NUNO MINDELIS
Uma do panorama nacional, eis que me chega às mãos o trabalho de um guitarrista jovem, consciente e talentoso chamado Leo Maier, de Blumenau. Infelizmente não pude comentá-lo a tempo (antes do lançamento, que foi 25/03) mas fica para quem quiser conferi-lo e/ou ir aos próximos shows.
Atende ele pelo nome de I Choose the Blues e, pela fidelidade às sonoridades mais representativas, dá para compreender a escolha do título.
A coisa toda começa com Good Luck Socks, um ‘Stomp’ vigoroso que emana legitimidade, no meio caminho entre o jump blues e o jazz . Leo empunha uma Epiphone (Casino ou Sheraton) e consegue extrair timbres muito bons e bonitos.
Em You’ve Been Drinking Too Much, a segunda das onze faixas, o trabalho da guitarra de abertura lembra os grandes do gênero, em timbre e linguagem. Aqui percebo que há um intercambio com o guitarrista e produtor do disco, Cristiano Ferreira que (se perspicaz fui) executa o solo central .
Na abertura de South to North Side, o autor arrisca um slide guitar . E concede uns compassos generosos ao tecladista que fez bem a lição de casa, consciente, proficiente no seu instrumento e na linguagem correta. Voltarei a falar dele. O slide volta depois disso e gosto mais dele agora. Não me perguntem por que , mas tenho a certeza de que voltou mais macio, verdadeiro e timbrado do que na introdução. Um dia saberemos.
A ‘cozinha’ básica (baixo e bateria) é competente. E, como sabemos, blues é simples mas não é fácil, sendo essa, portanto, uma função de muita responsa. A eficácia é perceptível em todas as faixas sejam jumps, slows, swings, boogies. (não foi por esquecimento que não mencionei Chicago Shuffle nessa lista, presente unicamente na faixa I’m Traveling, um dia explico) . Se considerarmos ainda o (justo) desconto da famigerada Red Light Syndrome (quando a luz vermelha do botão REC é acionada, há em geral uma perda de rendimento) tenho a certeza de que ao vivo os rapazes incendeiam o dobro. E o Leo também.
A homenagem à terra Natal está impressa na faixa 5, Blumenau Boogie, um instrumental suingado com guitarra para ensinar maturidade a muito marmanjo. E Leo mal saiu dos trinta.
Em That Crazy Girl, um groove à lá Slim Harpo, o tecladista (Junior Marques, anote aí !) mostrou com quantos paus de faz um solo decente, bonito e altamente groovy!
Continuando nos tributos, há um ao Rei BB na faixa We Miss The King e, de novo, parece que Leo e Cristiano alternam. Se você gosta de guitarra aproveite, pois os serviço dos dois é de categoria. E dá-lhe mais piano decente e bem projetado aqui também.
O disco encerra-se com a mesma música que o inicia, (gosto dessas coisas!) uma versão alternativa de Good Luck Socks, e acho que a prefiro. Deve ser a minha eterna propensão para lados B mais feios, sujos e malvados . Tudo nela parece mais ácido, mais à vontade, menos comportado, menos embrulhado para presente. Mas isso é gosto pessoal. A propósito, não seria justo não mencionar a sonoridade do álbum, é muito boa, tudo muito bem produzido, captado e misturado com visível perfeccionismo. Merece ser ouvido em speakers (ou fones de ouvido) decentes.
Enquanto sujeitos ranzinzas como eu acham que já passou do limite o repeteco da ’same old ’ fórmula desgastada do blues tradicional (seja aqui seja no próprio berço, EUA, seja na conchichina) e que o gênero precisa ser renovado urgentemente pelamor, pessoas nascem, se apaixonam por ele nos moldes tradicionais e, principalmente, respeitam com sabedoria os seus mestres . Portanto não há que cobrar oxigenação aqui. Seria ótimo se todos aprendessem com as raízes como este grupo fez. Só assim poderão quebrar as regras adiante.
Resta uma ressalva, leve mas importante, ao vocal : Léo é mais guitarrista que cantor e tem mais ouvido para música do que para línguas. Nada que não possa ser aprimorado pela longa carreira que tem pela frente.
Isso aí, abraço às pessoas antenadas !