NUNO MINDELIS
Um dos melhores guitarristas contemporâneos de blues elétrico, na minha opinião, o frenético Eric Gales lançou em 2017 o Middle Of The Road, seu 18º álbum, o 17º de estúdio. Põe frenético nisso.
São 11 faixas (de novo) frenéticas, sob o aspecto de performance de Gales na guitarra, na voz e da banda. Aspirantes brasileiros a rhythm section de blues e derivados, ouçam com muita atenção o que esses caras fazem na cozinha básica por favor: Aaron Haggerty bateria , Dylan Wiggins Hammond B3, e o próprio Gales no baixo. Se copiarem direito, estarão entre os mais aptos para a função.
Os timbres de guitarra em alguns momentos são tão espetaculares que podem congelar o sangue nas veias dos mais sensíveis. As faixa 2 e 3, Change in Me e Carry Yourself, respectivamente, já mostram o que estará por vir nessa área.
Boogie Man (4) começou com um dos melhores timbres de guitarra que ouvi nos últimos dez anos, mas espera… este que ouço agora no meio da mesma música nem parece tão infernal. Ah, já sei, Gary Clark Junior, o queridinho do momento, apareceu de convidado. Não que seja mau o timbre dele, pelo contrário, soa P90 ou Classic 57 dos bons mas, conversando com a guitarra de Gales, assim lado a lado, a diferença fica escarrada. É Volks versus Porsche.
Voltando ao endiabrado Gales, a primeira faixa, Good Time, dá aula de groove e de guitarra logo de cara. Me lembra Face The Face, de Peter Townsend, nos anos 1990. Macacos me mordam se Gales não a teria ouvido e guardado no inconsciente. Petardo.
Been So Long, faixa 5, é meio reggae ou ska, possível tentativa de tocar em rádio, suponho. Nada de errado nisso. Não é a minha praia, no entanto, soa meloso e antigo, embora a letra seja uma das melhores. Repetition (a 8) tem participação de Eugene Gales, seu irmão mais velho. Meio Sly & The Family Stone, meio rap (espera, não é o mesmo?) misturado com Jimi! Groove!
Em Help Me Let Go o frenesi sossega e dá lugar a uma balada-soul bonita.
A maioria dos temas mostra a influência que Jimi imprimiu na cabecinha do menino Eric, que nasceu em 1974, época em que o mago ainda era venerado em todas as rádios do planeta. Hoje é Justin Bieber, Despacito e coisas como Chainsmokers, que fazem pose e sobem na mesinha de mixagem com dancinhas afetadas, enquanto apertam botões que misturam retalhos de músicas feitas pelos outros.
O álbum termina com Swamp, retomando o frenesi (e que frenesi!) e aqui acredito que o inigualável Magic Sam tenha sido a inspiração central. Se alguém encontrar com Eric Gales, por favor pergunte se Looking Good de Sam soa familiar! E me conte depois.
Como guitarrista, Gales deixa mais da metade dos congêneres do planeta no chinelo! Só por isso já vale a audição.
Abraço, pessoas atentas!