A sina de bandas de abertura é fazer shows vazios e sem receber muita energia das poucas pessoas presentes. Não foi o caso do Dona Cislene que foi a responsável por aquecer o público para Anti-Flag, Dead Kennedys e Offspring na noite dessa quinta-feira (01), no Rock Station, em São Paulo.
Com show curto e cerca de metade da capacidade do Espaço das Américas, a casa que comporta até 9 mil pessoas, a banda mostrou seu trabalho autoral e agradou o público com confiança mostrada em cima do palco. Com forte influência do rock alternativo brasileiro dos anos 1990, a apresentação terminou cedo, pouco depois das 20h.
The Press Corpse, do disco for Blood and Empire (2006), foi a escolhida para abrir o show do Anti-Flag. O baixista Chris #2 é quem comanda o show, conversando com o público e pulando o tempo todo. Engajados, pediram para todo mundo levantar o dedo do meio antes de tocarem Fuck Police Brutallity.
Filhos da geração pop punk da década de 1990, a banda de Pittsburg promoveu um pula pula na plateia em Sky Is Falling. A banda se mostrou ligada aos protestos que vêm acontecendo nos últimos dias e disseram ser uma honra tocar em uma cidade onde as pessoas assumem sua posição.
“Não sei como vocês conheceram o punk, mas esses quatro babacas aqui começaram assim”, disse Chris #2 antes de tocar Should I Stay or Should I Go do The Clash. Ele e o baterista Pat Thetic desceram – com bateria e tudo – para o meio do público e tocaram uma música no meio do público, antes de voltarem ao palco para Power To The Peaceful, que fechou o show.
Se um bom repertório e um primeiro disco com tantos clássicos que parece uma coletânea é a fórmula do sucesso, o outro lado da moeda é cruel. O segredo para um show decepcionante também é simples: som ruim, banda sem vontade e mal ensaiada e, consequentemente, um público apático. “É dureza, garotos, mas é a vida”, diz aquela música.
O Dead Kennedys abriu sua apresentação com Forward To Death. Com problemas no som, a banda demorou mais de cinco minutos até a segunda música da noite, Police Truck. Enquanto isso, o baixista Klaus Floride e o o vocalista Skip McSkipster tentaram entreter o público, enquanto o guitarrista East Bay Ray se entendia com a equipe de som na lateral do palco (“Bem vindos à segunda passagem de som”, brincou o baixista), mas isso não impediu as vaias. Skip ganha pontos por não tentar ser o novo Jello Biafra, mas é muito caricato e soa falso.
Lenta e fria, Let’s Lynch The Landlord antecedeu Kill The Poor. Quando tocaram Mp3 Get Off The Web – versão atualizada de MTV Get Off The Air – o vocalista reclamou que tinha mais gente olhando para telas que para a banda no palco. A coisa parecia que ia esquentar quando o soou o riff inicial de Too Drunk To Fuck, mas aí veio uma Moon Over Marin desencontrada, que mostrou um Dead Kennedys pouco à vontade. Isso ainda ia piorar…
O baterista negro DH Peligro falou sobre o problema do racismo nos EUA, onde ter sua cor de pele não é cool. Foi a deixa para Nazi Punks Fuck Off. Uma das mais esperadas, California Über Alles, foi a primeira a realmente ter uma resposta da multidão que lotava o Espaço das Américas. A reação foi tão boa que Skip deixou o público cantar a parte lenta no meio da música.
O bis veio com Bleed For Me, seguida de Viva Las Vegas. Nesta, Ray se perdeu totalmente, tocando um trecho da música, enquanto o resto da banda tocava outras partes. O show terminou com Holiday in Cambodia, que agradou os presentes.
Já era quase meia noite quando o Offspring subiu ao palco. Em êxtase, o público do Espaço das Américas cantou todas as músicas. You’re Gonna Go Far, Kid foi a primeira da noite, mas a coisa saiu do controle de verdade na terceira música, Come Out And Play, que teve ajuda do público cantando a melodia do riff. Mesmo músicas novas, como Coming For You foram bem recebidas pela plateia, que sabia a letra e cantava junto. Em The Meaning of Life, o guitarrista Noodles – que corre o show inteiro, de uma ponta à outra do palco – pediu um pit e foi prontamente atendido.
O vocalista Dexter assumiu violão para a balada Kristy, Are You Doing OK? e o hit Why Don’t You Get A Job?, seguida por I Want You Bad. Chega a impressionar que, mesmo depois de mais de 20 anos, ele ainda alcance o tom tão agudo das músicas. Pretty Fly (For A White Guy) e The Kids Aren’t Alright encerraram a primeira parte do show. Novamente, o riff foi cantado em uníssono, como em um jogo de futebol.
No bis, a banda voltou para tocar Americana, que dá nome ao disco que lançaram em 1998. Nessa hora, Noodles disse ser a primeira vez que o Offspring toca com o Dead Kennedys e contou que Dexter já apanhou da polícia em um show do DK (“Isso é punk!”), enquanto ele ficava em casa praticando guitarra para ser como East Bay Ray (“Ele fez usar óculos ser uma coisa legal”, disse). Para fechar a noite, o quarteto da Califórnia, escolheu um dos primeiros hits deles, Self Steem.
Enquanto as pessoas se dirigiam à saída da casa, o sistema de som tocava Always Look On The Bright Side of Life, do grupo de humor inglês Monty Python, que leva à reflexão: mesmo com o show fraco do DK, é bom olhar o lado bom e lembrar do Anti-Flag e Offspring.