FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA
Quando se referia a Bob Dylan, Mick Jagger chamava-o Walt Whitman do rock. Acontece que Little Richard chamava também Chuck Berry assim…. Walt Whitman poeta libertário, patrono do verso livre, esteta do amor livre, cantor dos forasteiros, dos bardos de esquinas, dos enamorados da Guerra Civil Americana, dos companheiros de jornada pelos descaminhos da América radicalmente democrática é o proto-roqueiro por suas baladas e cantos ao homem do povo.
Ai que delícia ouvir bandas de folk louvando o amor livre de Walt Whitman, o afeto entre camaradas, feito Trampled by Turtles, que evocam poemas de Leaves of Grass com seus gajos com banjos e guitarras soltas e embalar de vez nessa whitmania com Patty Smith, sim, ela que se rende a nosso luso Fernando Pessoa para saudar o arcano Whitman…
Todo grande poeta que assim se entenda faz um canto ode ou panegírico a Walt Whitman: assim foi Pessoa, Lorca e claro todos beatniks….em 2019 comemorando duzentos anos desse poeta mitológico quero aprofundar essa ligação entre literatura e rock. Bem poderia Whitman ser o padrinho dessa ligação e inspirador de vidas e conteúdos mais literalmente poéticos na musica e atitude denominadas rock.
Mantenha a TV desligada o máximo tempo, deixe a melodia do vento entrar pelas bordas da cortina, detenha-se no absurdo da criação artística, rasque-se em acordes, absorva toda sutileza na tua força composicional: é patético não ser poeta enquanto roqueiro…. eis alguns conceitos-poemas de Whitman que soam orgasmo lírico a ti músico do futuro:
Quando eu dou, é minha própria pessoa que dou. A condição da Liberdade é o que se ama.
Contradigo-me? Pois bem, contradigo-me, sou amplo: contenho multidões. O relógio indica o momento, mas o que indica a eternidade? Quem quer caminhe um oitavo de milha sem solidariedade, segue amortalhado para o seu próprio funeral. Vamos! Quem quer que sejais, vinde peregrinar comigo! Vamos! Para o que é contínuo como era o ponto de partida…
Ouvindo Patti Smith de novo compartilho início inédito de um novo livro, meu décimo sexto que lançarei em 2019 para saudar Walt Whitman:
Para negar-me achei-me / linha turva estreito e profundo / rompendo
Som que reverbere, limite que estenda até caminho que se quebre
Aí vou / destemor / aí sigo [Walt Whitman, meu brother]
[flavioamoreira@uol.com.br]