Poesia e Rock # 60 – Poema embebido em rock

FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
[Sob o som de People are Strange e Riders on the Storm, do The Doors]

Escrever tem de ser ato obsessivo
Solo de guitarra
Arpejo insone
Compulsivo sexual onírico
Tigre no teto de estrelas
Escorregando metáforas
Pingando pesadelos mórbidos
Paraísos artificiais em malte
Aguardente
Arenque marinado
Por bares onde se espreite a lua
Todas pessoas são estranhas
Para um poeta estranho
Então ouça inclemente
O lento cascalho no rio retornante
Ouça nosso mantra estranho
Nessa crença de cascata

Espreita o desfiladeiro de luzes fugazes
Diante o eterno abismo
Não esperem as magnólias florirem
Nem as letras desenformadas
Da órbita acústica do teu mantra
Quando cessam a vontade de lamento
E o eco seco da tua paixão em apuros
Peregrino na tempestade
Teu poder está sozinho
Poeta de fragmentos
Esponjas invertidas
Que dissolvem torpor da madrugada
Vendo o amor e o sexo siderado
De cometas evanescentes
Teu corpo enfeite
Da tua alma liberta
Desse mundo aquário
Onde só teu verso
Capta as coisas
Dissolventes
Desconstrução do tédio
Erotização do espaço
Ébrio de rock e tabaco barato

[ flavioamoreira@uol.com.br]