ALESSANDRO ATANES
Escrito ao som de Radio Ethiopia
Foto: Andrea Comas/Reuters
Graças ao próprio Blog n’ Roll, tive acesso a uma conferência de Patti Smith na Casa das Américas, em Madri, Espanha, realizada em 26 de novembro de 2010, quando a escritora, compositora e roqueira fala durante a Semana do Autor dedicada ao escritor chileno Roberto Bolaño (1953-2003). Foi o editor do blog, Lucas Krempel, que reuniu a conferência completa à minha postagem sobre Los Neochilenos, um poema de Bolaño sobre uma banda de rock. Desse diálogo entre a escrita e a edição surge uma nova conversa, desta vez entre a escritora roqueira e o roqueiro escritor.
Além de leitora sensível, sua própria atividade de escrita nos permite enxergar novos ângulos para abordar a obra do chileno. É daí que ela mostra como nos sentimos em contato com a obra de Bolaño, como se fizéssemos parte daquilo, uma leitura que sempre nos faz pensar que, se escrevêssemos, seria aquilo ali que escreveríamos, a sensação de quem encontra um clássico. Na conferência, ela apresenta essa sensação da seguinte forma: “É algo que sentimos quando andamos na rua à noite na chuva e colocamos um casaco”.
Ao lermos sua obra, continua Patti Smith, fazemos uma conexão pessoal com o autor e conhecemos até suas linhagens – a literária, na qual ela reconhece um parentesco com Walt Whitman (1819-1892), Allen Ginsberg (1926, 1997) e Wiiliam Blake (1757-1827), três nomes da poesia em inglês dos quais trata o próprio Bolaño em seus textos.
Tendo começado a ler Bolaño pelo romance Os detetives selvagens, é 2666, sua obra póstuma, que Patti Smith recomenda: “Ler uma obra-prima escrita em meu próprio tempo, por alguém mais novo do que eu, é um alívio e uma alegria e algo que dá esperança”.