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As tais bandas pequenas

Qual é o ponto exato na carreira de uma banda em que ela pode se dizer “grande”? É quando você toca no Morumbi para uma plateia tão cheia que nem consegue distinguir seus rostos? É quando você passa da fase de “pagar para tocar” e começa a ganhar? Ou quando você anda pelas ruas e as pessoas te reconhecem? É qualidade de som, de visual ou números na conta? Dito isso, o que é uma banda pequena?

Em uma noite de bar, ouvi uma mulher que parecia a própria Nancy. A verdade é que os bares abrigam mais Sinatras do que as gravadoras conseguiriam revelar. Alguns deles são conhecidos como artistas e bandas pequenas, aqueles que são bons mas ainda não inspiram atenção. Que não foram “descobertos”. Mais uma desculpa da indústria pra nos assegurar que não precisamos “sair da caixa” de sons já consagrados.

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As mesas só começaram a encher quando bateu a meia noite, mas a banda já tocava desde a abertura do bar. Nancy se empolgou com o aumento do público, mas entendeu que aquilo não era para ela. As pessoas sentaram-se de costas para o palco, conversando mais alto que o som da percussão, e Nancy ficou nervosa. Continuou cantando, focando em um ponto aleatório da multidão, como se estivesse em um quarto vazio, cantando para si mesma.

O barulho aumentou com a movimentação de mesas e cadeiras. A banda tentou mostrar serviço, aumentar o som, prender a atenção. A voz de Nancy falha, mas ela não hesita. Nossos olhares se cruzam e eu balanço a cabeça, mostrando que eles estavam indo bem e que alguém estava curtindo. Arriscaram dois covers de bandas conhecidas, o que agitou alguns fãs, mas não tiveram o retorno esperado. Quando anunciou a banda principal, ela finalmente conseguiu chamar todo o público. Todos aplaudiram e chamaram pela atração da noite, enquanto sua banda desceu do palco pela lateral, carregando seus instrumentos.

A competição é desleal. Quando a banda principal entra, todos na plateia já esperavam de pé. Cantaram juntos em todas as canções. Nancy senta-se ao fundo da plateia, observando e se perguntando quanto falta para ser “grande”. Um dos membros da banda se encontra com um grupo de amigos que esperava no balcão e vai embora, enquanto os outros sentam-se junto à vocalista com garrafas em mãos.

Ela tem a presença, o guitarrista tem o feeling, o profissionalismo do batera é inegável… Não há nada de pequeno nessa combinação. Se você pesquisar bem, virá que essa banda já participou de festivais e aberturas de grandes shows. Mas o conceito de “grande” é tão relativo quanto a definição de uma boa cerveja. Por isso, eles continuam investindo na pilha de CDs em cima da mesa, esperando, mesmo que ninguém ali os conhecesse (ou quisesse conhecer). Mesmo que ainda fossem rotulados como uma banda pequena.

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O disco possuía 7 músicas autorais e um cover. Eu garanti o meu, não só por uma questão de apoio, mas também porque o som era muito bom. É o tipo de som que você gosta de ter no carro, ligado na rotina, aliviando seus ouvidos enquanto tocam todas aquelas porcarias nas rádios. A banda sorriu para mim, agradeceu pelo suporte e pela presença. E eu os disse que quem devia agradecer era eu.

Os shows de abertura são sempre a hora da surpresa. É com eles que você conhece algo novo e pode voltar pra casa dizendo que se surpreendeu. Quem deve agradecer sou eu, por todas as bandas que conheci em noites de bar. Muito além disso, agradeço por todas que continuaram tentando até lotar alguns estádios. A lição que ficou, pelo menos pra mim, é de que esses conceitos de grandeza são coisas que a gente põe na cabeça. Música é música… E afinal, todas as bandas que você admira hoje já foram as tais bandas pequenas um dia.

Nancy, que na verdade é Carol, comentou que muitas pessoas já falaram dessa semelhança. Talvez seja falta de sorte, mas ainda não conseguiram chegar onde pretendem. Ela e o grupo estavam prestes a embarcar em uma turnê pelo interior de São Paulo, acompanhando a mesma banda que estava no palco hoje. Estavam esperançosos, pois poderia ser um novo começo. Eu desejei toda a sorte do mundo na carreira deles. Estão tocando juntos há sete anos e acreditam que essa é a chance de se tornarem gigantes, até o dia em que ninguém ficará de costas durante um show deles.

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