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Poesia e Rock # 6 – Júpiter Maçã e o psicodelismo antropofágico

MARCELO ARIEL
Play the Music, Poet

Júpiter Maçã também conhecido como Jupiter Apple (Flavio Basso) criava suas canções dentro de uma esfera de hibrismo e metamorfose, em uma chave que unia técnicas do surrealismo com poesia confessional de influência beatnik, praticava uma espécie de psicodelismo antropofágico, dominava todas as formas da canção, da bossa nova com camadas de espacialidade noiseomânticas em Plastic Soda até a canção como era praticada pelos Beatles com a pulsação de estranheza dos ingleses no mais alto grau no extraordinário Hisscivilization.

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https://www.youtube.com/watch?v=TgOsQYoyEgc

A Editora Azougue acaba de lançar A Odisséia: memórias e devaneios de Jupiter Apple, resultado de vários encontros que o músico teve com seu amigo Julio Manzi em seus últimos meses de vida. O livro é ótimo e faz um desenho da vida interior de Júpiter Maçã, o delírio quase sempre associado a suas falas e intervenções, era no fundo uma construção performativa, uma tradução de estados intensos e delicados de blues, vamos chamar assim, que Jupiter Apple sentia em uma dimensão cosmoagônica.

No meu mais recente livro, Com o Daimon no Contrafluxo, lançado pela Editora Patuá, dediquei um poema a ele, que reproduzo abaixo:

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preview_daimon

Júpiter Maçã encontra William Blake

“Rintrah rugiu
e suas chamas
lançou
na opressão
do ar

A fome
das nuvens
desceu
sobre os abismos

Antes inofensivo
e agora
perigoso
o Justo
caminha
ao longo
do Vale da Morte
onde são
cultivadas
rosas
viver é roubar
para que cresçam
espinhos
e sobre
a favela estéril ecoa
o zumbido
das abelhas
guardando o mel

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E assim
Começam
os perigos
da viagem

E há um rio
Sua nascente
Está na beira do abismo
onde
numa cova brilha
a brancura
de ossos
temperados
com o vermelho
do barro

E eis que o maléfico
Deixa seu
confortável trono
e por atalhos
conduz
o Justo
para regiões áridas”

W. Blake, traduzido pelo autor
A loucura é a única possibilidade real
ele não era 
e o significado disto era lutar
contra o vazio
claro como o dia
oscilando
na Fragilidade que é força
para enfrentar o absurdo
com a ironia
do raio cinematográfico
estas ondas eletromagnéticas
que são como os sonhos
que são como lembrar
para a raiva elegante
ser transformada
em uma orquídea sonora
dentro do
nome triplo
sondando o abismo
na faixa oculta
transferindo o raio
para o disco
dos Beatles
para o caminho místico
onde cantamos
o triunfante fracasso
em ludibriar a morte
através do sexo selvagem
com todas as formas possíveis da canção
seguido de uma pausa para a energia da autenticidade

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1 Comment

1 Comment

  1. Tavares

    19 de fevereiro de 2017 at 18:16

    Show.

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