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Arkie do BRock #32– O raro e obscuro voo solitário do Bango

Com guitarras distorcidas, envenenados sintetizadores e letras inclinadas à porta da percepção, o rock tupiniquim experimentou no final da década de 1960 doses cavalares de dietilamida do ácido lisérgico. Assim, produziu alguns dos mais classudos álbuns do gênero cunhado no Verão do Amor californiano. Sem apelo comercial, o único registro dos cariocas Bango tornou-se hoje uma espécie de santo Graal no mercado de colecionadores sintonizados à Era de Aquários.

Egressos da banda de baile Os Canibais – grupo do segundo time da Jovem Guarda –, eles deixaram a onda do Iê-iê-iê e caíram de cabeça nas viagens plásticas prometidas pelo químico suíço Albert Hofmann. O resultado é um pacthwork de hard rock, proto-progressivo, nuances da fase mais pesada de Os Mutantes e das viagens alucinantes do quarteto de Liverpool.

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Comumente citado como um dos melhores da primeira dentição do rock sob os trópicos, o disco carregava tons avermelhados de overdub, fuzz-guitars e sintetizadores (mini-moog e órgão Hammond), num trabalho que pode ser caixotado como desdobramento da Tropicália. Obscuro e dilacerante, o álbum explora arranjos e timbres que eram pouco usados no fechado mercado roqueiro setentista brasileiro – exceção, é claro, era Os Mutantes.

Motor Maravilha – Bango

 

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Exemplos disso são as letras ora em português, ora em inglês, que os mais incautos podem achar se tratar de regravação de alguma banda gringas – como Rollin’ Like a Boat, que recorda os mais pulsantes hits da Creedence Clearwater Revival.

O disco é um ponto fora da curva da discografia dos Canibais, banda com um mega-sucesso cantando em inglês, Gina, defendida no Festival Internacional da Canção, que vendeu mais de 100.000 cópias. Meio psicodélico e meio hard rock, o álbum auto-intitulado é nitroglicerina pura.

Sob influência do Festival de Woodstock, e sentindo os ventos da mudança na MPB, que concluíra ser idiotice alijar as guitarras dos estúdios, o grupo seguiu as influências da trupe de Caetano e Gilberto Gil.  Cada vez mais próximo da tonalidade dos Mutantes, e com peso extra nos instrumentais, a banda troca de nome e de sonoridade. E em 1971 lançam LP sob o pseudônimo de Bango.

 

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Marta, Zeca, o prefeito, o padre, o doutor e Eu – Bango

O trabalho captura de forma lúdica algumas das melhores músicas da época, que era essência da primeira dentição do rock brasileiro. E cumpre as expectativas do psicodelismo e em alguns momentos o transcende. Com qualidade compatível aos melhores do gênero, o disco explora um repertório variado. A verve Mutante se faz presente na potente guitarra e numa citação caipira, a la 2001 (Tom Zé e Rita Lee).

Faixas como Inferno no Mundo (Fuzzy-guitarras), Rolling Like a Boat (boogie com teclados garageiros), Motor Maravilha (claras influências dos irmãos Baptista) e Rock Dream (hard rock clássico) e Ode To Billy carregam um pequeno prisma multicolorido de inspiração psicoativa.

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Bango apresenta uma síntese calculada de um movimento musical tão brasileiro quanto universal, que passou batido em seu período. O reconhecimento tardio (via exterior) ainda não foi capaz de alocar o único trabalho do quarteto carioca no patamar que merece. Sorte dos raros aficionados por pérolas tupiniquins, que vasculham os porões da internet a fim de manter intacto o espírito roqueiro setentista nacional.

Ode to Billy – Bango

https://www.youtube.com/watch?v=dicxacNMr2Y

 

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Inovador para o período, o disco trilha por uma sensacional mistura de influências estilísticas, que são mantidas uniformes por um senso de humor irreverente e imprevisível. A parte musical, de impecável beleza estética e conceitual, revela-se inventiva e de melodias memoráveis.

Bango bebe de fonte primária dos pioneiros esboços inclinados às substâncias alucinógenos, como Black Is Black, de Los Bravos, e Time Will not Let Me, dos Outsiders. Mapeia um mini arco-íris entre o samba e Hendrix; Tropicalia e Beatles, rock de garagem e sinfônico, com pitadas de música tribal e alucinações típicas da pouca idade. Uma pérola.

O trabalho foi editado pelo minúsculo selo Musidisc, mas logo caiu no esquecimento dado a crise financeira da gravadora carioca. Eles ainda conseguiram colocar no mercado um compacto simples, com duas faixas, antes de colocar o Bando na gaveta e resgatar os Canibais.

Rollin’ Like a Boat – Bango

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O disco clássico do quinteto Fernandinho (guitarra), Elydio (baixo), Roosevelt (piano e órgão), Max (bateria) e Aramis (guitarra e vocais) foi redescoberto pelas novas gerações vi troca de arquivos mp3. E cópias piratas são catalogadas como cult em sites na Inglaterra e da Alemanha como uma “banda brasileira de música psicodélica comparáveis aos Mutantes”.

Algumas faixas são encontradas em coletâneas que abordam o psicodelismo brazuca, principalmente no mercado exterior.  O disco foi relançando em vinil na Alemanha, pelo selo Shadocks de Berlim.E ainda é inédito nos novos formatos por essas bandas. Uma pena.

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