ADEMIR DEMARCHI
A espécie humana é insana, de doidos, todos, sem exceção, já nada mais me convence do contrário e o que resta do que se pode chamar de razoável é fazer o esforço para que não me transforme naquele personagem de Machado de Assis, o Dr. Bacamarte, de O alienista, que coloca a cidade inteira dentro do hospício, tomando-os por loucos para concluir, olhando a cidade vazia pela janela, que o louco era ele mesmo… Sim, não quero saber de trazer mais loucos aqui pra dentro do que os únicos que entram aqui e só o fazem dentro de livros porque minha loucura está calibrada para surtir efeitos.
Veja, escrevendo aqui tive que parar para chamar a CET pra guinchar um maluco que obstruía a saída da minha mulher que raspou o carro e ficou mais maluca etc. A CET não veio, o porteiro me ligou avisando que o tal estava aqui no prédio mesmo na casa de um que ouve um tipo de música que não me arrisco a mencionar para não correr o risco do editor deste blogue me zoar postando um vídeo disso…
Passada essa doidice momentânea, agora me divirto com os que reclamam de uma outra doida lá de Fortaleza a que acusam de atos de vandalismo, pois ela vem sistematicamente colando cadeados de lojas de comércio e por último passou a, segundo eles, “atacar” igrejas. Sabem que é uma mulher por imagens filmadas, mas mesmo essa certeza pode ser de louco, pois com a ambiguidade sexual que anda em vigor hoje em dia, já não se pode afirmar uma coisa dessas com certeza sã, digamos assim.
Tanto que hoje li em uma coluna de leitores babantes um reclamando do articulista dizendo que ele é preconceituoso por usar a expressão “arcaica” “homossexualismo” para um ser lá na resenha dele. Fortaleza, no entanto, está gostando de imaginar que seja uma mulher, pois é só do que se fala e ficam se perguntando qual será a próxima porta vitimada por essa misteriosa. Eu arrisco que pode ser portas de bancos… Pois se nem a igreja Jesus Cristo de TODOS os pretensos Santos dos ÚLTIMOS Dias não sei de quem foi perdoada, tendo que se adaptar e fazer seminário na rua, que nem devia estranhar, afinal pastor chato e louco em via pública é o que mais há, muito mais que lacradores de cadeado, por que banco será perdoado?
Aí você, leitor, já deve estar se perguntando por que, numa coluna de música, estou doidamente falando disso e não de música. Pois aí é que você se engana. Isso suscita rock puro. Tanto que uma vez eu estava lá posto em sossego em boa companhia num fim de semana já estragado por ir a uma das 30 praias da ilha de Floripa, onde morei e ouvi muito Neil Young e os Crazy Horses que o acompanhavam numa levada mais amena de rock quando com ele tocavam, pois sozinhos iam para um heavy metalado a aço de Marte, noturno, incongruente para aquelas manhãs e tardes insoladas, então preferia o Neil, que os domava um pouco, e, como eu dizia, estava lá jiboiando uma tainha laricada, nadando graças à sua alma incorporada e tornada sublime por um da lata, quando uma trupe desses tontos evangélicos que acreditam que precisam salvar a humanidade que descansa em casa num domingo apareceu lá no condomínio do Itacorubi, naquela época sem muros, e começou a pregar (!) com um amplificadorzinho ardido que Jesus ia voltar.
Aquilo me irritou, saí na janela gritei “já voltou”, depois “já volto!” peguei a caixa do meu Gradiente já falecido, que deus o tenha, e coloquei na janela, rodando o LP dos Titãs Jesus não tem dentes do país dos banguelas, no último som de todos os últimos santos permitidos e rachei o bico.
Tive a certeza da força divina, sim deus é poderoso e sua força é incontornável quando veiculada por um amplificador capacitado pro bagulho, eles viram que não ia rolar com seu deus menor de amplificagem e partiram me achando o diabo – ah, sim, eu tinha lá também essa simpatia pelo demônio quando ouvia os Stones ou lia Lautréamont, achando que deus e o diabo na terra do sol são da mesma família, pecha que passei logo para o crédito dos Titãs, que só foram tão bons quanto naquele Jesus banguela em Õ Blésq Blom, outro da minha trilha sonora da época.
Tudo bem, a gente é louco, às vezes enlouquece mais que o dial aceita como normal, a gente morre, não tem jeito, mas o rock’n roll, ah, esse não pode morrer, dizia Neil, que já morreu.