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Poesia e Rock - Vários

Poesia e Rock #44 – Negro Leo e o Manifesto Lek

MARCELO ARIEL
Foto: Igor Marques

Algumas notas após a audição do disco ACTION LEKKING, de NEGRO LEO

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“Eu fico preso ao dilema de agir pragmaticamente como comunicador e artisticamente – no sentido da reputação que Platão conferiu aos artistas na República – como artista. Mas é evidente que o Brasil mudou significativamente pra melhor nos últimos anos e, embora eu me identifique em parte com o anarquismo, não acredito que haja, hoje, qualquer identificação popular com esse tipo de pensamento. Vejo, pelo contrário, que a população brasileira ainda se sente muito identificada com as liturgias, os textos bíblicos, religiosos. Dessa forma, acho que a esquerda deveria disputar a narrativa religiosa cristã num terreno próprio a ela.

Quando Cristo diz: “meu reino não é desse mundo” ou “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” e isso passa batido na elaboração de um discurso esquerdista que prefere atacar aspectos fundamentalistas dessa ou daquela seita, perde-se a oportunidade de enfrentar o problema, literalmente, de frente.

Outra coisa: a tal crise de representação não atingiu a população como um todo. Pelo menos no Brasil isso é evidente agora com essa polarização política. Eu acredito que em alguns anos e com muito “trabalho de base anarquista” essa crise de fato possa aparecer com mais força e consumir o Estado. Mas enquanto temos um Estado, precisamos nos apropriar disso pra resolver demandas urgentes da carestia, e o PT, com todos os defeitos, vinha fazendo isso. No entanto, continua-se matando pretos, índios e açoitando minorias. Meu lado artista diz que temos que ser mais violentos, mas meu lado comunicador pragmático o evita.”

Negro Leo

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Negro Leo, nome artístico de Leonardo Campelo Gonçalves (Pindaré-Mirim, 13 de maio de 1983) é um cantor, compositor e violonista brasileiro
Negro Leo até agora já engendrou oito discos
Action Lekking
Água Batizada
Meu reino não é deste mundo
Niños Heroes
 Ilhas de Calor
 Tara
 The Newspeak
 Ideal Primitivo

E podemos dizer que um pensamento se manifesta por trás das canções destes oito discos
uma ODE À ALEGRIA COMO UM SISTEMA CÓSMICO-CORPORAL
PROVA-SE A ALEGRIA NOVE MIL VEZES EM UM DIA SEM FIM DO BRASIL
uma POÉTICA DO DIALÓGICO como ABERTURA para NOVAS AURAS
as novas auras do Brasil estão aí
NOVAS CONFIGURAÇÕES DO FAZER
NOVOS PROTAGONISMOS
REALIDADES OUTRAS
Há uma retomada dos fios dos anos 60
mas sem o emaranhado nostálgico
são fios costurados no MOMENTO SEM NOME
HÁ a corajosa mas não gratuita opção pelo EXPERIMENTALISMO
Há um desvio do enquadramento sociológico da canção
que está em uma chave poemática, do fazer o pensamento dançar
Glauber & Fanon dançando com Derrida e os leks do funk em uma Savana africana do Maranhão dentro de um Parque em São Paulo

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Este não é o MANIFESTO LEK propriamente dito
PORQUE O MANIFESTO E A MANIFESTAÇÃO
É O ROLÊ
SENDO UM QUILOMBO MÓVEL
É A RECONFIGURAÇÃO DA SENZALA GERAL
EM ALEGRIA GERAL
NEM ORDEM, NEM PROGRESSO
ALEGRIA!
A ASSIMETRIA DA ALEGRIA, AS DESORDENS DA ALEGRIA!
ÁGUA E DINHEIRO SÃO BENS PÚBLICOS
ANTES A ALEGRIA FEROZ, OS PASSINHOS NOS ABISMOS
DA ALEGRIA, DA ALEGRIA LEKS
LEKS MARA! LEKS AVIS RARA!
LEKS RIMBAUDS PRETOS
APÓSTOLOS LEKS SUFINAMBÁS
REINVINDICANDO O REINO QUE NÃO É DESTE MUNDO
MAS ESTÁ NESTE MUNDO
LEKS DO ALTO
LEKS DO BAIXO
LEKS DE TODOS OS CENTROS
TUPALEKS
GUARALEKS
DELEKSLEUZE
TRIBOS SEM FIM
DE LEKS
CORPOS DIVINOS OCUPANDO TUDO

E isto é o que foi dito da obra solar
Ouçam o disco e vamos dançar dançando
em cima das cinzas, na mira dos drones
nas ruínas do que um dia foi
O BRASIL
E HOJE ANUNCIAMOS
COMO O REINO DE DEUS
NA TERRA
AO CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
AOS CORPOS O QUE PERTENCE AOS CORPOS!

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