Noventa por cento (numa estimativa conservadora) das pessoas que gritavam freneticamente diante de um Simon Le Bon de sapatos verde limão e calça e jaqueta brancas, ontem, nem sonhavam em existir quando o Duran Duran era a maior banda pop do planeta. Mas se comportaram com a mesma devoção eufórica que movia os ‘duranies’ originais.
Atração nostalgia do segundo e último dia do Lollapalooza, o Duran Duran foi relegado a um horário reservado às atraçoes de menor prestigio ou menos conhecidas do festival. O sol ainda forte do fim da tarde tirou muito do apelo dos telões e anulou a iluminação de palco.
Isso significou uma coisa para a banda – tiveram de se virar com o que resta de força do próprio repertório e da performance carismatica de Le Bon. A boa notícia para os fãs é que esses ingleses estão há mais de 30 anos ininterruptos na estrada por uma boa razão.
O Duran Duran entrega o que promete, um show repleto de ‘hits’ do começo ao fim e uma eficiência que não deixa de ser surpreendente nas músicas dos últimos álbuns. São ingleses, ok, mas sabem fazer uma multidão dançar.
Com o sol dando uma trégua a partir da metade do show, a banda fez valer cada centavo do que investiu em chuvas de papel picado colorido, imagens de neon nos telões e toda a parafernália visual que denuncia o espírito estritamente festivo de seus integrantes.
Como um vocalista muito longe do seu auge, o ex-ídolo adolescente Simon (“the name is Le Bon, Simon Le Bon”, como ele se apresentou) não perdeu muito da intensidade de antes. Sua performance vocal é a comparável à de um veterano como Rod Stewart.
Mas agora, como no inicio dos anos 80, quando a banda surgiu, o que segura qualquer álbum ou show é a base rítmica de Roger Taylor (bateria) e John Taylor (baixo), com a moldura dos sintetizadores de Nick Rhodes. Sem isso, o Duran Duran seria uma banda pop como inúmeras outras.
E para uma banda de (ainda) considerável apelo popular, o show de ontem terminou com um deslize inexplicável, a ausência de Save a Prayer. É o mesmo que o Metallica, que tocou na noite anterior, deixar Enter Sandman de fora do repertório.
O Duran Duran deixou de ser o estado da arte no pop há muito tempo. Sobrevivem jogando pra torcida, o que está longe de ser algo ruim, quando feito com competência. Isso a banda tem de sobra. Só faltou esse ‘fair play’ com um público que parece idolatrar a banda. E que não é tão fácil assim de renovar.
Set list
The Wild Boys
Hungry Like the Wolf
A View to a Kill
Last Night in the City
Come Undone
Notorious
Pressure Off
Ordinary World (com Céu)
(Reach Up for the) Sunrise / New Moon on Monday
White Lines (Don’t Don’t Do It) – (Grandmaster Flash & Melle Mel cover)
Girls on Film
Rio
Fotos: Breno Galtier / MRossi