ISABELA DOS SANTOS
Ouvir o EP Acúmulo sobre Críticas sem sombra de dúvidas é relembrar o Rap das antigas. O trabalho foi divulgado em 30 de março e resgata a vibe no flow, nas letras e no interesse pelas questões e acontecimentos sociais. A proposta de Sepe, novo na cena da Baixada Santista, representante de Praia Grande, além de resgatar a sensação de escutar Rap nos anos 2000, é falar sobre a política e temas de interesse público com base em informações e dados coletados por meio de um trabalho de pesquisa para construir a mensagem.
“Meu objetivo é que os ouvintes pensem sobre o assunto e criem opinião em cima das informações passadas. É um trabalho de pesquisa, porque quando você fala sobre estatísticas, órgãos públicos e manutenção do Estado precisa ter propriedade. E com isso consigo mastigar a informação para passá-la de uma forma muito mais explícita e compreensiva para o público”, explica.
O lançamento conta com quatro faixas. A primeira e mais curta é a intitulada Senso Crítico. Logo após podemos ouvir Preces sem Apreço que aborda o período de intervenção militar no Rio de Janeiro e a constituição de milícias e todo aparato de segurança do Estado.
Sanatório Metropolitano faz um comparativo entre os números de pessoas mortas no Hospital Psiquiátrico Colônia de Barbacena até seu fechamento com os números de mortos no país atualmente. Já Fronteiras Erguidas faz outro comparativo, o do conflito sírio com a realidade expressa no Brasil. Quase todas as bases das músicas foram criadas em cima de um beat já existente.
“O sample de Fronteiras Erguidas vem do filme Coach Carter, que tem a música Let the drummer Kick do Citizen Coupe na trilha sonora. A melodia para Preces sem Apreço foi feita pelo próprio produtor e traz uma trap pouco mais enérgica. O beat de Sanatório Metropolitano foi feito em cima de um beat do álbum de natal do Frank Sinatra. Senso Crítico tem como base o beat de um grupo de soul funk”, detalha.
A escolha do nome Acúmulo Sobre Críticas foi feita porque o rapper passou cerca de três anos com o trabalho. Antes mesmo de ser chamado pela gravadora da qual faz parte, a Inferno Rec, já tinha letras de poesias escritas que contavam com a mesma pegada da crítica social baseada em fatos e dados coletados. Quando fechou contrato, precisou adaptá-las, atualizar dados e fazer pesquisa ainda mais aprofundada.
“Fui realmente acumulando críticas, analogias durante este período não para que a razão estivesse nas minhas letras, mas sim a informação. Porque acho que hoje a mídia perdeu a imparcialidade e existem uma grande propagação de fake news. O Rap alcança muita gente, então encontrei nele uma forma de informar”.
Quem introduziu o artista ao Rap foi a poesia. Sepe escreve desde pequeno e costuma frequentar eventos de Slam Poetry, no qual as pessoas recitam suas poesias, a maioria de cunho social. Um dos mais conhecidos da Baixada Santista é o Slam dos Andradas que geralmente acontece uma ou duas vezes por mês. Mas ele também passou a frequentar as batalhas de rimas da região e aproveitar o espaço de “Open Mic”, disponível para quem quer recitar poesia nos encontros.
“Comecei a me apresentar minhas letras que eram do mesmo teor do EP lançado. As pessoas ficavam impressionadas, porque o Rap da Baixada Santista não tem muito teor crítico e analítico. Depois disso, um amigo meu acabou me chamando e acertou a proposta e aí nos juntamos para gravar as tracks”. O então poeta Vitor Viguini teve que escolher um vulgo para se apresentar como Rapper. Aderiu ao nome Sepe para fazer uma referência.
“Fui ver o livro dos heróis que constituem a nação e me deparei com o nome Sepé Tiaraju. Ele foi um revolucionário indígena que lutou contra a colonização portuguesa e espanhola. Queria mostrar um lado ideológico, uma melhoria social, tudo dentro de uma visão de mudança”, conta.
Agora o objetivo de Sepe é continuar no RAP e tem planos até o final de 2019, uma das suas metas é lançar sete singles.