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Miss Americana: um filme necessário contra o machismo

“Eu me tornei a pessoa que todos queriam que eu fosse”. Taylor Swift começa o prólogo de Miss Americana com uma afirmação que parece inocente, mas diz muito sobre a sociedade em que vivemos.

O documentário original Netflix dirigido por Lana Wilson não trata apenas da carreira de Swift, mas também da cruzada que as mulheres do mundo do entretenimento enfrentam em paralelo ao sucesso comercial.

Em constante busca por aprovação, a narrativa é sincera ao argumentar sobre o silenciamento de jovens artistas. A história se desenrola pela carreira de Taylor, partindo de flashbacks do início de sua jornada musical até o ápice do sucesso, além do processo de desconstrução de sua personalidade, que foi moldada pela indústria pop.

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Alguns pontos cruciais têm maior destaque, como sua relação com a composição musical, a polêmica fase Reputation, um caso de assédio que marcou sua vida e o processo de composição de Lover.

Mas sobretudo, o documentário permeia as dificuldades que as mulheres enfrentam em terem suas vozes ouvidas e serem respeitadas profissionalmente.

Um tema que chega em hora assertiva, casando com outras obras em evidência neste ano. Alguns exemplos são o longa O Escândalo, que concorre ao Oscar em algumas (poucas) categorias, além de Sex Education, a comédia original Netflix que surgiu mansa, mas resolveu endurecer ao abordar assédio sexual, sororidade e protagonismo jovem.

O fato é que, como Taylor fala em seu documentário, o medo de tornar-se a próxima Dixie Chicks a silenciou. Agora, ela precisava estar “do lado certo da história”. E fez isso da melhor forma possível.

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Nesta coluna, vamos falar tanto da história de Taylor como de Miss Americana. Mas se você não assistiu o documentário, que já está disponível na Netflix, fica o aviso: esse texto pode conter spoilers!

O caso VMA e o primeiro encontro com machismo

Fruto da indústria country, ela começou sua carreira bem jovem, apresentando-se uma estrela em ascensão no segmento. Aos poucos, seu charme alcançou o universo pop, o que a levou ao fatídico VMA de 2009.

Na ocasião, Taylor recebia seu primeiro Video Music Award. No entanto, o rapper Kanye West interrompeu seu discurso de aceitação do prêmio tomando o microfone de sua mão no palco. Ele debochou de Swift, dizendo que, na verdade, Beyoncé era quem deveria ter ganho o prêmio mais importante da noite.

Como capa da última edição da Variety, Taylor falou abertamente sobre o ocorrido como um dos maiores gatilhos para inseguranças pessoais e profissionais que a traumatizaram por anos. Esse acontecimento mostrou como seu protagonismo, como mulher jovem, não seria tolerado.

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Mas sem contar as sequelas que uma atitude como essa poderia provocar em uma jovem de 19 anos, essa foi a primeira vez que Taylor Swift sofreu com o machismo.

Para simplificar o quanto essa situação foi errada, vamos pontuar uma lista:

  • Kanye roubou o local de fala da Taylor, que tinha acabado de vencer o prêmio;
  • Ele praticou assédio moral, expondo uma mulher à uma situação humilhante, vexatória, que foi motivo de piada pelo mundo inteiro;
  • Descredibilizou sua juventude, como se não tivesse mérito pelo trabalho feito e debochar de sua vitória (um exemplo atual: imagina se outros artistas desmerecessem a Billie Eilish?);
  • Estimular a competição entre mulheres, instigando que Beyoncé era mais merecedora que Taylor.

Desde então, Taylor incorporou diferentes personas nestes 10 anos de carreira. Da princesa angelical do Tennessee que conquistou o mundo com seu violão à diva pop mesquinha, ela foi rotulada de todas as formas possíveis. Por isso, multiplicou versões de si mesma para ser aceita por todos – um feito que logo entenderia ser impossível.

Amadurecimento pessoal

A habilidade camaleônica que a permitiu reinventar-se tantas vezes foi sua forma de sobreviver na indústria. Ela começou aprendendo que devia se comportar, sorrir, acenar, ser bonita e educada. Como é esperado de uma boa moça.

Depois de um tempo, essa fórmula se voltou contra ela. Mesmo sendo o que todos queriam que fosse, ela continuava não sendo boa o suficiente. Magra demais, boazinha demais, namoradeira demais, perfeita demais.

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Mas afinal, o que uma mulher precisa fazer para ser levada a sério? Como Taylor finalmente seria aprovada por todos?

Tudo que ela queria era fazer música e ser feliz. Em Miss Americana, Taylor fala o tempo todo sobre felicidade, mesmo que em alguns momentos demonstrava estar incerta sobre o que “ser feliz” realmente significava.

Os fãs e as composições são motivos para continuar, mas ela precisava amadurecer para enfrentar as intempéries da fama.

Entretanto, as coisas ficariam ainda mais difíceis quando teve que redefinir prioridades. Entre fazer música e ser feliz, haviam uma infinidade de questões impostas sobre Taylor. Estavam inclusos problemas familiares, distúrbios alimentares e ataques maldosos nas redes sociais.

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Taylor sempre teve o apoio dos pais e amigos de infância, mas de todos os ângulos do filme, sempre está sozinha no centro da tela. O documentário faz questão de ressaltar a solidão que abraçou sua vida: estava sozinha com seus pensamentos e sentimentos, sempre reprimidos.

Então, era necessário amadurecer. E um momento terrível acabou se tornando um gancho para “cair na realidade”. Em 2013, Taylor teve seu vestido levantado e bumbum apalpado por um DJ, quando tirava uma foto.

Encontro de propósito e consciência social

As mulheres sabem o quanto é difícil admitir ter sofrido assédio. Quando é algo como uma apalpada no metrô, muitas vezes a própria vítima não entende o ocorrido desta forma.

Taylor enfrentou essa confusão, mas em escala ainda maior, sofrendo o escrutínio público. A cantora processou seu agressor e venceu o caso, mas não se sentiu “vitoriosa” – ela trata deste como o pior momento de sua vida.

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O acontecimento serviu de gatilho para preencher uma lacuna que sempre sentiu. Ela deixa a isenção de lado e decidiu exercer sua voz, apoiar minorias, incentivar os jovens a votar. Taylor estava pronta, mais do que nunca, para falar abertamente e fazer a diferença.

Quando posicionou-se politicamente contra Donald Trump e as políticas conservadoras do partido republicano, Taylor sentiu um peso saindo de seus ombros. A partir daí, deslancha a fase Lover. Finalmente transforma-se numa versão mais autêntica de si mesma, que fala suas verdades.

Nesse ponto, a jornada do filme é mais fluída, mas não deixa de lado as inseguranças que a popstar enfrenta. A narrativa desconstrói muitos mitos sobre Taylor, mas não deixa de sinalizar mensagens importantes.

Mesmo contado pela história da personagem, Miss Americana trata de temas sociais pertinentes e é altamente recomendado. Mais um passo importante para a discussão do machismo, que mostra a relevância desse debate!

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