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LOS ANGELES, CALIFORNIA - JANUARY 26: Lizzo performs onstage during the 62nd Annual GRAMMY Awards at STAPLES Center on January 26, 2020 in Los Angeles, California. (Photo by Kevin Winter/Getty Images for The Recording Academy )

Geral

Grammy 2020: empoderamento feminino na indústria

Não se enganem: os tempos de vanguardismo e machismo ainda não passaram. Pelo menos, não por completo. Mas se tem uma coisa que a 62ª edição dos Grammy Awards nos mostrou é a demanda que existe na música atual. Especialmente a busca pelo protagonismo feminino jovem.

Billie Eilish

Billie Eilish no Grammy Awards 2020

Tudo parte de Billie Eilish. A americana de 18 anos não faz apenas música, mas também marca a história. Em representatividade da jovem mulher, especialmente. Ou ainda mais longe: da adolescente que se sente sozinha no mundo.

Eilish quebrou um recorde importante no Grammy 2020. É a mulher mais jovem a conquistar a quadra mais cobiçada de prêmios da música americana: álbum, música e gravação do ano, além de artista revelação. Tudo isso com seu disco de estreia. Um feito além do impressionante.

Mas não vim dizer o quanto esse feito é importante para a indústria. O detalhe em que vamos nos concentrar aqui é o seguinte: num mundo de Arianas e Kardashians, uma menina de 18 anos, zero objetificada, fora dos padrões de beleza e vestuário, é a rainha do baile. Vitória das renegadas.

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Mesmo com seu pop melancólico/romântico (de um jeito bem irônico e dark), Billie Eilish é a essência da irreverência. Sinceramente, é o símbolo que eu buscava quando era uma adolescente rebelde sem modelos para seguir.

Me inspirava nas Runaways, Bangles e Cyndi Laupers, e até pouco tempo, não havia um ícone feminino, jovem, rebelde e fora da caixinha para se sentir representada.

Com exceção da P!nk e o visual que inspira até hoje, meus “modelos jovens” viajavam entre Billie Joe Armstrong e Dave Grohl (que além de homens, também não eram novinhos, mas só aparentavam).

Billie Eilish trouxe essa tenacidade musical com atitude punk de volta à moda. Era o que todas nós, fãs de irreverência, torcíamos para aparecer. Uma jovem que se empodera de seu discurso e sabe o que quer.

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E agora, legitimada pelo maior regulador da indústria musical por sua autenticidade. É um prato cheio para inspirar as futuras gerações de mulheres na música, com toda certeza.

Lizzo

Lizzo conquista vitórias importantes no Grammy Awards 2020

Do R&B a melhor performance pop solo, Lizzo levou para casa três prêmios muito importantes. Cuz I Love You foi (finalmente!!!!!) reconhecido como melhor álbum contemporâneo urbano. Mas novamente, vamos falar na importância cultural e social.

Premiar uma mulher negra e obesa na segunda indústria mais machista do entretenimento (ninguém perde para Hollywood, né?) é uma evolução sem tamanho, embora ainda seja pouco. Lizzo não é só mais uma cantora pop: é uma mulher negra com um sonho impossível, que dá voz a incontáveis outras mulheres com histórias semelhantes.

Com uma vida cercada de batalhas e derrotas, ter esta artista no palco sendo aclamada pela crítica dá um gosto de vitória na sociedade.

Me orgulha perceber sua disposição em empoderar as mulheres constantemente, portanto, não só entreter. Ela fez do sonho uma missão, dividindo ensinamentos que não são apenas lições de moral, mas também pontos de mudança.

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Truth Hurts deixou de ser apenas o título de uma canção para revelar uma acidez que toca na ferida. A verdade dói mesmo, e a verdade nesse mundo contemporâneo é que faltam oportunidades em diversos nichos, especialmente para mulheres negras.

Lizzo, de 31 anos, está na batalha pela música desde os nove. Neste domingo, conquistou um espaço que é seu por direito, tão merecido quanto Whitney Houston, Tina Turner, Donna Summer e tantas outras mulheres negras.

Rosalía

Rosalía faz conquista merecida no Grammy Awards 2020

A espanhola Rosalía tem pouca popularidade no mainstream brasileiro, mas sua presença lá fora tem aumentado cada vez mais. Prova disso foi o reconhecimento como Melhor Álbum de rock, música urbana e alternativa latina no Grammy.

A cantora ultrapassou Bad Bunny e J Balvin, que estão nas paradas globais há muito mais tempo. Ela prioriza suas raízes, apostando num flamenco tradicional, porém, deliciosamente inovador.

Mesmo premiada na única categoria “estrangeira”, Rosalía foi a primeira artista de língua espanhola a ser indicada na categoria Artista Revelação. Seu romantismo conceitual atravessou anos de cantorias em bares, casamentos e até mesmo aulas como professora de flamenco.

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As barreiras para não-americanos são inúmeras, especialmente em ambientes como o Grammy. Assistir uma mulher latina premiada em um país onde latinas são hiperssexualizadas constantemente é mais uma conquista poderosa, que também pode ser atribuída a Camila Cabello, por exemplo.

Rosalía já havia levado muitos prêmios no Grammy Latino, mas há um quê especial na premiação tradicional. Entre conflitos sociopolíticos marcando presença pela América, uma latina que se orgulha de suas raízes traz força para as milhares de meninas ao redor do mundo que sonham em estar num palco de Grammys um dia.

Demi Lovato

https://www.youtube.com/watch?v=AqtooBbxuaw

Demi pode não ter concorrido a nenhum prêmio, mas sua presença nesta edição do Grammy é tão importante quanto as outras. Aqui enaltecemos outra representação essencial: das mulheres que enfrentam desafios com problemas mentais e dependências.

Dona de uma voz poderosa, Demi expôs suas verdades mais uma vez com o lançamento da canção Anyone. A apresentação, que marcou seu comeback após um bom tempo afastada da mídia, mostra resiliência, assim como vulnerabilidade.

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Em tempos onde depressão e ansiedade são finalmente tratadas como doenças, é importante quebrar mais tabus ao escancarar seus sentimentos. Mais uma vez, Demi acerta em todos que se sentem sozinhos, desprotegidos, abandonados e perdidos.

Ao invés de se tornar um mártir, ela enfrenta as mesmas batalhas de anos, várias e várias vezes, pois a vontade de superação é o que realmente importa. Com sobriedade, ela performa dando a cara à tapa, abraçando sua dor por um bem maior: ajudar o próximo.

Quando assisto às performances da Demi, me recordo de um ídolo pessoal que perdeu essa batalha contra a solidão – Amy Winehouse. A partir daí, eu absorvo suas palavras e busco a empatia em suas músicas, que tem sempre uma sensibilidade ímpar.

Demi Lovato é uma força necessária, que constrói um caminho de inspiração e resiliência para tantas jovens. Tanto a taxa de suicídio de mulheres cresce nos últimos quatro anos como a tentativa de suicídio entre jovens, que dobrou na última década, nos Estados Unidos. Assistir uma artista como a Demi te dizer que o importante é continuar tentando diz mais que qualquer outra coisa.

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A lacuna do empoderamento

Ainda são muitos os passos a serem dados pela equidade, mas é bom celebrar algumas vitórias, de vez em quando. Além de aclamadas pela crítica, estas três mulheres premiadas estão entre as mais ouvidas nos streamings do ano.

O interesse por músicas e personagens assim – mais realistas, fora da caixinha, expressivas e verdadeiras – mostra uma queda das máscaras. Mesmo vivendo na geração que mais consome beleza e estética pelas redes sociais, a vitória de Eilish, Lizzo e Rosalía indica uma lacuna a ser preenchida: do empoderamento de quem realmente somos.

A verdade é que estamos cansadas da perfeição. Dos intangíveis padrões, que mais soam imposições estéticas do que conselhos de beleza. Queremos mulheres como nós: jovens, autênticas, fiéis a si mesmas, independentes. Realistas. Inspiradoras.

Afinal, essa busca não é de hoje: as mulheres sempre buscam modelos construtivos para se inspirar. Mas infelizmente, muitos destes modelos já estavam se perdendo, até que caras novas apareceram para nos lembrar do que realmente importa.

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Num mundo que conspira contra as celulites e meninas ousadas, é bom assistir jovens irreverentes que estão inspirando mudanças radicais na indústria. Um Grammy para ser lembrado!

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