi porque brigava muito no colégio, hoje sou filiado ao PCdoB, sou macumbeiro (risos).

Consegue citar três álbuns mais importantes para você como músico?

The Clash, do The Clash, esse foi o álbum que me fez querer ter uma banda. Outro é o disco Hard Again, do Muddy Waters, produzido pelo Johnny Winter. O Johnny Winter foi o responsável por me fazer entrar no blues, ainda como adolescente, porque gostava dele. Ele faz uma ponte entre o rock e o blues e comecei a escutar Johnny Winter, então esse álbum praticamente introduziu o blues na minha adolescência.

Por fim, Raising Hell, do Run-D.M.C., esse pra mim é um dos clássicos do hip hop, o disco perfeito do hip hop, me fez me interessar e virar o primeiro produtor do rap nacional.

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