Qualquer cinéfilo sabe da importância do clássico Laranja Mecânica (1971) para a história do cinema. Apesar da adaptação dirigida por Stanley Kubrick deixar de fora vários aspectos do livro escrito por Anthony Burgess, a película tem um grande peso até os dias de hoje por diversos fatores.
A violência e o sexo ao contar a história de Alex DeLarge (Malcolm McDowell) e seus droogs é algo que chocou o público ao redor do mundo. Da mesma forma que a trilha sonora composta por Wendy Carlos (na época Walter Carlos) chama a atenção por misturar a música clássica com sintetizadores. Algo bastante inovador na época.
E todas essas características ficam bem claras no trailer original do longa. Confira:
https://youtu.be/ut6CAVrR5Q8
Apesar de ser um delinquente juvenil, Alex tem um excelente gosto musical. E por ele ser o narrador da sua própria história e amante de música clássica, temos a impressão que ele que escolheu cada tema para as cenas como uma forma de realmente ter uma trilha sonora para os seus pensamentos.
Por exemplo, o protagonista é um grande fã de Ludwig van Beethoven. O compositor alemão aparece por diversas vezes durante todo o filme. Seja ao ser citado pelo protagonista ou quando Wendy Carlos pega suas composições e adapta para o contexto do filme.
Em uma das cenas, como um adolescente qualquer após um dia “tranquilo”, Alex senta no seu quarto e começa a ouvir a Nona Sinfonia (Segundo Movimento) no seu stereo. Contudo, o personagem começa a ter pensamentos fora dos padrões.
Outros compositores de renome participam do longa. A famosa cena inicial de Laranja Mecânica traz seu tema principal, uma versão com elementos eletrônicos de Music for the Funeral Of Queen Mary, composta originalmente pelo inglês Henry Purcell em 1695. Junto com o diálogo de Alex, ela transmite todo a atmosfera oferecida por Kubrick ao espectador. Realmente, de arrepiar.
Uma das coisas que impressiona em diversos momento de Laranja Mecânica é como a música clássica e a narração calma do protagonista trabalham durante cenas tensas de violência. Um exemplo disso é a luta entre os droogs de Alex contra a gangue de Billy Boy ao som de La Gazza Ladra (The Thieving Magpie) do italiano Gioacchino Rossini.
Outra cena que ficou marcada pela violência e a música é quando Alex e seus droogs invadem a casa do escritor. O personagem canta I’m Singing In The Rain de Gene Kelly enquanto está produzindo um verdadeiro caos.
Curiosidade: Ao gravar a cena, Kubrick pediu para McDowell improvisar uma canção. O ator então decidiu cantar a famosa canção do musical Dançando na Chuva, pois estava com ela na cabeça. O diretor achou a cena tão “perfeita” que apenas depois de pronta que ele pensou em pedir a autorização para seu uso. O que não foi algo fácil devido ao contexto.
Laranja Mecânica ficou marcado por levar para os cinemas um texto bastante pesado de Anthony Burgess, apesar de distorcer muitas mensagens que o autor queria transmitir em seu livro. Como na maioria das cenas que usei nesta matéria, a violência e o sexo acabaram sendo colocado em primeiro plano por Kubrick. Ainda sim, o longa entrou para história do cinema.
Sua trilha sonora apresentou para o grande público boas referências de música clássica e mostrou o inicio da música eletrônica. Mais adiante, o material de Wendy Carlos influenciou muitas bandas de Synthpop com seus teclados e sintetizadores. Philip Oakey, líder do Human League, se refere a trilha sonora como inspiração para os seus primeiros trabalhos da banda.
Então, conheça melhor a trilha sonora desse clássico e até a próxima semana: