FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
O mais longevo artista solo do rock. Assim poderia definir Elton John. Ainda que tenha transcendido o gênero, foi nos anos 70 mais influente britânico no ritmo que extrapolaria. Elton John é essencialmente a musica e muito além do rock: poder inigualável da pregnância do mito.
Em 1970 entre a Guerra do Vietnã e a subida do homem a Lua lá estava Your Song nas paradas de sucesso quando isso realmente representava algo palpável em visibilidade e vendagem. Um pop nascido para ser pop por valor e mítica. Elton, nascido Reginald Kenneth Dwight, foi típico produto do pós guerra inglês: nascido em subúrbio de Londres que se reerguia de bombardeios sob a égide dum ingênuo otimismo que não escondia traços de preconceito sobre a estranheza do pequeno e sensível musico precoce.
Elton foi reinvenção para superar o ambiente opressivo da pequena burguesia londrina,- assim feito um Billy Elliot (lembram do filme?) salvo pelos acordes do blues e ecos dos onipresentes Beatles. Visceralmente um sobrevivente: Elton John vem desses anos 60 da contracultura, do desbunde, o pânico diante da Aids, os anos Thatcher, o pós punk, a world music e a celebração do personalíssimo baladeiro.
Elton John ícone tão onipresente quanto Lady Diana e tão reciclado quanto a nobreza do estilo britânico de ser cosmopolita. Não distante quanto divas do jazz ou remotos como os Rolling Stones: não, não! Elton John sempre esteve ao nosso redor nesse meio século: um tio benevolente ou velho camarada condescendente com nossas ilusões e aflições adolescentes… todas formas e conteúdos: LPs, adventos dos CDs, soberano nos clipes, ídolo de massas entre ocaso de Woodstock e insurgência das discotecas, Elton John passou e assimilou todas! As ondas chegando (quase) ileso aos 70 anos!
Faço roteiro sentimental de meu percurso tanto quanto ele me toca: a doçura vespertina (quase fofa!) de Sacrifice, a eloquência rítmica de Candle in the Wind e o louvor de regozijo em Blessed: Elton John para todos gostos, matizes, sexualidades, afeições amorosas….. com seu parceiro estético Bernard Taupin uma obra-prima: Daniel e standard supremo para ´eltonmaniacos´ ou não um caso sério de capacidade composicional: Song for Guy! Mas o que é essa musica? Que poder hipnótico a todos nossos sentidos?! A Billboard raramente erra e escolheu Elton John maior artista solo de todos os tempos. Exagero? Quem peitaria outra aposta? Elton John só tem paralelo em durabilidade de estrelato e universalidade do seu talento de compositor e intérprete no olímpico carisma de Noel Coward.
Sir Elton é capaz de bebericar gim com a Rainha Elizabeth tanto quanto agitar embalos na noite de Camden ou Chelsea. Tão londrino como Peter Fry e o footing gay no Hyde Park. Tão improvável imaginar que chegasse aos 70 anos o senhor dos excessos e quão felizes brindamos seu aniversário! Ele que nos ajudou feito poucos na luta pelo amor que não ousava dizer seu nome e que com ele vivenciamos todos arroubos libertários ao som de Circle of Life. Nas intermináveis noites da Rua Augusta, nos luaus do ainda selvagem Litoral Norte ou nas primitivas boites gays de Sampa: até onde a minha vista alcança, estava lá o som na caixa e no espírito de Elton John nesse lado do Atlântico. Saudo-te! Companheiro mais velho de meiga rebeldia!
Nota da redação: Elton John completa 70 anos de idade no dia 25 de março
