A curta estrada do Blind Melon

A curta estrada do Blind Melon

O Blind Melon é uma daquelas bandas que prometeu muito mas, por pregações de peças cruéis do destino, acabou morrendo no meio do caminho. A morte prematura do vocalista Shannon Hoon, por overdose em 1995, obrigou o grupo a encerrar suas atividades após apenas três discos lançados (um deles, póstumo).

Com uma sonoridade inovadora e autêntica, o Blind Melon estourou nas rádios pela primeira vez em 1992, com o single No Rain. O clipe, que ficou conhecido como o “clipe da abelha” por muitos, não demorou muito para se tornar um dos mais repetidos da saudosa MTV. A música viria a dar um fardo de one-hit-wonder pra banda, visto que as outras faixas do disco de estreia não se saíram, nem de longe, tão bem quanto ela na mídia.

O debute, lançado no mesmo ano, deu as caras do que era o grupo naquele período: um bando de neo-hippies contrapostos às necessidades da moda grunge do mercado. Muito diferente de tudo o que estava sendo feito (e olha que tinha muita coisa sendo feita), o trabalho apresenta tanto influências folk quanto as fritadeiras psicodélicas dos anos 1960. Isso tudo com a voz impecável de Shannon Hoon, que se não tivesse nascido três anos antes da morte de Janis Joplin, eu diria ser a reencarnação da mesma. Change e I Wonder são alguns dos momentos que merecem ser destacados. Outros pontos de alegria hippie moderna, como Tones Of Home, também são marcas fortes deixada pelo quinteto no disco.

Um ponto importante é que, além da voz, a imagem excêntrica do vocalista já era, por si só, um dos traços principais da banda. No meio tempo entre um disco e outro, a banda se apresentou no Woodstock de 1994, um dos poucos momentos gravados do cantor, mas que mostra com clareza seu carisma e personalidade:

https://www.youtube.com/watch?v=8MS4uWARuI8

Para o lançamento do segundo disco – após três anos de turnê – esperava-se que a banda já houvesse experimentado tempo e bagagem suficientes para apresentar um amadurecimento musical. E o resultado foi satisfatório. Soup, de 1995, é belo, consistente e empolgante. De prima um dos melhores e mais subestimados da década.

O disco abre com Galaxie, uma porrada que consegue ser psicodélica e grunge simultaneamente. Diferente do antecessor, as faixas exclusivas do álbum parecem ter um cuidado maior na conversação com o público, com refrões melhor elaborados e melodias puxadas para o pop rock. Isso, claro, sem deixar de lado o virtuosismo dos músicos e, muito menos, a qualidade sonora.

A instrumentação, aqui, abrange uma gama maior, com melhor utilização de instrumentos como banjo e gaita. Em Skinned, o uso do banjo é contrastado uma introdução de kazoo, um instrumento esquisito e pouco conhecido, usado na maioria das vezes na construção de músicas infantis americanas. A letra, como contraponto à essa observação, é a personificação de um psicopata canibal.

A gaita, por sua vez, fica evidente em Walk, um folk animado que nos remete ao Bob Dylan. O lado acústico do disco, com St. Andrews Fall e Mouthful of Cavities, apresenta algo mais denso e melódico. A melhor faixa, no entanto, é 2×4, que reúne os melhores picos do que costumo chamar de “simplicidade orgasmática” na guitarra.

Com a morte de Shannon, a banda encerraria suas atividades imediatamente. Nico, terceiro e último disco com o vocalista, foi lançado postumamente em 1997, com algumas sobras de estúdio e versões alternativas de faixas famosas, como No Rain.

Eles voltariam uma década e meia depois, com Travis Warren substituindo o vocalista original. Lançaram, sem muito alarde, o disco For My Friends em 2008. Apesar da qualidade instrumental, o disco se perde no fantasma de Hoon, e acaba soando como uma peça incompleta.

Segue, abaixo, os quatro álbuns completos no Youtube: