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Entrevista | Abraskadabra – “Em crise a gente vê quão órfão de governo a gente é”

A banda Abraskadabra tem montado um currículo e tanto: turnês internacionais que incluem Japão, Estados Unidos e Europa, músicas tocadas em 68 países por mais de 22 mil ouvintes segundo o Spotify, trilha sonora do X-Games na ESPN… Tudo isso sem contar os inúmeros shows pelo Brasil.

O grupo de ska-punk nasceu em Curitiba e é uma das bandas confirmadas no Juntos Pela Vila Gilda. O Blog N’ Roll conversou com Rafa Buga, guitarrista do Abraskadabra, sobre quarentena, música e sua participação no festival.

Como foi o início da sua carreira? Quais foram as principais dificuldades?

Foi meio comum, aquele esquema de colégio, montar banda com os amigos. Tive umas três bandas antes do Abraskadabra, a diferença é que comecei um pouco mais cedo. Tocava violão desde os 9 anos e banda é presente na minha vida desde os 12, então não sei o que é minha vida sem (risos).

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No Brasil nada é fácil né, mas a gente também cria uma casca mais grossa. Acho que o mais difícil no início era conseguir espaço pra tocar e poder criar uma ceninha, um público mais fiel.

Devemos muito ao maravilhoso JR, dono do 92 graus aqui de Curitiba, que foi o primeiro e sempre abriu as portas pra gente. Essas pessoas são importantíssimas.

Quais são suas maiores inspirações?

Difícil ir citando, são vários. Mas tudo que é verdadeiro e interessante pro meu ouvido. Gosto muito de pensar em termos de composição, a simplicidade complexa dos Beatles, Queen. Tenho escutado muito Specials, Frenzal Rhomb também. Gosto de muita coisa, todos eles me inspiram e me instigam a me puxar mais.

A pandemia atrasou algum projeto que tinha em mente? Como os artistas podem minimizar os impactos dessa fase tão difícil?

Sim, o Abraskadabra estava com uma turnê marcada pela Europa em julho/agosto, e tudo levava a crer que seria a turnê mais legal até então. Porém, obviamente tivemos que adiar pro ano que vem; triste, mas pelo menos está de pé ainda.

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Não tá fácil, ficar longe de viajar pra tocar/ensaiar pra mim é o que pega mais, e pra diminuir os impactos eu sinceramente não sei. Financeiramente é complicado, a gente tem colocado umas coisas novas na loja, entramos nessa de live uma vez ou outra, mas não é a mesma coisa, esses covers de galera não me atraem também.

O que pra mim tem sido melhor é focar nas músicas novas, trabalhar na base, no nosso disco novo pro início do ano que vem. Acho que é isso o que posso tirar de melhor desse momento, refletir melhor sobre si e talvez melhorar certos hábitos.

E como tem sido sua quarentena?

Introspectiva e careta (risos). Tenho lido muito, acho que é o que mais faço. Além disso tenho focado muito no nosso disco novo, muito arquivo rolando de lá pra cá, um mandando pra outro.

É um processo diferente, mas tem sido bom. O problema é o tédio que muitas vezes é inibidor da criatividade, mas aos poucos tá saindo.

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Tenho escutado bastante coisa também, cavocando muita coisa antiga. Tem rolado muito The Muffs, Zeke, Kill Lincoln, Suicide Machines que lançou disco novo esse ano, muito Queen, Specials, Dag Nasty. Tempo não falta.

Falando em livros, quais são os títulos que mais curtiu?

Na maioria romance. Li uns contos também e agora tô numas biografias: Memórias do Subsolo e O Jogador do Dostoievski, Duas Viagens ao Brasil do Hans Staden, Em Busca de Curitiba Perdida do Trevisan, Pergunte ao Pó do John Fante, que não tinha lido ainda.

A biografia do Ozzy, que é de se cagar de rir, Viagem à Roda de Mim Mesmo do Machado de Assis, Doutrina de Choque da Naomi Klein. Acho que foi isso, e acho que Memórias do Subsolo foi o mais sinistro, apesar de ter gostado de todos. Agora estou lendo o On The Road With The Ramones.

Qual a data prevista de lançamento do novo disco? Como tem funcionado as gravações?

Atualmente acho que estamos com umas 12 músicas, nem todas devem ir pro disco e mais um trilhão de rascunhos. Antes da pandemia estávamos conseguindo ensaiar e produzir bastante em estúdio normal. Agora a parada mudou, cada um no seu canto, então temos usado a tecnologia a nosso favor.

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O Maka, nosso baterista, comprou até uma bateria eletrônica que tava namorando há tempos. Tá aquele tal de mandar arquivo pra lá e pra cá, e tem sido bom, mas falta um pouco a energia de estar com os instrumentos todo mundo junto.

A ideia é fazer mais algumas coisas pra poder entrar em estúdio, ou melhor, ir pra um lugar afastado qualquer pra gravarmos nós mesmos. E nesse ínterim pensar melhor no álbum como um todo. Temos conversado com uns selos e vai ser legal. Nossa ideia é lançar ano que vem na primeira metade, se tudo der certo e a pandemia deixar. Daí é botar o pé na estrada!

Atualmente existe um mito de que o rock e o punk são gêneros com dias contados. O que pensa sobre isso?

Pergunta difícil. Já pensei algumas vezes sobre isso e é visível que estão cada vez mais encolhidos. A nova geração não tá crescendo com aquela parada de banda, ter bateria em casa, que a nossa época cresceu, rodeado por esse tipo de som, MTV, etc.

Hoje eles montam um estúdio em casa e fazem música eletrônica ou outro tipo de coisa. Mas eu acho que isso uma hora enche o saco, e onde tem adolescente, o punk vai estar presente.

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Sempre foi uma atitude e não só um estilo específico. E isso sempre tem rolado e nunca vai sair, com o rock a mesma coisa. Costumam ser ciclos, mas fora do mainstream o que não falta é banda nova por aí.

Que mudanças teremos daqui pra frente, pós-pandemia? Quais lições podemos tirar desse momento?

Não tenho ideia de que mudanças acontecerão, mas lições temos várias. Em crise que a gente vê quão órfão desse governo podre a gente é, quanto egoísmo, falta de preparo, e quão vulneráveis nós somos.

Tudo fica mais visível na sociedade, e acho que é a principal hora de olhar pra dentro, pra fora e repensar várias coisas, prioridades. Espero muito que sirva de um grande aprendizado pra humanidade.

Pro Abraskadabra, qual a importância de eventos como Juntos Pela Vila Gilda?

É fundamental, principalmente por essa ausência e descaso do Estado, ter projetos como esses que realmente estão fazendo a diferença pelo Brasil, chegando nas periferias e dando o suporte pra quem mais precisa.

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Muito obrigado por estarem movimentando tanto por uma causa nobre e importantíssima como essa. É um prazer o Abraskadabra fazer parte, e espero que a gente traga alguma diversão pra quem estiver assistindo e ajude a causa de alguma forma.

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