WLADIMYR CRUZ
Fotos: LUDMILA BONANI
Antes de estourar com o RPM, Paulo Ricardo escrevia sobre música na imprensa brasileira. Fã e conhecedor de rock, manjou um monte de coisas primeiro que muita gente. Assimilou e aprendeu como se faz. Com sua banda, sempre jogou pro público, entregando a eles exatamente o que eles queriam, reunindo plurais referências do que de mais assertivo viu no rock por ai. Trinta e cinco anos depois e ele continua a fazer isso, e muito bem.
Em sua passagem pela Capital Disco, em Santos, na última sexta-feira (23), Paulo Ricardo fez um show certeiro, de greatest hits, mas também recheado de referências de outros artistas, e claro, de seu próprio passado musical.
Acompanhado de uma banda mega competente, revisitou parte do seu cancioneiro com o RPM – Revoluções Por Minuto, Alvorada Voraz, Vida Real, Juvenília e A Cruz e a Espada vieram na sequência inicial. Depois com Louras Geladas, Rádio Pirata, as versões de London London e Flores Atrais (esta última com muitas luzes verdes no palco, lembrando os lasers da tour do Rádio Pirata), e Olhar 43 pra fechar o show. Se lembrarmos que na época o RPM emplacou até uma música instrumental (Naja) como uma das mais tocadas do país, Paulo foi comedido e deixou muita coisa de fora do repertório.
De sua carreira solo, que nem sempre versou pelo rock, resgatou sua versão para Imagine de John Lennon e o single A Um Passo da Eternidade, seu primeiro sucesso solo. Houve espaço ainda para uma versão “meio Santana”, segundo palavras do próprio vocalista, para Agora Eu Sei, canção gravada originalmente em andamento dark ao lado do Zero, que aqui ganhou cores de rock latino.
No restante do set, o Paulo-jornalista-de-rock citado no começo do texto, dá as caras. Usa de seu conhecimento e gosto para preencher o show com covers e versões que dialogam com sua carreira e acertam em cheio seu público: Beautiful Girl do INXS, Bittersweet Symphony do The Verve, Exagerado de Cazuza, Tempo Perdido da Legião Urbana, além de cacos e citações a Save A Prayer do Duran Duran, Easy dos Commodores e You Can’t Always Get What You Want dos Stones.
O clima de celebração, de ode ao rock, era o tom da noite. Até mesmo no show de abertura, de Murilo Lima e o Bando, conjunto que conta com grandes músicos da região – entre eles, Nando Basseto, hoje guitarrista do Garage Fuzz – tocando clássicos do rock brasileiro e mundial: U2, Plebe Rude, Oasis, Legião Urbana, Queen (impressionante interpretação de Don’t Stop Me Now), Tears For Fears, entre outros.
Com o misancene completo, troca de figurinos e todos aquele jogo de sedução executado desde os anos 1980, Paulo Ricardo mostrou que continua sendo, ao menos pro seu público cativo, o mesmo galã de outrora. Musicalmente continua afiado, se diverte no palco e seu carisma continua em alta.
Crítico musical que sou (assim como ele foi) não poderia deixar de cornetar e comentar que, talvez coubesse no set-list algum ‘lado b’ do RPM, por mais trevoso que este soe hoje em dia, para saciar os fãs mais ortodoxos, algo como ‘Pr’ Esse Vicio, Liberdade / Guerra Fria ou Sob a Luz do Sol. Puro preciosismo meu, pois no final das contas, como falei, Paulo Ricardo faz o show que seu público quer ver. E o faz muito bem, há mais de 30 anos. Paulo knows it all…
