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Entrevista | Paulo Rocker e os Rockaways – “Tudo foi feito por um time muito excelente”

Dois anos após o fim dos Gramofocas, o baixista e vocalista Paulo Rocker está de volta ao punk rock “ramônico”. Com Paulo Rocker e Os Rockaways, o músico irá lançar no dia 28 de setembro o EP homônimo pela Morcego Records.

Para saber como foi a jornada entre o fim do Gramofocas e o começo da nova banda, o PPA trocou uma ideia com Paulo Rocker sobre o término do casamento da antiga banda e como foram as gravações do novo material.

Muitos fãs foram pegos de surpresa quando os Gramofocas anunciaram o fim em 2016. Para você, como foi esse período longe da música e retornar aos estúdios depois dessa “pausa”?

Cara, qualquer período longe da música é doloroso. Mas esse foi necessário, como o fim de um casamento de quase 20 anos. Quando os Gramofocas acabaram, nós estávamos ensaiando músicas novas para um futuro disco. Então, foi ainda mais frustrante porque eu estava empolgado com a banda como não ficava havia um bom tempo.

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Logo depois, tentei aproveitar a empolgação para fazer alguma coisa, mas não rolou. Aí bate aquela preguiça, aquela acomodação e a música vai ficando em segundo plano. O que foi bom para digerir e curtir um pouco essa ressaca após 20 anos. Rever o que eu queria, o que me fazia falta e o que não fazia. E chegou uma hora que o punk rock começou a fazer MUITA falta…

As faixas que fazem parte do EP foram compostas antes da ideia de formar a banda? Isso seria uma espécie de “projeto solo” do Paulo Rocker?

Algumas músicas do EP estariam no disco dos Gramofocas que não rolou. Eu tinha ficado bem frustrado delas morrerem assim, sem nunca terem nascido. Até porque, a minha ideia para o disco já seria gravar com o próprio Davi Pacote (Os Torto). Com uma pegada mais Ramones mesmo. E eu já tinha abordado ele, uma segunda vez, com essa ideia que eu tive de continuar o projeto quando a banda acabou, queria que ele produzisse e gravasse.

Uns dois anos depois – em maio deste ano – eu mostrei algumas delas para o Henrique Badke (Carbona) numa conversa qualquer. Ele pilhou na hora e com isso me pilhou. Decidimos retomar e fazer essa parada acontecer. O Henrique sempre foi um grande amigo e parceiro de música, já fizemos muita coisas juntos, mas essa realmente foi a mais especial.

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Mandei tudo que eu tinha para Pacote e fomos refinando, até porque eu não queria o peso de fazer tudo sozinho. Acho que as coisas não funcionam muito bem assim. Eu compus as músicas, fizemos juntos tudo que devia e podia ser feito nelas.

Não sei responder se entra na categoria projeto solo. Acho que é. Ao mesmo tempo tudo foi feito por um time muito excelente. Sem o Pacote e o Rogério “Kiko” Ribeiro (Rotentix), até mesmo o Henrique, nenhuma música teria saído com saiu. Então, foi feito por nós.

O single É Por Isso realmente parece um desabafo de quem ficou anos longe da música e dos fãs. O quanto você sentiu falta dos três acordes, Paulo Rocker?

Pois é! E esta música quase não entrou no disco. Eu nem tinha mandado para eles porque, além de ela estar totalmente incompleta, eu achava ela muito pessoal demais. Achava que poderia soar estranho de alguma forma.

Ela é exatamente um desabafo, uma declaração de amor, mas de uma forma que eu não sou acostumado a fazer, sem as piadinhas e as gracinhas que eu fazia com os Gramofocas. Pode ser interpretada de várias maneiras, como para um relacionamento amoroso, mas no caso é totalmente feita para música.

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Mas aí eu mandei para eles (Pacote e Henrique) e ela foi unânime, engraçado como essas coisas são, né? Aí corri pra finalizar e ela acabou virando o single.

Ainda falando sobre É Por Isso, ele tem um ar bem Ramones. Além deles, quais foram as inspirações para as faixas que fazem parte do EP? Teve coisas fora da música que você trouxe para o material?

Sim, ela tem um ar bem Ramones, e essa foi a ideia do EP todo – talvez ela seja, inclusive, a menos Ramones do material – não por acaso a escolha do Pacote e do Kiko. A ideia toda foi meio que voltar para o básico. O som que me fez querer ter banda e que me fez ser quem eu sou hoje em dia.

Não sei se eu trouxe elementos de fora da música. Acho que na verdade é a música que leva coisas para fora dela, para “vida real”. São pessoas que eu conheci por causa da música, que foram moldadas pelo som que ouvem, que viveram a vida na música. Esse EP é bem isso: um encontro de pessoas que estão há muito tempo nessa, mas tocando o que nos fizeram começar a tocar.

Tanto o Pacote, quanto o Kiko, são músicos de referência da cena gaúcha. Como foi trabalhar com eles, Paulo Rocker?

Trabalhar com eles foi uma experiência realmente incrível. Eu nunca achei que seria tão massa e que funcionaria tanto. É muito legal lidar com quem fala a mesma língua que você. E se, em algum momento você pede uma virada mais Touring ou até que uma música seja mais Pleasantdreamizada, a pessoa te entende 100% e tá tudo resolvido.

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Sem contar que os dois são músicos excelentes, o que faz tudo funcionar muito mais fácil. Até pra mim, que sou um músico medíocre. Eu já conhecia o Pacote, mas nunca tinha trabalhado com ele e estava ansioso por isso. Quando perguntei sobre baterista ele indicou o Kiko, adorei a ideia pois sou muito fã de Rotentix. Eu conheci ele no dia da gravação (risos). Mas a sintonia foi imediata e acho que dá pra ver isso no disco.

Eu e o Henrique fomos para Porto Alegre, e fizemos tudo em um fim de semana. E acho que foi o fim de semana mais produtivo da minha vida. Gravamos o disco todo, o clipe e mais um tanto de coisa em vídeo que vocês vão ver em breve.

As imagens foram capturadas pelo Sérgio Caldas (Motor City Madness, Los Vatos), que também foi uma peça fundamental nessa parada toda. Tudo fluiu de forma muito tranquila, profissional e, o mais importante, divertida e com ZERO stress.

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Voltando um pouco no tempo, os Gramofocas fizeram história na cena por contar diversos “causos alcoólicos” nas suas letras. Você acha que, na época, vocês trouxeram um estilo diferente para a cena punk rock brasileira?

Po, eu realmente gosto muito de acreditar que sim. Não sei se realmente foi, mas na época pouquíssimas bandas falavam do que a gente falava, do jeito que a gente falava, né? Tinha os Muzzarelas, mas eles cantavam em inglês. Muita gente cantava em inglês nos anos 90 e acho que esse foi um outro grande diferencial nosso.

Acho que um outro mérito nosso foi ter trazido o lance dos refrões sing a long, uma pegada bem Toy Dolls. Traz a galera pra cantar junto e faz a música mais festiva, mais participativa. Faz do show uma festa. Refrões cantantes, em português, falando sobre cerveja não pode dar errado, né? (Risos) Na verdade a gente só misturou coisas que a gente gostava e deu uma liga boa.

E o lance dos causos, uma coisa que eu sempre me orgulhei foi que nossas letras sempre foram muito verdadeiras, sempre foram pessoais, de histórias e personagens reais. O que eu acho que nos aproxima de quem ouve, pois são situações que todo mundo já viveu de alguma forma, principalmente em uma certa fase da vida. Uma desilusão amorosa, um porre com os amigos…

Depois de quase 20 anos na estrada com o Gramofocas e esse tempo de “descanso”, acredito que muitas ideias foram amadurecidas. Quais foram as lições que você tirou para essa nova fase na música?

Não acho que eu tenha aprendido muita coisa não. Nem que eu tenha tirado esse tempo pra refletir ou algo do tipo. As lições que eu tinha que aprender, eu aprendi provavelmente na marra ao longo desses 19 anos.

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Esses anos sem tocar só me fizeram ter saudade de tocar e compor. Ter certeza do que eu gosto e de onde eu estou musicalmente falando. Por isso essa vontade de fazer algo simples, objetivo, ramônico. Voltando às origens de tudo que eu sou e sem me preocupar se pareça ou não Gramofocas. Quero simplesmente tocar o que me faz feliz, o que eu gosto de ouvir.

Fora dos palcos, você trabalha como ilustrador. Lembro de artes incríveis para o Blind Pigs, Semper Adversus e dos desenhos do encarte do Armada. Podemos esperar uma arte bem inspirada para o EP? Afinal, agora o projeto é só seu.

(Risos) Pois é, sim e não. Não, porque eu tenho muita resistência em usar arte minha nas minhas próprias coisas. Acho que nunca lançaria um disco com a capa desenhada por mim. Além de preferir, quase sempre, foto em capa de disco (vide Gramofocas).

Mas inspirada, com certeza. A capa é uma foto MUITO especial pra mim. O que só complementa a carga emocional desse disco: é uma foto do meu avô em 84. Ele se vestia de Batman no natal e demais datas festivas. E eu sempre pensei que seria a capa do meu disco solo. Sempre falei isso brincando e agora, de repente, virou verdade.

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Obrigado pelo atenção Paulo Rocker. Deixe seu recado para o pessoal.

Cara, obrigado você! Ótimas perguntas e um prazerzasso responder minha primeira entrevista falando sobre esse projeto novo, que é tão especial. Espero que vocês curtam as músicas e tudo mais que a gente tá preparando. Queria aproveitar o espaço para agradecer à galera que entrou comigo nessa e que fez a parada acontecer.

Henrique, Pacote, Kiko e Sérgio, valeu demais! É isso, já já sai o EP todo, vamos nessa!

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