NUNO MINDELIS
Ouvi Egypt Station, álbum novo de Paul McCartney. Ouvi com fones algumas vezes e, de novo, outras tantas em falantes decentes. Certos trabalhos requerem esses cuidados. Gente como McCartney, Dylan (e mais uns dois ou três) devem ter toda e qualquer coisa que publicam conferida. McCartney não é apenas mais um, é um do panteão e o panteão tem no máximo uns cinco.
A audição obriga a dizer logo que os timbres são celestiais, para dizer o mínimo. Violões, baterias, pianos (ouch!!) guitarras, enfim, tudo.
Depois de 36 anos, o ex-Beatle consegue chegar à primeira posição no chart da Billboard. Antes, foi com Tug Of War, em 1987.
Outra coisa que “salta aos ouvidos” é o vocal do septuagenário. Em algumas passagens, parece que ainda tem 18 anos. E Paul está feliz, diz isso com todas as letras em Happy With You, uma balada lindíssima que começa com um violão. I’m happy with you, ele canta. “Got a lot of good things to do”, continua. “I used to get wasted, but these days are gone”. Hmmm, tem a ver com Nancy Shevell, a sua nova patroa, que o fez voltar a sorrir, certo?
Mas antes disso…ahh antes disso existe I Don’t Know, a faixa 2 (que na verdade é a 1, pois o que vem antes é apenas um efeito de 42 segundos). Até agora a minha predileta. A vantagem de grandes compositores e músicos como Paul é que as prediletas, em muitos casos, vão se alternando. Por enquanto é esta, de um total de 16. Não falei que está feliz? Quem com essa idade grava 16 faixas hoje em dia?
Em Confidante, ele fala da decepção que teve com alguém em que muito confiava (“mais do que nos melhores amigos”) e a quem revelou os seus mais escondidos segredos. Hmmm, ainda não me informei bem sobre esta letra, mas macacos me mordam se não teria sido feita por causa de Heather Mills, a ex-patroa.
Who Cares (faixa 5) é um rock and roll para nunca mais ninguém esquecer quem praticamente inventou o gênero. Macacos me mordam de novo se a guitarra que faz a introdução e, permanece provocadora e visceral durante o tema todo, não é uma LesPaul dos anos 1950. No meio, uma citação bem sutil ao riff lendário de What I’d Say, imortalizado por Ray Charles.
Paul fala em paz, People Want Peace, Lennon gostaria de saber. E fala do Brasil: Back in Brazil, faixa 11. Legal, não? A música é legal, mas o arranjo em si me parece estranho (nunca compreendi porque os gringos não chamam logo uma banda brasileira inteira para fazer a cozinha, evitando estereótipo). Mesmo assim não está tão mal. Dá para ouvir o que seria um triângulo e o refrão é “Ichiban, ichiban, ichiban, ichiban, ichiban, ichiban, ichiban”. Isso mesmo, sete vezes. E por que em japonês? Ainda investigarei, se tiver paciência.
Caesar Rock, faixa 13, traz sonoridades legais, alguns momentos psicodélicos, diria. E ilustra o vocal bastante preservado de que falei antes. Hunt You Down Naked (16) é um rockaço com riff quase igual a Locomotive Breath, de Jethro Tull em Aqualung.
Seja lá o que for, um trabalho de Paul será sempre um documento obrigatório e é bom saber que ele está feliz aos quase 80 anos. Queria eu!
Abraços, pessoas antenadas!