Com homenagens à Wally Salomão, Ferreira Gular, com canções de versos poéticos de Eucanaã Ferraz e Rose Ausländer, Arthur Nogueira se joga numa vibe totalmente diferente de seus dois últimos álbums, que tinham uma linha mais eletrônica.
A base de Rei Ninguém foi gravada ao vivo, em dois dias, em um período de duas semanas, você acaba detectando referências de Tom Waits a Fagner, Buena Vista Social Club a Cassiano, Beatles a Nick Drake.
Divido entre quatro partes, o álbum abre com a faixa Vou ficar tão só se você for, seguido por Moonlight, parceria com Zé Manoel, que recebeu o impacto do filme ganhador do Oscar, com uma referência a um soneto de Carlos Pena Filho. De repente, letra de Arthur sobre a envolvente melodia pop do jovem compositor paraense Pratagy, ensina: “Não peça que eu fique/ Tardes e tardes se vão/ Assim como a noite vem“.
A segunda parte do álbum, aberta por Papel tesoura e cola, poema de Eucanaã musicado por Arthur, é a mais bela e contundente do disco. Lume bebe da poética de Gullar, para tratar das “coisas já perdidas, vivas no esquecimento” que existem “por trás do céu, bem além do mar”.
O terceiro capítulo traz a força da presença feminina em meio a um álbum essencialmente masculino, pelas figuras de Rose Ausländer em Ninguém e de Fafá de Belém, que divide com o cantor os vocais de Consegui.
Por fim, o quarto capítulo celebra as coisas que acabam quando tem que acabar — não se alongam em “estado de decomposição” nem “se enterram bem antes de acabadas”. Pra nós, composta apenas por Arthur, conclui com a sabedoria de que “É tudo uma questão/ De tempo/ E é sempre / Aqui”.
Confira o trabalho de Arthur Nogueira e sua linha poética: