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Arkie do BRock #34 – Quando elas assumem postura roqueira

O grito dissonante de Gal Costa em sua viagem radical e contracultural – fase de lisérgica peregrinação que rendeu quatro discaços entre 1968 e 1971 – não foi a única desventura feminina nos primeiros acordes do roque brazuca. O malfadado caminho que a dentição inicial do rock’n roll sob os trópicos percorreu até se firmar como fenômeno de massa jovem deve, e muito, à ousadia e sensibilidade típica das mulheres.

Visto com certo preconceito, tanto entre críticos quanto da intelectualidade à época que julgava interessante apenas as canções de protesto, os acordes básicos e as atitudes viscerais roqueiras aparecem em faixas dispersas de artistas alocadas no primeiro time da música popular brasileira – mesmo que algumas aqui citadas tiveram as suas raízes na Jovem Guarda, espécie de embrião da identidade do rock brazuca.

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Para iniciar os trabalhos, uma polêmica tão ousada para os mais fanáticos fãs do que a constatação histórica de que o Kiss plagiou os Secos e Molhados – sim, eu creio na versão do Ney Matogrosso, endossada pelo mitológico Zé Rodrix, que produziu o clássico inicial do grupo paulistano.

Para a nova geração, ela é aquela cantora que viralizou nas redes sociais em uma – digamos – releitura para lá de emocionada do Hino Nacional. Contudo, nos anos 60/70, Vanusa era candidata ao estrelado midiático com canções melodramáticas sobre o amor, que hoje seriam empacotadas na categoria brega. E dona de capacidade vocal para empenhar com vigor os mais classudos discos roqueiros planetário. Duvida? Ouça de What To Do, faixa que encerra o lado A do disco lançado pela cantora, em 1973.

Vanusa – What to do

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Notou alguma semelhança com um clássico do hard rock? O riff inicial e a nuance da faixa foram claramente copiadas por Black Sabbath, no Sabbath Bloody Sabbath. Antes que você imagine que se trata do contrário, o disco da cantora brasileira teve lançamento quatro meses anterior ao do grupo britânico.

Alguns detalhes dão combustível à discussão de cópia. O guitarrista e compositor Tony Iommi já assumiu que sofria de bloqueio antes à gravação do álbum clássico do grupo. Até um dia ele apresentou o riff ao restante da banda. Apesar das semelhanças e do estilo cru – totalmente distante das demais composições gravadas pela brasileira – a teoria de plágio é quase nula, visto falta de comunicação rápida entre o fechado mercado nacional. Mas que fica uma pulga atrás da orelha, isso fica.

 

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Silvinha – Paraíba

Dona de um alcance vocal admirável, Sylvinha Araujo (1951-2008) começou sua carreira em corais folclóricos na bucólica em São João del Rei, Minas Gerais. Entre 1968 e 71, Silvinha lançou três discos pela extinta Odeon. Em seu último trabalho antes de se afastar dos palcos e se dedicar a jingles, a ex-esposa de Eduardo Araújo faz uma versão turbinada de dois clássicos do cancioneiro popular.

Em Paraíba, composição original de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, ela chega bem próximo às vocalizações de Janis Joplin. Detalhe para a inspiradíssima guitarra distorcida. Outra porrada roqueira presente no mesmo long play (com forte influência soul) é Risque, clássico de Ary Barroso.

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Wanderleia – A Terceira Força

https://www.youtube.com/watch?v=zO1n8LZDb9s

 

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Egressa da Jovem Guarda e ávida para se desvincular da imagem de Ternurinha, Wanderléa seguia a trilha deixada pelo companheiro de movimento, Erasmo Carlos, e se lançaria numa mistura de soul e rock. Em dois discos bárbaros, ela lapidou canções com essa mistura bem temperada. Vale ouvir com atenção no registro ao vivo, de 1975, Lp que leva o nome Feito Gente, do transgressor Walter Franco. E seu melhor trabalho, Vamos que Eu já Vou (1977), produzido pelo mago Egberto Gismonti.

 

Bacamarte – Último Entardecer

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Presença constante nos programas de auditórios nos anos 1980, Jane Duboc enveredou naquela década para canções de fácil apelo comercial e de temáticas que exploravam a verve popular. A cantora romântica chegou ao sucesso com composições como Chama da Paixão e Sonhos. Contudo, antes de ser catapultada às paradas das rádios AM, ela gravou um dos mais antológicos clássicos do progressivo planetário: Depois do Fim, da lendária Bacamarte.

 

Joyce e a Tribo – Kyrie

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Com raízes bem fincadas na bossa-nova, a carioca Joyce Moreno também percorreu longos desfiladeiros pelo universo roqueiro. Com a trupe mineira do Clube da Esquina – Nelson Ângelo, Novelli, Toninho Horta e Naná Vasconcelos – ela formou uma das mais fantásticas (porém, ignorada pelas gravadoras) bandas psicodélicas do País. O supergrupo deixou apenas alguns compactos e participações em coletâneas gravadas – como o sensacional Posições, dividido com a co-irmã Som Imaginário, Módulo 1000 e Equipe Mercado.

A Tribo logo foi dissolvida. Ela ainda manteve a pegada folck mais inclinada à porta da percepção no sensacional Nelson Ângelo e Joyce, cuja voz suave se contrapõe aos audaciosos arranjos. A sombria (e enigmática) Hotel Universal e a visceral Pessoa são belo resumo da viagem musical.

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