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Cyndi Lauper: Rainha do Rock (e da excentricidade)

Ícone da moda, referência no mundo do rock e ativista poderosa: não podíamos estar falando de outra pessoa senão Cyndi Lauper. A cantora, compositora e atriz de Nova York serviu de inspiração para quase todas as artistas pop e rock das décadas seguintes, desde que começou seu trabalho, em 1976, como intérprete pelos bares nova iorquinos.

Cynthia Ann Stephanie Lauper-Thornton, nossa Cyndi, começou seu relacionamento com a arte desde muito cedo. Aos 12 anos, ganhou um violão de presente da irmã Elen e aprendeu a tocar sozinha, escrevendo suas primeiras canções. No mesmo período, começou a sentir uma vontade enorme de se expressar: surgia um embrião do que hoje se tornou seu estilo icônico, cheio de irreverência, muitas cores e sobreposições.

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Saiu de casa aos 17 anos, inspirada em viver de sua paixão, e acabou estudando artes na Johnson State College, no Canadá. Cyndi sempre viveu sobre seus próprios termos, abandonando todas as tradições do cotidiano no Queens e seguindo os conselhos da mãe, que a incentivava a ser livre, independente e criativa. Começou então sua saga como intérprete, mas teve uma ingrata surpresa em 1977, quando sofreu um problema em suas cordas vocais que a impediu de cantar por um ano. Mesmo desacreditada pelos médicos, Cyndi sabia que voltaria a cantar e persistiu em seu sonho. Conheceu então o saxofonista John Turi, com quem formou a Blue Angel, sua primeira banda.

Blue Angel era um fracasso declarado nas opiniões dos empresários e produtores, mas Cyndi, em especial, tinha um potencial interessante. Mesmo com insistências de que ela cantasse solo, a cantora exigiu que a banda toda tivesse uma chance, e então conseguiram contratos com Steve Massarky, que na época administrava o Allman Brothers Band, e com a Polydor Records, que lançou seu primeiro e único álbum, em 1980. A Blue Angel foi aclamada pela crítica especializada, mas isso não foi suficiente para que a banda continuasse unida. Quando se separaram, entraram em um processo judicial desgastante contra seu agente, que acabou vencendo e tomando cada centavo dos músicos.

Falida, Lauper teve de recomeçar. Trabalhando em lojas e cantando em clubes baratos de NY, ela conheceu David Wolff, que tornou-se seu empresário. Com a oportunidade de gravar com a Epic Records, Cyndi lançou She’s So Unusual (1983), o principal álbum de sua carreira e também o grande responsável pelo seu sucesso global.

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Da água para o vinho, Cyndi Lauper alcançou a fama. O álbum estreou já na quarta posição da Billboard 200, conquistando as paradas mundiais em alta velocidade. O hino Girls Just Wanna Have Fun foi seu single de maior sucesso, conquistando 3 discos de ouro e 2 de platina – suas vendas superaram os 2 milhões de cópias nos EUA em poucas semanas. Com Time After Time, a cantora chegou pela primeira vez ao topo da Billboard Hot 100 e da Adult Contemporary, conquistando 2 discos de ouro e 1 de platina. She Bop, seu terceiro single, também ganhou certificação de ouro e participação na Billboard Hot 100, assim como All Through the Night, balada escrita por Jules Shear, compositor norte-americano conhecido na indústria. Com quatro singles bombando nas rádios, Cyndi se tornou a primeira mulher a ter quatro singles de um mesmo álbum no Top 10 da Billboard, e teve este disco listado posteriormente como um dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone.

O desempenho global foi uma boa surpresa. Com letras cheias de ideologias feministas, Cyndi apostou na autenticidade, pautada por assuntos que importavam. Para os videoclipes, sempre apostou na ousadia e excentricidade, fazendo constantemente o papel da mocinha independente que não tem medo algum de expressar o que sente. Toda essa energia e presença de estilo foram os fortes responsáveis pela popularidade de Lauper entre o público feminino mais jovem, que finalmente se sentia representado no pop rock com seus cabelos coloridos, maquiagens exageradas e roupas bufantes. A cantora se tornou ícone da MTV e estampou capas da Rolling Stone e People.

A Fun Tour, turnê de promoção do disco em 1984, rendeu mais de 100 shows pelos EUA, França, Suíça, Canadá, Alemanha e mais países. She’s So Unusual permaneceu na Billboard 200 por 154 semanas, para alegria de seus fãs espalhados pelo mundo. Em 1985, Lauper venceu o prêmio Crystal Film Awards, reconhecendo sua originalidade e criatividade no meio musical, e seu primeiro Grammy como Melhor Artista Revelação. No mesmo ano, ela participou da gravação do USA For Africa (1985) junto a outros 44 artistas em prol do combate à fome na África.

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Cyndi manteve durante toda sua discografia um estilo alto astral, sempre com batidas contagiantes e vocais poderosos. Enfrentou problemas com abuso e depressão durante a infância, sofrendo principalmente com o bullying durante a escola, quando era provocada por seu estilo diferenciado e sua atitude irreverente. Mesmo com esses problemas na bagagem, Cyndi sempre optou por enfrentar as dificuldades de frente, buscando tirar das piores experiências algo de bom. Com isso, criou e cultivou esse estilo único de espalhar a positividade e resiliência através da música, sentimento que transparece em todas as suas principais composições.

Seu próximo grande projeto veio a convite do diretor Steven Spielberg. Ele convidou Cyndi para ser a diretora musical de seu mais novo filme, The Goonies, com total liberdade de escolha para criação. O álbum da trilha sonora alcançou a posição #73 na Billboard, também recebendo indicações para o Grammy, enquanto o filme tornou-se um clássico dos anos 80. Nesse momento, a carreira de Cyndi alcançava seu ápice, com enorme popularidade e forte presença na mídia.

Depois de trabalhar exaustivamente no filme, Cyndi adiou as gravações de seu próximo álbum, que só foi lançado em 1986. True Colors não foi um sucesso de vendas tão grande quanto seu antecessor, mas obteve ótimos resultados, com três hits nas paradas globais: True Colors (que alcançou o primeiro lugar na Billboard Hot 100), Change of Heart e What’s Going On, um cover apaixonante da canção de Marvin Gaye. O single Boy Blue foi o primeiro de Cyndi a não alcançar a Billboard Hot 100, mas contou com um desempenho positivo por sua temática e teve todo seu lucro doado para instituições de pesquisa da AIDS.

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Os próximos anos foram mornos, com lançamentos mais fracos e muitos conflitos entre Cyndi e sua gravadora. Ela protagonizou seu primeiro filme em 1988, a comédia Vibes, um fracasso tanto de crítica quanto público. A confusão com a gravadora afetou fortemente seu sucesso, abalando o lançamento do álbum A Night to Remember (1989), que teve um único hit, I Drove All Night. O álbum foi bem aceito pelos fãs, mas não rendeu boas vendas na turnê pelos Estados Unidos, que acabou sendo cancelada. Já na América do Sul e no Japão, a turnê teve bons resultados, contando com 3 shows esgotados no Brasil e batendo recorde de público no Chile, com audiência de 120 mil pessoas.

Cyndi participou do concerto histórico do Pink Floyd em Berlim, interpretando Another Brick In The Wall; homenageou John Lennon em Liverpool em projetos com a amiga Yoko Ono; trabalhou em filmes e musicais da Broadway; casou-se em uma pequena capela de Nova York; e gravou um dueto com Frank Sinatra – tudo isso no intervalo entre 1990 e 1992. Enquanto suas parcerias a mantinham em evidência, sua carreira solo ia aos trancos e barrancos, principalmente nos Estados Unidos. Seu quarto álbum, Hat Full of Stars (1993) foi um fracasso de vendas locais, mas conquistou as mídias europeias. Este trabalho em particular exaltou o interesse da cantora em abordar temas como homofobia e racismo.

O álbum Sisters of Avalon (1997) trouxe maior profundidade aos temas que já defendia, como as dificuldades de pessoas soro positivas e discriminação contra drag queens. Cyndi já falava sobre esses assuntos, mas foi neste período que se tornou porta-voz efetiva dos eventos de orgulho gay, participando de paradas e eventos para ajudar clínicas de tratamento de AIDS.

Seu trabalho na indústria musical enfraqueceu, mas Cyndi continua ativa em projetos paralelos de TV, teatro e cinema. Criou a fundação True Colors, que trabalha pela aceitação de pessoas homossexuais e transsexuais, atuando contra a discriminação e em defesa de jovens LGBT em situação de rua. Artistas como Rosie O’Donnell, Joan Jett, Regina Spektor e Deborah Cox apoiam a campanha, espalhando conscientização sobre como o preconceito afeta a vida dessas pessoas de formas devastadoras.

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O trabalho inovador de Cyndi Lauper quebrou muitos paradigmas dos anos 80, trazendo uma revolução de estilo carregada por suas escolhas excêntricas de moda e atitude. Incansável, Cyndi trabalhou em todas as oportunidades possíveis com criatividade e originalidade, duas das suas principais qualidades. O último disco que lançou foi Detour (2016), que reúne vários artistas country como Willie Nelson e Vince Gill para experimentações musicais e covers.

Sua música continua a inspirar a indústria contemporânea, motivando inúmeras artistas pop como Christina Aguilera, P!nk e Lady Gaga em suas carreiras. Sua potência vocal, devoção aos direitos das comunidades LGBT e contribuição à história da música a tornaram uma das principais personalidades do rock, o que lhe rendeu o apelido de Rainha do Rock. Irreverente, verdadeira e apaixonada pela música, Cyndi é uma personalidade única na indústria, que definitivamente deixa sua marca para as futuras gerações como um ícone feminino do rock.

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