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Radar - Nuno Mindelis

Radar #21 – ZZ Ward – The Storm

NUNO MINDELIS

Novos tempos, novas tecnologias, novas gerações, novas definições sobre gêneros musicais. Que o mundo mudou já se sabe, mas que mudou muito mais do que se acha que mudou, parece que nem todos perceberam. O blues de Robert Johnson a Elmore James e, dele, a Stevie Ray Vaughan, parece ser atualizado (a bem ou a mal) por nomes como Fantastic Negrito, sobre o qual escrevi há um tempo aqui, que levou o Grammy “melhor álbum de Blues contemporâneo.

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Agora é a vez de ZZ Ward, cujo trabalho mais recente emplacou nº1 em blues na Billboard, nº 12 no chart de rock e nº 75 nas ‘200 mais” da mesma Bíblia. Pode-se discordar do critério, mas Billboard é Billboard.

Assim como Fantastic Negrito, encontramos levadas modernas, com certa dose de hipnose, permeadas por elementos do blues ancestral como gaita, guitarras com distorção e outros quetais, mas mixados de forma mais eletrônica, com muito mais ‘sala’ que a usada no gênero tradicional. Aliás, aproveito para externar uma teoria minha: hoje em dia muitos artistas que tem o blues como DNA, mas querem soar ‘modernos’ e ‘cool’, recorrem a escondê-lo ao máximo. Então empurram todos os indícios do gênero bem para o fundo da mix. O resultado pode ser simpático mas faz o jogo do mercado apenas, não é seminal; é, como disse, simpático.

A voz da beldade ZZ (a moça é vistosa!) tem um timbre peculiar e atraente, canta bem e é cheia de pose e charminho premeditado, por mais natural que queira fazer parecer o recado. (Nos EUA e em outros circuitos no mundo ninguém chega a lado nenhum se não for realmente competente, não precisaria dizer que canta bem, perdão por isso).

Há refrões piegas e mais do que batidos (The Storm, faixa título, é um exemplo, parece que já ouvimos aquilo zilhões de vezes antes, Domino, a quinta faixa, também e monte de outras) mas há instrumentais precisos, bem bolados, produção muito bem cuidada. (Perdão de novo).

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Em Let It Burn há abertura com um Dobro ou National e resquícios do Delta do Mississipi. Bag Of Bones começa com um violão bonito e bem timbrado e batida que provavelmente aponta para a que os prisioneiros do Sul faziam ao quebrar pedras com as picaretas, na época da escravatura. E de repente um baita solo de blues, sem medo de aparecer como tal, no mesmo violão.

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Há participação do Xavier Dphrepaulezz (tente pronunciar sem ouvir “saúde”), mentor do Fantastic Negrito (que aparece como convidado) e muita semelhança no conceito. Apesar disso, Negrito soa para mim mais original, mais legítimo, em seu trabalho.

A sexy ZZ já fez turnê com Clapton e participou como convidada de um disco de Robben Ford. E última faixa tem a participação de Gary Clark Jr, guitarrista de blues (blues?) da novíssima (ou será que já não?) geração.

No tocante a oxigenar as linguagens, o talento envolvido nestas produções é certamente muitíssimo mais valioso e digno de nota que o das duplas de DJs que usam a mesma eletrônica sem serem músicos e/ou artistas. Mas talvez você tenha que ter os mesmos menos de 20 anos para gostar.

Abraço às pessoas atentas!

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