THIAGO VERPA (COLABORADOR)
“Nossos heróis estão envelhecendo e partindo.”
Cansei de ouvir esta frase nos últimos anos. Com o passar do tempo, ela foi se tornando cada vez mais real. Lemmy Kilmister, Malcolm Young, David Bowie, Prince, Chuck Berry, Jeff Hanneman, Warrel Dane… Apesar do legado eterno, a ausência dessas pessoas começa a deixar um grande vazio em uma geração que nunca mais encontrará algo parecido.
Mesmo vivendo em tal realidade, confesso que não estava preparado para a mensagem que recebi naquela manhã de quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018.
“Thiago, ficou sabendo? É real mesmo?”
Depois de clicar no link que acompanhava a mensagem, senti um rasgo por dentro, um choque invadindo meu corpo e me deixando totalmente sem reação. “Pat Torpey, do Mr.Big, morre aos 64 anos”. Eu não estava pronto! Não estava nem um pouco preparado para me despedir de um dos meus heróis, uma pessoa presente quase que diariamente em minha vida há 19 anos.
Ok, ele não era tão conhecido como Lemmy ou o Bowie, mas sua importância em minha vida não pode ser contabilizada.
Aos 13 anos, em meio às descobertas musicais que a maioria das pessoas vive nessa época, o Mr.Big entrou no meu radar por recomendação de um amigo. Foi aí que tudo mudou. A forma como eu consumia música mudou e minha noção sobre habilidades musicais foi elevada a outro patamar. Paul Gilbert, Eric Martin, Billy Sheehan e Pat Torpey trouxeram um novo brilho a este que vos escreve, mesmo sem terem o status de lendas como Bowie ou Lemmy. Heróis que deram a melhor trilha-sonora que eu poderia ter para a minha vida. Agora, parte disso foi embora e deixou um vazio imensurável.
Convenhamos, Paul Gilbert e Billy Sheehan são os que mais brilham na banda devido ao virtuosismo apresentado nos discos e ao vivo. Eric Martin é um frontman incrível com uma voz que mistura a potência de uma bomba com a profundidade e a leveza de um cantor de soul.
Mas, e o Pat?
Patrick Allen Torpey era o motor do Mr.Big. A cola que unia tudo isso de forma brilhante.
Carismático, amável e sempre com um sorriso, tendo na bagagem experiências com músicos como Robert Plant e Chris Impellitteri (um dos guitarristas mais rápidos de todos os tempos), Pat trazia levadas mirabolantes, uma voz de apoio afinadíssima e a cadência necessária para acompanhar a velocidade de Sheehan e Gilbert.
Em 2014, Pat foi diagnosticado com Mal de Parkinson (notícia que também recebi com muito pesar, afinal, isso significava que o meu herói não poderia mais tocar) e, apesar de tudo, ele soube lidar com a situação e se sobressair, lutando até o fim contra a doença que lhe tirou a vida.
O apoio da banda foi essencial. Em nenhum momento foi feita qualquer menção de desligá-lo do grupo ou substituí-lo rapidamente. Em um ambiente onde músicos são trocados por muito menos, os integrantes mostraram o grande coração que têm, mantendo Pat na banda e recusando excursionarem ou gravarem sem ele. Sob sua monitoria, trouxeram o Matt Starr (baterista do Ace Frehley) para que os shows pudessem acontecer. Ao vivo, Pat cuidava das vozes de apoio e de um kit de percussão, comandando a bateria em algumas músicas junto de seus companheiros.
Encerro deixando aqui uma recomendação: o disco Live in San Francisco. Depois de ouvir algumas músicas do Mr.Big, assisti a uma fita VHS contendo este show e ele foi a porta de entrada para o meu fanatismo atual e eterno. Esse registro mostra perfeitamente o músico incrível que Pat era. Ouçam em sua homenagem!
Até um dia, Pat.
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