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Resenha de Shows

No Lolla, a dança se torna catarse com o LCD Soundsystem

EDUARDO CAVALCANTI

O Lollapalooza poderia ter acabado no último acorde de All My Friends, a canção-assinatura do LCD Soundsystem, na noite de sexta-feira. A banda nova-iorquina liderada pelo cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor James Murphy não foi só a maior atração do primeiro dia do festival, mas dificilmente será igualada – e menos ainda, superada – por qualquer outra das dezenas de atrações, nestes dois dias restantes.

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O LCD Soundsystem não é uma banda convencional. É mais um conceito, um projeto dedicado a explorar as possibilidades de alguns dos períodos mais inovadores da música contemporânea, principalmente a fase Berlin de David Bowie, de 1977 a 1980, o ponto onde a eletrônica e a dança entraram definitivamente no léxico do rock.

Nos álbuns, o LCD se resume a Murphy, que toca todos os instrumentos, com a participação de um ou outro músico. Ao vivo, se torna uma banda de verdade, com mais meia dúzia de integrantes, muitos deles se revezando nos instrumentos.

Num festival que tem como headliners bandas dedicadas ao rock clássico, convencionais na forma e no conteúdo, como Red Hot Chili Peppers e Pearl Jam, a proposta de James Murphy é revigorante, em termos de ideias, e brilhante na execução. Mais que isso, o LCD resume a própria noção do que significa um show ao vivo, no que ele deve ter de impacto sonoro puro.

A própria formação da banda, no palco, é inusitada. É um grupo compacto, com um núcleo de sintetizadores analógicos; um baterista que toca de lado para o público, em primeiro plano; um guitarrista sem exibicionismos; um baixista firme, que faz toda a base; e Murphy como mais um integrante, no mesmo nível de visibilidade dos demais.

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Não é à toa que o som do LCD parece estar sempre a ponto de derreter o metal das armações do palco. Essa formação concentrada de músicos não produz diversão, e sim momentos de catarse. Isso, sem que o público tenha que parar um minuto sequer de dançar.

Esta foi a maior lição que James Murphy aprendeu com Bowie – de quem quase produziu o último álbum, Blackstar. O LCD Soundsystem faz um som cerebral, sem nunca deixar de ser acessível, ou empolgante.

Parte do público que lotou o espaço do palco Ônix, no começo da apresentação, entendeu de outro modo. Aos poucos foi migrando para o previsível show do Red Hot que começaria a seguir, ou para a competente (mas também livre de inovações) rave do DJ Alok.

Como já havia acontecido com o Spoon, duas horas antes, o LCD tocou para os convertidos. E nisso, foi não só brilhante, como provou ser uma das poucas bandas, hoje, que podem ser consideradas essenciais.

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