*FABRÍCIO DE SOUZA
Aconteceram coisas inusitadas no show do Lagwagon em Santos, em 2000. À época, a banda já era um dos ícones do hardcore melódico californiano e integrante do cast da gravadora Fat Wreck Chords, do vocalista e baixista do Nofx, Fat Mike.
A primeira coisa inusitada foi a mudança de local. Anteriormente, costumava fazer os eventos no Bar do 3, mas a casa não tinha a data que eu precisava. No entanto, o dono da casa, que era muito parceiro, conversou comigo sobre a possibilidade de levar o show para o Mistura Fina, outro local bem conhecido da noite santista naquela época, além de vizinha do Bar do 3.
Fui lá conversar com o pessoal do Mistura Fina, mas o que me preocupava um pouco era o tamanho do local. Era um pouco menor que o Bar do 3 e o palco era bem baixinho. Como sabemos, o público santista adorava os “stage dives”. Mas definindo um número limitado de pessoas, daria pra rolar. Então fechei com a casa.
Chegando no dia, quase todos os ingressos já estavam vendidos. A procura tinha sido bem grande. Dava pra ver que seria uma grande festa.
A chegada do gigante
Como sempre, cheguei cedo no local para agilizar a passagem de som. Posteriormente veio o pessoal da banda com a equipe própria. Tinha uma pessoa que chamava mais a atenção, o guitarrista Chris Flippin. Além de ser conhecido por sua irreverência e ser um grande guitarrista de hardcore melódico, ele também é gigante. O cara tem quase 2,10m de altura.
Eles passaram o som tranquilamente, sem surpresas. Logo após os levei ao hotel, no Gonzaga. Voltei em 30 minutos para o Mistura Fina. Quando estava chegando na porta da casa, avistei mais lá na frente, no próprio Canal 3, o gigante Chris Flippin voltando sozinho a pé. Impossível não avistar ele de longe.
O surto
Ele a quase duas quadras, mas todo mundo na rua olhando pra ele. O cara chegou bem adrenalizado e empolgado. Começou a querer arrancar o orelhão telefônico que tinha em frente à casa. O orelhão ficava pequenininho perto dele. E nós, da produção e da casa, olhava um para o outro, meio que dizendo por olhares: “quem vai ter a moral de ir lá falar com esse cara para parar?”.
Até que uma moça que estava por ali, chegou nele dando uma baita bronca. Ela devia ter no máximo 1,60m de altura, mas ele não entendia nada do que ela falava. E também não parava de querer arrancar o orelhão. Até que ela pegou ele pelo braço, mas ele olhou dando risada pela coragem dela. Então parou. Depois deu uma abraço nela. Ufa! Foi uma cena de David e Golias com final feliz.
Falsificação para ver o Lagwagon
À noite, quando a casa estava aberta e recebendo o público, vim caminhando pelo Canal 3. No quarteirão do Mistura Fina, um cara me chamou e perguntou se queria ingresso. Falei que precisava de uns cinco. Então ele tirou um bloco do bolso. Na hora meti a mão nos ingressos e peguei todos que estavam com ele. Eram falsificados. Falei que ele tinha dado azar, pois ofereceu ingresso falsificado para o organizador do evento. O cara se assustou e saiu correndo pelo Canal 3.
Isso foi pontual para o andamento normal e seguro do evento. Pois como citei lá no começo, existia a preocupação com a capacidade da casa. Conseguimos identificar a diferença na falsificação a tempo e ninguém com ingresso falso conseguiu entrar. Foi realmente muita sorte!
Certamente, para o público santista, foi um privilégio ver um dos ícones do hardcore melódico mundial, no auge da carreira. À época, o Lagwagon estava divulgando o álbum Let’s Talk About Feelings.
Os integrantes do Lagwagon tocaram empolgados e numa vibe tremenda. Um clima bem punk rock! O Fun People (Argentina), Hateen e Rubbermade Ducks também tocaram naquela quarta-feira. Mais um show pra ficar realmente na memória da Califórnia Brasileira.
*Fabrício de Souza é baixista do Garage Fuzz e foi responsável pela vinda de vários shows internacionais a Santos.