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Entrevista | Viper – “O Viper está em um novo nível”

Após 16 anos sem lançar um álbum de inéditas, a banda Viper soltou o álbum Timeless, no último dia 26. O disco com 11 faixas é o primeiro trabalho com a nova formação, com os integrantes Leandro Caçoilo (vocal) e Kiko Shred (guitarra), que se juntaram a Pit Passarell (baixo e vocais) e Felipe Machado (guitarra), fundadores da banda, além de Guilherme Martin (bateria).

Em conversa com o Blog n’ Roll, os integrantes do Viper falaram sobre a produção do novo álbum, histórias curiosas em Santos, falta de apoio da mídia mainstream, além da sonoridade nostálgica, mas refrescante de Timeless.

Quinze anos sem um álbum do Viper. O que motivou esse retorno tão aguardado?

Pit Passarell – Vontade de fazer o que a gente sempre fez bem. Fazer música, a gente estava num hiato. E é trabalhar as músicas que a gente sempre gostou de fazer, o rock, o heavy metal, estar em contato com o público. É uma banda muito importante, a gente tem história. Então, a gente demorou um pouco por vários motivos: crise econômica, pandemia; mas o que tínhamos que fazer era um super disco, e a gente fez.

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Felipe Machado – Esse tempo todo, esses 15, 16 anos, na verdade parece mais longo no papel do que na realidade, porque quando nós lançamos o All My Life, em 2007, a gente saiu numa turnê longa com ele até 2010.

Em 2012, a gente já começou o projeto da turnê de volta do André, também foi uma turnê muito longa que gerou disco ao vivo, DVD ao vivo e tal. Daí o André saiu, o Leandro já entrou, daí teve um período aí de quatro, cinco anos até sair esse novo disco.

Então, claro que o disco demorou 15 anos e é um longo tempo, 16 anos é um tempo muito longo, mas pra gente ele parece ter passado mais rápido do que se você olhar simplesmente para o número. A gente tava na atividade, não é como se a gente estivesse parado e daí voltou depois de 16 anos.

A gente não deixou de tocar nesse tempo todo, às vezes parava alguns meses, alguma coisa entre shows e turnês, mas o período inteiro sem parar a gente estava na turnê do All My Life, depois a turnê com o André, a volta do André, o lançamento do disco ao vivo, CD ao vivo, e aí a preparação para esse disco novo.

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Claro que no meio tempo teve a pandemia. Desses 16 anos, vamos lembrar que dois ou três anos foram praticamente de pandemia que atrapalharam bastante. Esse tempo foi mais longo pra quem tá de fora do que pra quem tá de dentro.

Pit Passarell – Trabalhando a gente estava, mas pra fazer um disco é um pouco difícil, mas é aquela coisa, o passado, esses últimos 15 anos parecem que não passaram.

O que nós fizemos agora foi um super disco, um grande disco e finalmente a gente pode comemorar ter feito uma coisa bacana com novos músicos, com Leandro no vocal e o Kiko na guitarra, o Guilherme.

O Felipe e eu somos do tempo que ralou, mas eles também ralaram muito nessa vida para chegar aonde estão e o talento que eles têm, então a gente está muito orgulhoso.

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Timeless também agrada muito pelos encontros com Hugo Mariutti, Yves Passarell e Daniel Matos. Como foi entrar no estúdio com eles?

Guilherme Martin – A galera começou a entrar no projeto à medida em que as músicas foram ficando prontas. Sempre repito isso, no processo da criação do Timeless, tudo foi acontecendo durante o processo.

Os convites para as pessoas que participaram, fomos nós achando que tinha música que tinha a cara do Hugo, do Fábio Ribeiro, do Dani Marques, do Nando, da Natasha. As músicas nasceram e a necessidade de nós botarmos convidados foi acontecendo naturalmente.

Pit Passarell – Canto umas músicas, o Leandro não, a parte Viper é a formação, aí o irmão do André, sim, a Natasha, que tem a música Thaís e tem haver com a minha esposa que faleceu. Elas eram grandes amigas e por toda aquela coisa foi fluindo.

Nando, o Val Santos, que já tocou com o Viper várias vezes, então vamos chamando e vai agregando. O Hugo Mariutti tocou, gente que gosta da gente, e a gente gosta muito dessas pessoas. Então, o Viper tem essa coisa de união, essa coisa de reunir para celebrar, é uma menção ao que é o Viper.

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Felipe Machado – Tem uma coisa assim, às vezes as bandas chamam participação especial de uma pessoa estranha, que pode agregar na divulgação do disco. Chama uma pessoa de outra banda para fazer uma colaboração, o que chama a atenção dos fãs.

A nossa ideia não era essa com as participações, a nossa ideia era chamar pessoas que tinham a ver com a história da banda, tinham a ver com todo esse nosso processo. Músicos importantes e que têm uma história com a banda, então essa coisa familiar foi um critério para essas participações muito fortes.

Como foi o processo de criação e gravação do álbum? Foi muito complicado reunir toda a turma novamente?

Guilherme Martin – Quando começou o processo todo da criação de Timeless, a gente tinha muita vontade de fazer um disco, mas não tínhamos músicas suficientes para fazer um disco. Então tudo foi acontecendo, no começo, o projeto tinha duas músicas, além do nome do disco. Tudo que aconteceu depois disso foi aonde a gente chegou agora, todo mundo entrando com contribuições, músicas de todo mundo da banda.

O Pit entrou com seis músicas novas, o Felipe tinha as duas músicas, incluindo o tema. Aliás, ele saiu com mais uma música ali pra frente. O Leandro entrou com música, então tudo isso acabou contribuindo, acho. O processo da pandemia acabou sendo importante pra gente.

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Pit Passarell – Com parênteses, né? Foi importante pelo tempo de ficar confinado, só pensando no mesmo objetivo.

Guilherme Martin – Talvez se o mundo não tivesse acabado, e a gente não tivesse em um estúdio juntos, se fechado porque não tinha outra coisa para dar atenção, os projetos paralelos não iam funcionar nessa época.

Pit Passarell – A gente não podia fazer show. Sabe o que é uma banda não poder fazer show? Você perde sua renda, então a gente se concentrou. Eu tô com o piano, ele na bateria, o Kiko na guitarra e aquela coisa de que não pode sair na rua.

Então, a gente ficava assustado, a gente se fechou na música, por isso esse disco é tão especial, da gente ter se focado. Lógico que é legal ter a liberdade, mas a gente fez isso. Cada um pensando nas letras, nas músicas, um carinho que a gente tem, é o senso de sobreviver, você tem que sobreviver de algum modo e o músico sobrevive com a sua música. E o processo foi cair uma lata e eu imaginei um ritmo. Foi isso (risos).

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A sonoridade de Timeless é nostálgica, mas mostra um Viper renovado de energia. Não é um trabalho que soa datado, muito longe disso. Essa era a intenção de vocês?

Pit Passarell – Eu sempre sou um pouco meio ousado, então botei umas coisas mais dos anos 1980, algumas coisas diferentes, mas as referências das músicas são do Felipe e do Leandro. Eu tento sempre uma referência em respeito ao passado, mas falei tipo, ‘eu não vou ficar tanto nos anos 80 documental, vamo empurrar um pouco para uma sonoridade diferente’. E conseguimos.

A gente fez o seguinte, não só nas minhas músicas, mas em todas as músicas que compuseram: fizemos questão de ter uma ideia clara do que é antigo, mas não ficar no estereótipo e ficar datado, isso é a morte de uma banda pra mim.

Fazer a mesma coisa sempre é legal. Fazer a mesma coisa não, mas você pega um AC/DC ou um Motörhead, eles sempre fazem, mas sabem surpreender, nós soubemos surpreender também. Não estamos vivendo na lama do passado, estamos olhando pro futuro.

Felipe Machado – Essa sensação de nostalgia, na verdade, é porque é um disco do Viper em 2023. Então, ele não pode esquecer que é um disco do Viper, ele é um disco que remete às coisas que a gente já fez. Nós somos as pessoas, alguns não, mas, enfim, é disco que foi muito o que o Viper já foi e ele também olha pra frente.

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Por isso que acho que esse nome Timeless faz muito sentido nesse momento. Ele tem essa coisa nostálgica que as pessoas pensam porque elas pensam nas coisa que o Viper já fez, mas é o disco que olha pra frente, não tem nenhuma música parecida com outras músicas do Viper.

Ela tem o estilo e as referências que marcaram o Viper ao longo dos anos. A sonoridade é muito moderna, né? O produtor, o Maurício, ele conseguiu tirar um som muito fresco e muito novo, muito atual.

Pit Passarell – Crescemos como músicos escutando novas coisas, mas a gente não queria fazer um pop new wave, nada contra, a única coisa que a gente queria fazer era o seguinte: ‘vamos ver o timbre das coisas’, todo mundo sabe como as coisas funcionam.

A gente tem que pegar novos sons, novos fãs. Não só os velhos fãs, os filhos dos nossos fãs. Mas tem que falar assim: ‘molecada, vai detonar sua cabeça’. Tem que fazer isso com a nova geração que entende que nós estamos aqui.

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Então isso que o nosso projeto faz pro futuro é falar que essa banda é nova, estão ouvindo como se estivessem ouvindo pela primeira vez. O Viper tá muito bom, esse disco tá muito bom.

Guilherme Martin – O processo da gente trabalhar com um produtor foi importante para a sonoridade do disco. A gente tirou um pouco aquela história de só ter a visão da banda, acho que os últimos discos do Viper foram uma visão fechada nossa. Dessa vez a gente pode trabalhar com alguém que pudesse trazer visão de fora.

O meu irmão foi produtor do disco, Maurício Cersósimo, vencedor do Grammy pelo álbum Amarelo, do Emicida. Só que ele é meu irmão e acompanhou a minha carreira dentro do Viper, é um fã da banda também. Ele fez com toda paixão como se fosse um integrante do Viper, ele conhece o som do Viper, ele acompanhou, enfim.

Acho que a parte dele foi muito importante na sonoridade, não só nas composições, mas na sonoridade do resultado final do álbum. Uma mixagem é algo muito importante num disco, além das composições.

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Tem vários exemplos, o Iggor Cavalera, quando me mostrou o Roots, falou ‘meu, eu não to gostando disso daí’. Quando passou pela mixagem do Andy Wallace, virou o que virou, então acho que essa parte de mixagem, de ter um produtor envolvido, foi uma experiência muito legal para esse resultado final do Viper.

Pit Passarell – O Rick Rubin fez isso no Nirvana, ele conversa muito com Kiko, muito com o Leandro, conversou muito com você para fazer as coisas acontecerem. Temos um bom produtor, um bom time, um bom vocalista, o Leandro é unanimidade nacional, né? Ele é maior que eu. A única coisa é ter união e paixão pelo que se faz porque as pessoas têm que comprar essa ideia de que o Viper está em um novo nível, um patamar novo.

Guilherme Martin – A gente muda, alguns não, mas a gente muda e a gente tem certeza que está mudando para melhor.

O Viper viveu um tempo áureo do rock, no qual o gênero tinha um alcance muito maior. O que falta para o rock ser forte novamente no País?

Pit Passarell – Fico triste com isso, lembro quando a gente estava no nosso momento, a gente fazia o Programa Livre, Hebe, vários programas. As bandas de rock tocavam em programas, hoje você não vê rock em TV. Esquece! Nem mesmo TV fechada, você não vê heavy metal, então a gente tá virando super underground.

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Se as pessoas souberem o quanto heavy metal é forte no Brasil, tantas bandas, a gente vai pra fora e tudo mais. Mas a gente não precisa dessa mídia aí enorme, essa mídia aberta ou fechada nunca tem rock.

A gente vai ter que ser resiliente, você não vai ver a gente no Faustão, nem outras bandas. Você tinha rock no Chacrinha, mas não tem mais rock na TV aberta, não tem mais rock, nem rock pop, só as antigas, Capital Inicial, Paralamas, Titãs.

Mas antigamente nós cavamos nosso espaço, vamos cavar sem precisar deles, é anarquia total, igual ao punk, que nunca precisou disso. Mas não adianta ficar esperando o que a gente não pode ter agora, vamos ter que fazer nosso próprio caminho.

Guilherme Martin – Tá precisando de um Sex Pistols ou um Nirvana aí chegando para quebrar tudo.

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Pit Passarell – O pessoal tá de saco cheio de lapisinha azul na piscininha, É O Tchan toda hora, acabou, música brasileira é muito maior que isso. A Crypta é uma banda que faz sucesso lá fora, tem o Ratos, Zumbis do Espaço, que você toca aí, inclusive. Tem que quebrar, se meu rock tá fora da mídia, ok, foda-se a mídia.

Pretendem excursionar com esse álbum? Existe possibilidade de vermos em Santos?

Guilherme Martin – Santos tem que passar. Viper tem história com Santos desde do começo, há 40 anos, temos amigos, temos muitas coisas.

O interesse é fazer o máximo de shows possíveis que a gente conseguir com esse disco, seja no Brasil ou fora, o Viper tem muito fã fora do país também. A última vez que o Viper foi pra Europa e Japão foi nos anos 1980, acho que tá na hora de voltar.

A gente tá entrando com um álbum que tem qualidade para competir com qualquer banda, uma formação que tem condições de competir com qualquer banda do mundo, então, com certeza, Santos e o mundo inteiro estão no nosso projeto.

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Guarda lembranças especiais de algum show do Viper em Santos? Alguma história curiosa?

Pit Passarell – A gente foi tocar no Vasco da Gama e o Chorão era o apresentador da rádio. Ele era como um MC do show, tava começando e foi uma das pessoas mais espetaculares que já conheci na face da terra. Infelizmente ele nos deixou, mas era um cara do bem, teve seus problemas pessoais. Mas essa lembrança do Chorão é marcante porque o cara era fã do Viper e aquilo me marcou.

Me lembro do show, ele agitava a galera e depois o Charlie Brown Jr virou a lenda que é. Então é uma das lendas que temos, André Matos e Chorão, que um dia eu seja uma lenda também.

Guilherme Martin – Tenho uma história engraçada. Uma vez eu e o Pit fomos num evento da MTV em Maresias e o ônibus ia voltar para Santos, no dia que teve aquele show M2000 em Santos (1994).

Tava com o Pit no ônibus e ele pediu para parar o ônibus em Cubatão para a gente descer e ir a pé até Santos. Aí passou um carro e viu que era o Pit, deu carona para gente até Santos, onde foi o show do M2000. Isso não consigo esquecer nunca. Ele falou: ‘para o ônibus que eu vou descer aqui’, e eu caí na dele e fui junto.

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Você consegue listar três álbuns que foram fundamentais na tua formação como músico? Por que?

Pit PassarellBurn, do Deep Purple, Paranoid, do Black Sabbath, além do primeiro do Iron Maiden, que me fez começar a tocar baixo.

Guilherme MartinMaster of Reality, do Black Sabbath, Kill ‘Em All, do Metallica, e o Rocket to Russia, do Ramones. Todos esses estilos juntos são o que mais gosto de rock.

Leandro CaçoiloCreatures of the Night, do Kiss, Piece of Mind, do Iron Maiden, além do Painkiller, do Judas Priest.

Kiko ShredBritish Steel, do Judas Priest, Rising Force, do Yngwie Malmsteen, além do 1987, do Whitesnake.

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