NUNO MINDELIS
Geralmente sou renitente em falar do blues feito hoje em dia, porque não sai do lugar há mais de 40 anos. Meu editor (que chique não?) Lucas Krempel me deu umas sugestões sobre blues contemporâneo. Algumas não comentarei, porque aprendi que se não se tiver nada de bom a dizer sobre alguma coisa, é melhor não dizer nada.
Mas posso comentar esta, que mostra um artista com bom gosto, bom guitarrista (incluindo slide) e de cujo vocal gostei muito. Por essas qualidades e pela estrada e história que tem seria injusto não falar sobre ele, que atende pelo nome de Collin James. O album é Blue Highways (2016) .
Achei Interessante a citação à vertiginosa Looking Good (Magic Sam) um dos maiores gênios da guitarra e vocal do Chicago Blues a quem a história deve aplauso e louros, tantos quanto conferiu a Robert Johnson. Collin fez isso na primeira faixa (Boogie Funk), não sei se voluntária ou acidentalmente e certamente sem um décimo da vertigem. Mas o fato é que qualquer referência a Magic Sam deve ser sublinhada.
Aplauso para Going Down, o clássico eternizado por Jeff Beck. Gostei. Slide campeão e muito bem timbrado em Don’t Miss Your Water. O tema como um todo está bem bonito, dói um pouquinho quando para e gosto quando isso acontece.
Agora vamos à ranzinzice: continuo chateado com a mesmice que impera no gênero há mais de quatro décadas, torcia para uma surpresa. Mesmice por mesmice, há muito mais impactante e arrebatadora sob todos os pontos de vista (incluindo os importantíssimos linguagem e legitimidade), como JJ Grey & Moffro, Eric Gales, Tommy Castro , Derek Trucks, Warren Haynes, Joe Bonamassa e por aí vai.
Também senti falta de assinatura pessoal, Collin ainda me lembra de vários. Deixei randomicamente uma playlist de guitarra blues e por ela não o identificaria facilmente.
A versão de Bad Dad Whisky (Amos Milburn) dos anos 1950 foi atualizada para os anos 1960 no máximo (apesar da sonoridade bonita e especial que tirou, devo ressaltar) a de Big Road Blues (Tommy Johnson) dos anos 1920 virou anos 1970, lembra algo que Johnny Winter faria, mas passa longe. Arrisco ao fazer estas declarações, o homem é cheio de prêmios no Canadá (onde nasceu e mora) mas acho que depois de quase 50 anos de blues nas costas e nos poros consigo saber o que digo com alguma precisão.
James fez umas canjas com Jeff Healey ahhh!! mas aí é outra história e para outro capítulo: Healey é um dos guitarristas mais matadores que já ouvi (a sua versão de While My Guitar Gently Weeps é uma das melhores de todos os tempos) e, mesmo tendo morrido há quase dez anos, é mais contemporâneo e atual que o conterrâneo.
Resumindo: Colin James é um veterano, sabe do assunto, toca bem, canta bem e bonito e tem bom gosto. Se você curte ouvir um blues na forma mais tradicional e não quer debruçar-se sobre a quintessência do gênero, inclua na sua playlist de final de semana na praia ou no carro.