A cantora e compositora Flavia K lançou, no último dia 20, o álbum Universo Suspenso. O disco tem participação especial de Rashid, Filó Machado, III Camille e Robinho Tavares. Aliás, a artista também pôs a mão na massa durante todo o álbum, foi a diretora, produtora, compositora e cantora em todas as faixas.
Em conversa com o Blog n’ Roll, Flavia K falou sobre as suas músicas favoritas do álbum, além de destacar a colaboração de outros artistas e divulgar datas de novos shows em agosto.
Como foi o processo de produção do novo álbum?
O processo de produção foi lento, comecei a compor em 2020, antes da pandemia, algumas músicas, algumas melodias, algumas ideias até porque já estava no embalo do meu disco anterior, Janelas Imprevisíveis. Então, estava criativamente bem, fazendo um monte de coisa e aí entrou a pandemia. Todo mundo deu aquela travada e em algum momento, ali na metade de 2020, resolvi continuar o processo.
Então, por exemplo, O mundo se moveu, que é uma das faixas do disco, foi um single nessa época em 2020, mas já estava prevista para estar dentro do disco. Aí no meio de um monte de loucura, pandemia, muitas perdas, muitos B.O.s aqui, tive que pausar aqui e não consegui continuar o processo.
A ideia era o disco ter saído antes, mas consegui voltar a trabalhar no disco agora em 2023, então uma parte foi gravada entre 2020 e 2021, várias faixas foram gravadas nessa época. Em 2023, finalizei, inclusive o conceito do álbum Universo Suspenso, aquelas faixas de entrada, de interlúdio e de saída, veio depois.
Eu já tinha as músicas, já tinha a ideia do álbum, a linguagem que queria, também já tinha as temáticas que queria falar, mas ainda não tinha algo que fechasse o laço do disco.
Essa ideia do Universo Suspenso, já tinha esse nome na cabeça, mas ainda faltava alguma coisa que fechasse o laço, que conseguisse amarrar tudo. Então vieram essas faixas de introdução, de interlúdio e de final, que realmente convidam a pessoa pra entrar ali naquele universo e aí isso veio agora em 2023.
E também a faixa muito sou(L), com Rashid, também veio agora em 2023, aí foi isso. Em 2021, a gente gravou várias faixas, mais ou menos acho que a metade do disco, acho que um pouquinho mais da metade do disco.
Como foi cantar com artistas como Filó Machado, Robinho Tavares e Rashid?
O Rashid é um amigo já há um tempo e passei a cantar na banda dele, entrei como backing vocal, divido os com a Aya na banda do Rashid quando ele faz o formato de banda completa, então estava no Lollapalooza.
A gente se aproximou bastante, mas a faixa Muito Sou(L) surgiu na pandemia. O Rashid estava criando várias coisas e me chamou assim ‘olha eu tenho essa faixa aqui que eu acho que tem tudo a ver com você, você grava o refrão pra mim?’ Aí gravei o refrão de casa, mandei pra ele, mas ele acabou não usando a música.
No entanto, gostei muito, quando veio pra mim, amei a música, tinha tudo a ver comigo, tudo a ver com o meu som, com a minha linguagem. Fiquei com aquilo na cabeça e aí quando fui fechar o disco, lembrei dessa música e perguntei pra ele: ‘O que você acha de eu colocar no meu disco?’.
Aí a gente acrescentou mais uma parte minha, acrescentei outras coisas que tivessem mais a ver com a minha linguagem, mas é uma honra pra mim. Ele é um artista que admiro muito, além de trabalhar junto, estar sempre junto e ter uma amizade.
O Filó Machado mais ainda, grande mestre. A gente se aproximou na pandemia, também pela internet. A gente já se conhecia, ele já tinha me dado vários conselhos e falado várias coisas que guardo e levo comigo. Aí resolvi convidá-lo para participar de alguma faixa do disco, ainda não tinha a faixa, mas ele aceitou na hora.
É um mestre mesmo, um gênio da nossa música, um cara extremamente generoso. Quando a gente foi gravar, ele teve o maior cuidado, amou o som, quis criar mil coisas para todas as outras participações do disco.
A Camille é uma rapper californiana que curto muito, já a assisti no Tiny Desk há muito tempo, então nem imagina, você nem acredita que um dia você vai ter um feat com uma pessoa dessa. Você assiste, curte, no caso de todos os feats do disco, é assim, pessoas que admiro e tive essa alegria, esse prazer de ter essas pessoas somando no meus sons.
Qual música mais gostou de produzir e por que?
Que pergunta difícil, me diverti fazendo… vou tentar falar uma: Serena Espera, porque essa não é composição minha, é do pessoal da Marisol Muabá, e ela me enviou o violão e voz desse som. Falei ‘puts, incrível, amei’.
Sentei e comecei a pensar, definir a tonalidade pra minha voz, que não foi exatamente a tonalidade que ela me enviou do vídeo. É uma música muito louca, não sei se vai dar para entender, mas ela começa em cinco, então ela não é um, dois, três, quatro; ela é um, dois, três, quatro, cinco; e aí depois ela vira em um, dois três, quatro.
A Marisol tem umas ideias loucas, ela é incrível, então fiquei pensando em como vou fazer a produção disso pra ninguém achar que é complexo demais. Tem essa complexidade rítmica, então quando fui pensar na produção dela, queria trazer esse ar de diversão, para que as pessoas não percebessem que elas estavam ouvindo algo e pensassem ‘ah, isso é muito difícil, eu não consigo entender, eu não consigo ouvir’.
Queria deixar de uma forma que qualquer pessoa que ouça, curta, se divirta. A produção dela tem muitos contrapontos de guitarra, programação de percussão que fiz, a linha do baixo, tem muitas linhas rítmicas acontecendo ao mesmo tempo. Por isso que gostei de produzir a Serena Espera.
Como foi fazer tantas coisas para o disco, como produzir, dirigir e cantar? Se sentiu sobrecarregada?
Muito, completamente, você já viu como que a minha cabeça funciona (risos), então você imagina só como que fico quando estou neste processo, muito sobrecarregada.
Nessa última fase, fiquei muito sobrecarregada, meu olho ficava tremendo, três meses seguidos de estresse. Mas é o trabalho do artista independente e procuro fazer o melhor possível. Quero fazer a melhor entrega possível, então participei de todos os processos: dirigi o disco, produzi a maior parte das faixas. A produção é você arranjar aquele som, ter ideia para aquilo, definir os instrumentos, gravar os instrumentos, gravar tudo aquilo depois, mandar pra mix, participar do processo de mixagem e, depois da masterização do disco inteiro, ainda participei do projeto visual que teve uma diretora de arte, mas eu estava presente em todos os processos.
Pus a mão na massa em todos os processos do disco até o final: redes sociais sou eu quem faço, então é uma sobrecarga enorme, fora outros trabalhos que vem da minha carreira autoral, é bastante coisa, mas acho que pra quem é artista independente, é isso mesmo. Se a gente quer fazer um trampo legal, entregar o melhor possível para o público, é isso que tem que ser feito.
O disco tem muito do estilo Neo-Soul e do R&B alternativo, quais suas principais inspirações?
Muitas, acho que de música brasileira, na parte de composição e produção, são João Donato, que infelizmente acabou de partir. João Donato é uma grande referência pra mim de composição, construção de harmonia. O Marcos Valle também, a banda Azimuth. São todos meio no soul, tem essa carinha soul, principalmente Azimuth e Marcos Valle.
De neo soul, Moon Child, Solange e Jazmine Sullivan. Também me inspiro em muitos artistas novos de neo soul e R&B, além dos mais antigos que inspiram muito.
Tem planos de excursionar com o novo álbum? Tem planos para vir a Santos?
Quero muito ir pra Santos, tem festival de jazz de Santos, tem o Sesc. Já fui para Santos algumas vezes assistir outros artistas, então vai ser um prazer ir pra Santos.
Vai ter o show de lançamento do álbum no dia 31 de agosto, no Blue Note, em São então Paulo, então dá pra vocês colarem porque é pertinho. Vai ser bem legal porque vai ter participação do Rashid e do Robinho Tavares.
Cite três álbuns mais importantes para sua formação como musicista?
Muito difícil essa pergunta, três álbuns é muito pouco, mas vou dizer: Sunlight, do Herbie Hancock, o Nós, que é um disco do César Camargo Mariano com a Leny Andrade. Por fim, Songs In The Key Of Life, do Stevie Wonder. Mas tem muitos mais, é muito difícil, essa pergunta não é justa.