No ultimo sábado (11), Santos recebeu o maior festival itinerante do underground brasileiro, o Garage Sounds. O evento contou com a participação de 16 bandas, sendo sete da Baixada Santista. Os shows tiveram início às 18h e foi realizado no Arena Club.
Mistanásia abre o Garage Sounds

A primeira banda a subir nos palcos foi a santista Mistanásia. Mesmo com público pequeno, o trio formado por Guz Oliveira, Fábio Carcavalli e Victor Wronski fez uma apresentação consistente.
Com muita energia, intensidade e crítica social, o grupo tocou 12 músicas, sendo uma delas Meritocracia, canção que estará presente no próximo disco da banda.
Devido ao atraso na liberação da entrada na casa de shows, o público só conseguiu acompanhar pouco mais da metade da performance. Uma pena! O show poderia ter ficado mais interessante. Mesmo assim, a Mistanásia não deixou a desejar.
Blackjaw abre o palco B do Garage Sounds

Iniciando com alguns problemas técnicos, devido às falhas das caixas de som e da bateria, a Blackjaw foi o segundo nome a se apresentar. Abrindo o palco B do evento.
O supergrupo, formado por Ravi Fernandes, Juliano Amaral (Old Rust), Thiago Nascimento (Ex-Fuerza), Daniela Gumiero (Ex-Analisando Sara e The Last Memory) e Aritai Machado (Soul Mate), mostrou porque mereceu seu espaço no evento.
Com suas músicas energéticas, todas cantadas em inglês, o quinteto cativou o público, que tendia a aumentar cada vez mais. Em seu repertório, rolaram as principais faixas de cada registro, com foco maior no último, Anticlimax (2017).
Além de tudo isso, os santistas vieram com duas novidades no set. Ambas agradaram o público. Mesmo com constantes falhas técnicas, a Blackjaw se mostrou comprometida em fazer um grande show. E conseguiu.
Cannon of Hate e uma participação incrível

De volta ao palco A do Garage Sounds, a Cannon of Hate retomou as rédeas das músicas em português com seu hardcore melódico. O quarteto cubatense iniciou a apresentação com dois integrantes a mais.
Na primeira música da noite, Marcela Borges (Vesta) subiu aos palcos para uma participação. Mesmo com problemas no microfone no início do show, ela conseguiu mostrar todo o grande potencial sonoro.
A outra participação, essa do início ao fim, foi de Gabriel, filho do Anderson de Souza, baterista da Mar Morto. O menino curtiu o show com uma guitarra de brinquedo, no palco.
Hardcore com muitas críticas sociais foi a aposta do grupo, o que acabou dando certo. A interação entre público e banda garantiu um resultado animador, com a galera batendo palmas e até iniciando o mosh pit da noite. Certamente, um dos melhores shows da noite. Se alguém não conhecia Cannon of Hate, agora conheceu.
Dinamite Club, o pop punk da noite

O Garage Sounds não podia estar melhor representado de pop punk brasileiro com o Dinamite Club. Sendo a quarta banda a se apresentar, os paulistanos mostraram ao que vieram. Com muitas músicas conhecidas, o público conseguiu apreciar pouco mais de 20 minutos de um excelente show.
O repertório foi de Tiro e Queda à Nós Somos Tudo o que Temos. Um prato cheio para os fãs da banda. Apesar de ter uma pegada mais leve, comparada às bandas anteriores, o grupo formado por Bruno Peras, Márcio Rodrigues, Jaime Xavier e Eric Matern soube se mostrar tão boa quanto. Fez uma grande apresentação, mesmo com pouco tempo de palco.
Statues on Fire: petardos e críticas

Uma das bandas mais aguardadas do evento, a Statues on Fire também teve problemas com a passagem de som e demorou para iniciar. A banda, que foi fundado por ex-membros do Nitrominds, importante nome da cena dos anos 1990 e 2000, subiu ao palco com 20 minutos de atraso.
A forte intensidade das canções, todas em inglês, fez com que o palco A ficasse pequeno para tanta energia. A plateia, que crescia ao longo do show, continuava tímida e espalhada, porém mostrou animação no coro puxado pelo vocalista e guitarrista, André Alves.
Com críticas ao governo e ao presidente Bolsonaro, a Statues on Fire terminou sua performance com Marielle, um petardo sonoro com a pergunta: quem matou Marielle (vereadora carioca assassinada há mais de um ano)?
Paura foi pra galera

A sexta banda a se apresentar foi a primeira a fazer o público se aproximar e se movimentar pra valer. A paulistana Paura começou sua apresentação criticando o fato de ter uma cerca de metal que impedia a interação do público com a banda.
Com muito peso em suas músicas, o vocalista Fábio Prandini fez críticas ao governo e mostrou muita presença. Ele pulou a cerca e foi cantar em meio aos fãs, deixando os seguranças da Arena Club em pânico.
Fábio também fez coro e pequenas participações vocais com Marcus Vinicius, cadeirante conhecido por acompanhar todos os shows em frente ao palco, no chão, balançando a cabeça e se jogando entre as pernas dos presentes no mosh.
O Paura passou os 27 minutos do show de forma energética, intensa e extremamente hardcore. Intensidade resume bem essa apresentação.
Mars Addict, a surpresa do Garage Sounds

Mars Addict foi a banda com a melhor passagem de som até então, tocando logo em seguida de Paura, sem pausas. Garage Sounds fez com que a edição santista fosse bem diversificada e o grupo marciano caiu como uma luva.
Com um punk rock rápido e bem pra cima, o quarteto contou com um integrante ilustre: Matheus Krempel, vocalista e guitarrista do The Bombers. Ele, que já havia participado do novo single da banda, Drix Goes To Italy, ficou responsável pelas guitarras e backing vocals.
Matheus tornou o show bem mais humorado, fazendo a Mars Addict conquistar o público com seu som diferenciado. Os quase 30 minutos de som, com uma pegada anos 1990, fizeram com que o grupo não fosse ofuscado pelas outras bandas. No fim, foi um dos melhores shows da noite.
Vulcano, uma instituição do black metal

Eleita a maior banda da história da Baixada Santista pelo Blog n’ Roll, a Vulcano chegou ao palco B destruindo tudo.
O black metal, gênero um pouco distante do hardcore, não fez o público se dissipar. Na verdade, rolou o contrário. O potencial e reconhecimento em presenciar uma banda de tal nível fez com que os presentes ficassem impressionados.
Com um vocal bastante poderoso e instrumentistas tão fortes quanto, a Vulcano tocou seus maiores hits, incluindo músicas do primeiro disco, lançado em 1986.
Para uma banda acostumada a tocar em eventos internacionais de grande porte, o grupo não deixou por menos, deu o seu melhor. O resultado foi muito barulho, gritos, cabeças balançando e muitas palmas.
Surra, peso e problemas técnicos

Na metade do evento, a Surra subiu ao palco para fazer o seu tradicional show. Escorrendo pelo Ralo deu início ao mosh, o primeiro desde o início do evento. Com um thrashcore extremamente rápido e pesado, a Surra amplificou suas críticas. Cubathrash colocou os fãs para correr nos famosos circle pit.
O trio santista trouxe no repertório petardos em sequência. Mesmo com falhas técnicas interrompendo o show no meio (problemas que haviam desaparecidos nas apresentações anteriores), o grupo formado por Leeo Mesquita, Guilherme Elias e Victor Miranda não desanimou e continuou a entregar pedradas com classe.
Merenda encerrou os 28 minutos de pura intensidade. Se a grade de proteção não existisse, o show do Surra seria mais animado ainda.
Esteban: o momento dos namorados

Antecipando o seu show em 30 minutos, Esteban, ex-integrante da Fresno, trouxe um clima mais tranquilo para o evento, com um som calmo e romântico. Sem perder o peso em cada batida, deixou o evento cada vez mais alternativo.
O público, um tanto quanto menor em relação às demais bandas, estampava a frase Keep Emo Alive (mantenha o emo vivo), camiseta exclusiva de Esteban.
A cada música, a plateia batia palmas e cantava junto com o gaúcho. Esteban pode ter diminuído o ritmo frenético e agitado que o evento vinha apresentando, porém o público fiel e forte não perdeu em nada a animação, fazendo coro em cada música. Foi o momento dos casais curtirem.
Mar Morto e o retorno do pequeno Gabriel

Única representante com front girl do evento, a Mar Morto agradou em cheio com o vocal de Alinne Santos. Hardcore melódico com certo peso, críticas sociais em suas letras e um forte vocal resumem a apresentação do grupo praia-grandense.
Amigas desde sempre, Mar Morto e Cannon of Hate não podiam deixar a parceria de fora e fizeram um feat emocionante. A apresentação também contou com a participação de Gabriel, filho de Anderson, que arrasou mais uma vez em sua performance de guitarrista. O menino ainda soltou a voz, mostrando que o futuro na música é certo.
Molho Negro arranca a grade

Destaque do último Lollapalooza Brasil, a Molho Negro mostrou a atitude característica da banda no palco. Natural de Belém do Pará, o grupo iniciou a apresentação fazendo o que já deviam ter feito desde o início do evento: retirou a grade que separava o público do palco.
Porém, por mais que a multidão tenha gostado, não foi uma atitude que agradou os seguranças. Logo na sequência, eles retiraram o pessoal e recolocaram a cerca.
Mesmo separados, fãs e artistas entraram em forte sintonia graças ao som pesado, distorcido e sarcástico do trio, que ainda fez coro com a plateia.
Se a Baixada Santista não conhecia a Molho Negro, com certeza eles vão embora de Santos com muitos novos fãs. Também não tinha como dar errado. O vocalista e guitarrista, João Lemos, se mostrou tão performático como suas músicas, derrubando os pratos da bateria, jogando a guitarra e discutindo com os seguranças.
Bayside Kings: no próximo é tudo em português

A santista Bayside Kings foi a última banda da região a se apresentar no Garage Sounds. Eleita a terceira maior banda do século 21 da Baixada Santista pelo Blog n’ Roll, a banda mostrou o que se esperava.
Quem disse que Milton Aguiar iria ficar em cima do palco, atrás da grade? Logo depois da primeira música, foi para o meio do mosh cantar. Circle pit, 2tep e muito energia marcaram a apresentação.
A Bayside Kings deixou um recado importante no fim do show. “Na próxima vez que a gente voltar, vai ser em português”.
Se a Baixada Santista precisava terminar em grande estilo sua participação no evento, a Bayside Kings foi uma escolha acertada.
Zander: ainda tinha fôlego na pista

A antepenúltima banda a se apresentar foi a queridíssima Zander. Os cariocas trouxeram seu estilo alternativo com muito peso para o palco. Com letras cheias de produtividade, a banda conseguiu conduzir a plateia, já cansada dos 13 shows anteriores.
Cantos, aplausos, gritos e energia do público emanavam, parecendo que era o primeiro show da noite. A sensação é que a Zander tinha dezenas de vocalistas.
O quarteto encerrou com Até a Próxima Parada. Os quase 30 minutos foram poucos para um público que queria toda a discografia naquele momento.
Hateen fecha o palco B do Garage Sounds

Fechando o Palco A, o quarteto paulistano Hateen trouxe em seu setlist a mistura de todos os seus discos, fazendo com que todos os fãs cantassem juntos.
Claro que 1997, maior sucesso da banda, não ficaria de fora. E foi o ponto mais alto do show. Todos cantando, filmando e dançando, tudo em sintonia.
A Hateen tocou no momento certo do evento. Um hardcore melódico com peso na medida certa, cantado em português, era tudo o que o público queria. Dito e feito.
O Arena Club não esvaziou e todos puderam acompanhar uma grande performance do Hateen.
Glória encerra o Garage Sounds
Se o Garage Sounds queria encerrar a edição de Santos de forma pesada, conseguiu. De todo o lineup, talvez a Glória fosse a decisão mais correta. A banda subiu aos palcos às 2h e, felizmente, com a maioria do público ainda na casa.
Com seu hardcore pesado, o grupo conseguiu satisfazer todos que ali ficaram tocando as músicas mais famosas e alguns sons do Acima do Céu, último disco lançado.
A maneira de alternar entre cantar de forma mais melódica e também gutural na mesma música é clássica do Glória. Ao vivo, o vocalista, Mi Vieira, nos berros, e Elliot Reis nas cantadas, conseguem mostrar toda o potencial. Esse é um dos grandes motivos para o sucesso da banda.
Balanço final do Garage Sounds
A dificuldade em reunir 16 grandes bandas, de estados e gêneros diferentes deve ser enorme. Por isso, o preço do ingresso do Garage Sounds estava um pouco salgado, fato que impediu um público maior.
Para uma cidade na qual o rock estava respirando por aparelhos, um festival como o Garage Sounds pode vir a ajudar muito.