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Radar - Nuno Mindelis

Taj Mahal & Keb Mo – Tajmo / 2017

NUNO MINDELIS

De um lado Keb Mo, três vezes ganhador do Grammy na categoria Blues. Elegante, refinado e bluesy, muito bluesy. Combina a tradição com o novo de forma natural. Daí ser frequentemente premiado como Blues Contemporâneo. Justíssimo. É influenciado por várias tendências de várias gerações, pop, soul, blues, jazz etc. Acredito que traduz, como quase nenhum outro, o novo bluesman negro da América. Mais que Gary Clark Jr., certamente.

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De outro, Taj Mahall, 75 anos, veterano dos veteranos, nascido no Harlem / NY, é dele a versão que mais me impactou de Sweet Home Chicago até hoje. Ouvi-a em 1975, aos 17 anos e lá estavam os vocais femininos das igrejas, tão tradicionais do seu bairro, numa versão gospel da música de Robert Johnson. Incrível.

Taj Mahal é bluesman intelectualizado (como Keb Mo), fez cinema, curso superior, pesquisou a música do Caribe, o soul, um obcecado pelas raízes, pelo blues, África, tudo. Não estava nas plantações de algodão. Nem Keb Mo. Aliás, esse tempo já se foi e sobram alguns pouquíssimos herdeiros nonagenários. A vida segue, os meios mudam, o planeta roda, e a música e a genialidade continuam. Como tudo.

Keb e Taj fizeram o disco ‘Tajmo’ em 2017. Só as vozes dos dois já seria uma razão para conferi-lo. Taj Mahal tem aquela coisa estranha e invulgar de extrair várias notas ao mesmo tempo das cordas vocais. E Keb Mo tem uma das melhores vozes negras que ouvi desde a época dos heróis dos 60s. Encaixa como luva, desce redondo, o ambiente muda quando a voz entra. Isso não é pouco.

O disco é cheio de tendências, Pop, Disco, Soul, muita coisa parece feita para tocar na rádio, com tudo o que isso possa ter de bom: o cuidado altamente eficaz das gravações, produção impecável, masterização, execução etc.. É irrepreensível e surpreende sob esse aspecto. Quando a gente acha que já se chegou ao máximo da proficiência nessa área, aparece um produtor que faz a coisa parecer mais impossível ainda.

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O disco abre com Don’t Leave Me Here, um petardo soul-blues daqueles! E segue com She Knows How To Rock Me, um ‘creole” da pesada! Na terceira faixa, All Around The World, parei para pensar. Achei que era “disco music”.

https://www.youtube.com/watch?v=VEVsL6hZUEk

Depois saquei que talvez tenha sido muito radical. A introdução pode enganar, meio eletrônica. É música negra, com toques de Caribe, balanço total, extremamente bem produzido como já disse e poderia tocar na rádio todos os dias, várias vezes. E a coisa continua entre soul, grooves, blues e derivados, Keb tocando o seu dobro marca registrada com frequência e Taj Mahal a sua gaita idem.

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Uma surpresa muito legal foi Squeeze Box, música escrita por Pete Townshend para o álbum The Who By Numbers, em 1975! Pois bem, aqui está a versão negra dela, Mississipi Style (com acordeon Zydeco e tudo).

A música Soul (faixa 10) não é o soul que se espera, apesar do nome. Nada de Otis, James Brown ou Al Green. É bem legal mas lembra-me bem mais da minha terra. Dizem que tudo nasceu em África, do homem ao Blues, à água e aos oceanos. Ok então, o soul também.

Confiram, pessoas musicais!

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