Annie Clarke, mais conhecida pelo peculiar nome artístico de St. Vincent, trouxe o que talvez ainda se possa chamar de vanguarda musical à edição deste ano do Lollapalooza, em São Paulo. Nada do que ela apresentou logo no primeiro dia do festival tem como se repetir, ou mesmo chegar perto de se assemelhar, nos dois dias restantes.
St. Vincent faz a ponte entre a matiz mais sofisticada das cantoras-compositoras de pop alternativo atual, do qual o melhor exemplo é Lana Del Rey, e os experimentos pós-modernos do art-rock nova-iorquino do início da década de 80. Nesse último, ela tem duas referências óbvias: o eletro-minimalismo da multiperformática Laurie Anderson e a new wave cerebral de David Byrne.
Não à toa, St. Vincent gravou um álbum com o ex-líder do Talking Heads. Ambos fazem um som ao mesmo tempo acessível e que contém muito mais ideias do que se vê na superfície. Foi assim o show que a norte-americana fez na noite de sexta-feira, diante de um público pequeno, para os padrões do Lolla, mas comprometido com o que se passava no palco.
Fotos: Camila Cara (Equipe MRossi / Divulgação)
Longe da obviedade dos cenários da maioria das bandas do festival, ela mostrou vídeos surrealistas que complementavam o sentido da sua performance. Sozinha, acompanhada apenas por uma base eletrônica pré-programada, St. Vincent empunha uma guitarra e toca com muito mais convicção – sem mencionar que faz solos melhores do que a maioria dos guitarristas que andam por aí.
Trazendo basicamente o repertório de seu último e bem-sucedido álbum, Masseduction (2018), ela foi, de saída, uma atração muito superior à média de uma edição do Lolla que trouxe o não-rock (e sub-MPB) dos Tribalistas. Que a maioria do público tenha preferido a opção de Carlinhos Brown em outro palco, no mesmo horário, só mostra como o festival, de vitrine ‘indie’ autêntica, vai se transformando num evento trivial e pouco comprometido com a música que deveria privilegiar, em primeiro lugar.