Enquanto o Brasil inteiro se prepara para o Carnaval, e o mundo decreta que o rock se encontra em estado vegetativo, em Londres, mais especificamente no 02 Arena Kentish Town, as coisas parecem seguir uma outra lógica.
Jaquetas de couro, punhos cerrados socando o ar, pints de cerveja, headbangers, punks da nova e da velha escola, todos juntos, lotaram a charmosa casa de shows para uma verdadeira celebração do gênero.
Os pubs no entorno já estavam cheios por volta das 18h, quando todos começaram a entrar para apresentação do CKY.
A banda, que se tornou conhecida no final dos anos 1990 como a trilha sonora dos vídeos da série de filmes CKY (para quem não sabe essa série deu origem ao Jackass), chegou abrindo com The Human Drive in Hi-Fi e trouxe seu som que mescla stoner rock com skate punk, entre tantas outras referências.
Em resumo, botou o povo para dançar. Principalmente na clássica 96 Quite Bitter Beings.
Ser a banda de abertura em uma noite dessas não é tarefa fácil para ninguém. Mesmo assim, Chad I Ginsburg (guitarra e vocal) e Jess Margera (bateria) cumpriram bem seus papéis e foram bem aplaudidos pelo set.
Backyard Babies
A casa já estava cheia quando o sistema de som começou a tocar Friggin’ in the Riggin dos Sex Pistols e estrobos de luz anunciavam a chegada dos suecos do Backyard Babies.
A banda chegou atacando de Good Morning Midnight e o que se viu daí para frente foi um dos maiores shows de rock da atualidade.
Desfilando hits de todas as fases da banda, da grooveada Highlights e a recente Shovin’Rocks ao lindíssimo medley acústico de Painkiller e Roads até Look at You, a banda conquistou os fãs com uma performance impecável em todos os sentidos.
Dregen é hoje, facilmente, o último dos grandes guitar heroes, daqueles que não se contentam em apenas tocar bem o instrumento e se entregam de forma extenuante fisicamente, sem parar por nenhum minuto. Nick tem a segurança necessária de um frontman e não fica atrás, assim como o baixista Johan e o baterista Peder.[ngg src=”galleries” ids=”56″ display=”basic_slideshow” thumbnail_link_text=”Backyard Babies por Roberto Gasparro”]
The Wildhearts
Energia jogada às alturas e tudo pronto para a chegada dos donos da noite: The Wildhearts.
Verdadeiros heróis, sobreviventes dos loucos anos 1990, os Corações Selvagens entraram no palco ao som de Don’t Worry About Me, entoada por todos os presentes como se fosse um hino.
Luzes acesas e o ataque vem ao som de Everlone, clássico do debute Earth vs the Wildhearts, de 1993. Na sequência veio Diagnosis, do recente Renaissance Men, com a sua forte mensagem sobre doenças mentais e cantada plenos pulmões pelos fãs.
Aliás, chama muito a atenção a força que as músicas do último disco têm ao vivo e o seu poder de sing-a-long, vide por exemplo Let ‘Em Go.[ngg src=”galleries” ids=”57″ display=”basic_slideshow” thumbnail_link_text=”The Wildhearts por Roberto Gasparro”]
Não faltaram clássicos como TV Tan, Sick of Drugs e Vanilla Radio, todas executadas com bastante urgência e dedicação. Era como se esse fosse o último show da vida dos caras. Um verdadeiro exemplo de como uma boa banda deve soar ao vivo.
A autoproclamada “Máquina de Rock de 7 Pernas” emocionou com o vigor. Em especial pelo carismático baixista Danny McCormack, que mesmo sem ter uma perna, se moveu de um lado ao outro. Todavia, sem demonstrar cansaço e sorrindo para todos.
O vocalista e guitarrista, Ginger Wildheart, comandou a máquina desfilando riffs e uma performance vocal invejável. Em síntese, foi do melódico ao gutural com naturalidade, muito bem acompanhado pelo guitarrista CJ. O instrumentista, além da parceria nas seis cordas, harmonizou os vocais de forma precisa.
Política no show? Sim!
Este foi o primeiro show da banda pós Brexit e o vocalista não perdeu a oportunidade para mandar o recado.
“O Brexit está feito, todas as leis foram jogadas pela janela. Então, todos que estiverem aqui, fiquem livres para subir no palco caso queiram”.Ginger Wildheart
Na sequência, atacou com a energética Caffeine Bomb com o baterista Ritch massacrando seu kit.
O show seguiu com a energia ao máximo. Quando veio I Wanna Go Where The People Go, a simbiose entre banda e público já estava completa.
Posteriormente, uma pequena pausa. No entanto, o bis veio forte. Mais uma vez precedida de Don’t Worry About Me. Sem tempo para conversa, os caras mandaram My Baby’s a Head Fuck.
No encerramento, Love You ‘Till I Don’t deixou todos com a certeza de que essa é uma banda revigorada. Ademais, ávida por alcançar novas marcas e pronta para quem sabe desbravar novos mares. Brasil? América do Sul?
É, aparentemente, o rock anda muito bem obrigado pelas terras da rainha. E se ele está em coma, como alguns dizem, isso tem mais a ver com a desinformação. A qualidade do que anda sendo produzido atualmente é inegável.