Radar #11 – Patrick Sweany – Daytime Turned to Nighttime

Radar #11 – Patrick Sweany – Daytime Turned to Nighttime

NUNO MINDELIS

De vez e quando a gente tropeça em coisas muito boas. É o caso de Patrick Sweany, que me parece não ter o destaque que o corpo da sua obra e a visceralidade de sua arte realmente merecem.

Este trabalho saiu em 2015 mas ainda vale comentá-lo, mesmo em tempos de lançamentos digitais à velocidade da luz e em quantidade também cósmica. Hoje, qualquer um realiza e distribui um trabalho para o planeta inteiro a partir do banheiro da casa, com um iPad e um Garage Band instalado. É o que basta mas, se não tiver iPad, também dá para fazer com um smartphone. O problema é se tudo isso merece ser ouvido. Todos podem escrever, o que não significa que sejam escritores. Patrick certamente merece.

Para começar, é um desses caras que reunem o melhor dos dois mundos: o talento e a dádiva de nascer com uma voz que, sozinha, já é mais da metade do assunto. Por causa disso tudo é que no final dos anos 1990 começou a dar o que falar, como violonista e cantor; basicamente um set acústico, banquinho e violão. Logo depois formou um trio elétrico e lançou um disco (I Wanna Tell You) que recebeu elogios rasgados de gente grande, como Jimmy Trackery e Dan Auerbach, do Black Keys, entre muitos outros figurões. Daí para a frente, vento em popa.

Apesar disso, por ser mais intimista, para onde o levam esses ventos? A indústria gosta de sangue e corpos nus, há pouco espaço para arte, na verdadeira acepção do termo.

A primeira faixa do excelente Daytime to Nighttime, First Of The Week, arrebata de imediato. Aí você acha que nenhuma poderá superá-la mas logo esbarrará com Here to Stay, depois com outra e mais outra, por aí vai.

No momento a que mais ouço é a oitava, Nothing Happened at all. Se o disco tivesse só esta, já estaria devidamente pago e o seu lançamento justificado. Mas calma, ainda tem Long Way Down, que já começa a produzir dependência.

E que tipo de música faz Patrick? Folk rock? Soft rock? Soul rock? Sei lá! Os releases dizem ‘Americana, blues, southern rock’ . Seja o que for, é impregnado de legitimidade e de pegada!

Comparar é tenebroso (especialmente aqui, em que a originalidade é escancarada) mas às vezes Neil Young me vem à cabeça e, em outras, John Fogerty. Dois pesos pesadíssimos de cujas influências é quase impossível escapar ileso, quem sabe foi o caso deste valioso personagem!

Não percam, pessoas antenadas!