Arkie do BRock #30 – Um novo Secos & Molhados?

Arkie do BRock #30 – Um novo Secos & Molhados?

Desde março passado, uma suave esperança tomou de assalto os mais radicais e alucinados fãs do Secos & Molhados. Bastou Ney Matogrosso anunciar que iria se juntar aos pernambucanos da Nação Zumbi e revisar o repertório de sua antiga banda no Rock in Rio 2017, para sonhar num (improvável) reencontro da formação clássica do grupo que realizou a mais meteórica e avassaladora história de sucesso do rock brazuca.

Não me atrevo a cravar que Gerson Conrad, João Ricardo e Ney Matogrosso voltariam a dividir um palco apenas quando o inferno congelasse; pois seria plagiar as desventuras da Eagles, uma das bandas mais rentáveis da indústria musical dos EUA.

Seria ingênuo demais crer que eles colocariam seus egos de lado e encerrariam a guerra fria que travam há quase meio século a fim de reeditar o meteoro multicolorido que sacudiu o Brasil no começo dos anos 1970. Apesar das feridas ainda abertas e das rusgas que os unem, os três músicos mantêm em seus repertórios alguns clássicos dos S&M.

 

O Amor, original de 1973

Mas, ao ouvir a primeira versão do explosivo encontro entre Ney e Nação Zumbi, é possível crer que o sonho não acabou. A sensacional releitura de O Amor, quarta faixa do álbum inaugural da banda, deixa na boca o gosto ocre na expectativa pelas demais revisões dos clássicos dos Secos e Molhados.

 

A ação integra a campanha de marketing do Red Bull Studios para o festival. O material, embora breve, sinaliza que o agudo de Ney e o grave de Jorge Du Peixe se fundem com perfeição, trazendo um interessante contraste num das faixas mais suaves do primeiro LP lançado em 1973.

O Amor, com Ney Matogrosso e Nação Zumbi

A canção liberada carrega um leve vendaval da fase mais alocada às portas da percepção da banda pernambucana.  Desde (o fenomenal) Rádio S.Amb.A. (2000, YB Music), o qual a Nação Zumbi renasceu como fênix, o grupo tem investido no que batizou de “psicodelismo preto-e-branco”. E, dado ao peso psicoativo da canção, não é exagero imaginar que o som do Secos & Molhados deve ganhar um novo capítulo ao final do Rock in Rio. Até lá, não custa sonhar com a reedição do meteoro multicolorido que iluminou o tom acinzentado no instante que os Anos de Chumbo demonstravam sua face mais violenta.