FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
Como surge e por onde entra o rock em nossas vidas? No meu caso imperceptivelmente por suas cores, comportamentos, atitudes e artes aproximadas. Talvez o cinema para aqueles que cresceram nos anos 1970 tenha sido decisivo. Como esquecer Tommy de Ken Russell? Verdadeiro manifesto plástico de amor ao rock em sua grandeza! Peter Townshend e Elton John soberanos nos convocam para essa apoteose de furor musical.
O rock naquele miolo de década do desbunde era onipresente e entrava por poros, olhares agônicos, tesão experimental: até em Rollerball a trilha sonora do maestro Andre Previn remetia a um mix de Bach com pegada eletrônica. O êxtase desse movimento foi sagrado no clássico do mestre Antonionni em Zabriskie Point. Que poder a musica tem como personagem!
Heart Beat, Pig Meat com Pink Floyd não nos sai da cabeça ao sair duma sessão dessa epifania de todos os sentidos! Um gênio italiano que sacou como ninguém a verve, a vibração dum mundo novo que surgia pós Vietnã , pós Nixon, depois de tudo que foram os opressivos ataques a 1968!
Vocês que me leem e o prestígio desse blog devem servir a essa luta pelo casamento das artes através do rock imortal: assistam Zabriskie Point! A primeira vez a gente nunca esquece, como se víssemos Nietzsche nas telas na contestação desse mundo reacionário….Toda arte é atração pessoal, afinidade eletiva, aproximação com nossa alma profunda: o rock feito poesia precisa falar de nós, tocar no espírito, a epiderme, o sexo…
Kim Carnes com Bette Davis eyes expressa outro momento dessa revelação do que amamos pela canção, o ritmo, a pegada lancinante. Amo essa melodia que conta do menino que fui esperando o Corujão passar A Malvada ou Baby Jane… vindo dessa arqueologia emotiva recorro ao que me chega água límpida: Time after time e True colors com a diva Cindy Lauper, quase uma Barbra Streisand mirim para os entendidos afeitos ao rock meiguinho dos anos 1980.
Sem essa interação por afeto não concebo o rock doutra maneira comece tecer nossas cordas sangue e sentimentalidades. Não poderia deixar nesse final de ano que se anuncia rememorar Furyo, nosso Merry Christmas, Mr. Lawrence precioso em que o divino Bowie nos brinda com a parceria rara com Sakamoto….está tudo que digo ali: entrega e sutileza do rock para o cinema e todas outras artes plenas.