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Poesia e Rock #48 – O nome do Diabo é Legião

MANOEL HERZOG

Ante a perspectiva de uma hora a mais de vida, e do fim dessa aberração capitalista chamada “horário de verão”, fui pro leito ontem e tive um sonho (realização de um desejo reprimido) de que o verão tinha acabado, e junto com ele o seu horário. A voz de um anjo, não reconheci bem, mas parecia Elizeth Cardoso, cantava aos meus ouvidos:

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“Bate outra vez com esperanças o meu coração pois já vai terminando o verão enfim…”

Dormi uma noite soberba, sem o maledeto do ar condicionado, que via de regra me faz acordar na madruga com o rabo gelado, o nariz seco e a garganta pedindo água. Só acordei mesmo no estertor de uma alba suave, qual as tetinhas róseas de uma virgem amena, ornada de flores em tons pastel. Estertor este que, malgrado um dia atrás fosse hora de levantar, era-me ainda uma “seis da matina” promissora de um cochilo, um chorinho no copo de caipirosca. Virei pro lado com um sorriso patola, do qual aqui me pejo em público, e dormi de bruços no cetim do meu lençol.

A patolada colheu o castigo devido e divino – um sonho demoníaco de calor intenso, um calor cinza e molhado feito o verão nublado, danou de me suar os cetins. Não bastasse o mal-estar do calor, uma melodia cantada pelas hostes infernais prenunciava outra estação de suplícios:

“Mas é claro que o sol vai voltar amanhã mais uma vez eu sei…”

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Desesperado ante o fim de meu paraíso e a iminência de condenação eterna logo antevi, da janela da minha alcova, que dá pra prainha do Itararé, a multidão vinda de todo o Estado de São Paulo, tocando sertanejo universitário e fanque em altíssono, ao lado de um churrasco que era traçado à milanesa, com areia e pinga, debaixo do sol. Identifiquei o demônio que cantava, um barbudinho patolando em meio à horda, e fui lhe perguntar:

“Quem sois, ó portador da má notícia?”

Ao que me disse:

“Meu nome é Legião.”

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“Sois muitos.”

“Na verdade só sou um só, santa. Eu simultiplico porque tem uma coisa que é pior que Legião: os fã de Legião. Ó só, tão tudo ali na praia.”

“Tire suas mãos de mim que eu não pertenço a você.”

De fato, mirei novamente da alcova a praia lotada, e eles lá, lata chapada de cerveja quente cantando ‘somos tão jovens’.

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O verão não acabou. Está só começando. Meu velho coração volta a bater desesperançado.

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