Um dos pilares da psicodelia nordestina tem suas lendas e histórias revistas. O documentário Nas Paredes da Pedra Encantada resgata os mais de 55 minutos da mais fantástica incursão psicoativa da discografia brasileira. O filme narra os caminhos do Paêbiru, obscura gravação de Zé Ramalho e Lula Côrtes (1949-2011), que se tornou raridade entre colecionadores das velhas (e boas) bolachas – uma cópia original pode valer até 4 mil dólares.
Dirigido pelo cineasta gaúcho Cristiano Bastos, o longa disseca as lendas do clássico tupiniquim lançado pela gravadora pernambucana Rozemblit. Com longos depoimentos exibidos sem cortes, o filme tem quase duas horas de duração. E revela alguns dos significados contidos nas músicas e bastidores das gravações.
Verdadeiro trabalho de garimpo, o material se vale de entrevistas com artistas envolvidos direta e indiretamente no projeto. O documentário ficou pronto em 2011. E circulou pelos festivais de cinema nacional, com edição em DVD lançada pelo selo goiano Monstro Discos. Agora, já pode ser visto no YouTube.
Veja o filme:
O ponto alto do documentário é o retorno de Lula Côrtes (que ainda estava vivo na época das filmagens) à Pedra do Ingá. O monólito possui inscrições rupestres entalhadas na rocha que datam de, no mínimo, 6 mil anos. A mística inspirou o conceito do disco, de forma análogo ao que Stonehenge provocou no Pink Floyd.
Lailson, Alceu Valença e Kátia Mesel (responsável pelo belo design gráfico do projeto) também contam os bastidores da gravação. Zé Ramalho, como de hábito, não comentou o trabalho.
O álbum conceitual é considerado a linha condutora do udigrudi (corruptela de underground) recifense; movimento contracultural que sacudiu a capital pernambucana na década de 1970. O disco chegou às poucas lojas em 1975. Porém, viveu décadas de ostracismo até ser redescoberto na virada do atual século.
O álbum original tornou-se coqueluche entre os colecionadores internacionais. Calcula-se que apenas três centenas de cópias da primeira e única tiragem existem espalhadas pelo mundo. Isso porque uma enchente destruiu quase a totalidade da edição e dizimou a fita máster com as gravações, o que impossibilitou novas levas do disco à época.
Paêbiru manteve-se influente entre os fãs mais antenados e músicos por meio de cópias piratas. Novas fornadas do antológico registro só chegariam às lojas com mais de três décadas de atraso. Em 2008, o selo inglês Mr. Bongo reeditou trabalho, em edição especial de vinil 180 gramas e material similar ao original. Processo que foi repetido por selos gringos e pela única fábrica de vinil em operação no Brasil.
Ouça o disco