Back in Black: De volta em luto

Back in Black: De volta em luto

RICARDO AMARAL

Tam, tananã. Tananã. Tanã, tanã tanã, tanã.Tam……

Você pode gostar do que quiser, mas simplesmente não consegue ficar parado ao ouvir a mais famosa introdução de guitarra da história do rock. Back in Black faz com que Smoke on the Water se transforme numa espécie de hino.

1980. Meu último ano nos bancos do Santista. Terceiro Colegial C. Eu estava no auge da minha fase “foda-se”. Beatles, Bee Gees, Carpenters foram sepultados pelo som magnético do AC/DC. Meu 3 em 1 era amante de High Voltage, casado com Highway to Hell e flertava com If you Blood, you got it, até que veio a notícia da morte de Bon Scott. Que porrada! Aquele deboche, voz aguda e encharcada de bebida me diziam que mais um sonho chegava ao fim.

Veio a noticia: – “Amaral, o AC/DC lançou um disco novo”. Mais uma vez, direto pro Tremendão, pra ver quem ousara substituir Bon Scott. Agulha no disco…. Sinos…. Hells bells!

De repente, uma voz grave, rouca, estragada. Que maravilha!!! Toda a sequência do disco é emocionante, mas chegou a música título: De Volta em Luto!

Nada mais seria como antes! Mas viria You shook me all night long! Não me lembro de nenhum álbum ter tocado tanto na minha vitrola, desde Sgt Peppers e Dark side.

Back in Black é um marco. É o ápice da arte heavy metal. Para mim, o primeiro álbum depois de Zeppelin II a capturar todo o sangue, suor e arrogância do gênero. Em resumo: Back in Black é um chute no saco!
Grande parte deste crédito tem que ir para o sucessor de Scott. Brian Johnson, um berrador selvagem que combina uma voz rouca e sofrida com um dose de puro machismo, como pedia a época.

Brian é uma espécie de junção do vibrante de Robert Plant, com o timbre operário de Ian Gillan. Não, não o acho melhor que nenhum dos dois, mas desde deles, Johnson foi uma dádiva.

A voz e a maneira de cantar alteraram, nitidamente, o curso do estilo da banda. O blues rock de antes estava definitivamente deixado pra trás. Nem os covers de Brian nas músicas de Bon Scott foram mais covers, mas versões totalmente ímpares.

Os irmãos Young, ainda responsáveis pelo clima AC/DC de cada canção, sustentam em Back in Black um porrada muito mais heavy do que faziam sob a batuta de Bon.

Conheço alguns idiotas históricos incapazes de identificar a musicalidade do AC/DC, mas esses mesmos ao ouvir a introdução de Back in Black cerram os punhos e bravatam: Rock and roll. Deus do céu.

Confesso aqui, pois diferente seria uma hipocrisia, que não conheço todas as histórias ou estórias do AC/DC, mas uma que divulguei durante anos é uma grande mentira. Um desses mitos que o rock and roll insiste em criar: “Não! Brian Johnson não era o motorista do AC/DC!

Brian é inglês, nascido em Gateshead, e foi vocalista de um banda chamada Glam Rock Geordie. Após a morte de Bon Scott ele participou das várias audições feitas pela banda na tentativa de recomeço… E passou!

Pouco importa a estrada que tenha ele tomado. O que importa é que sua contribuição para o mundo pop foi decisiva. Em sua estreia assina um dos ícones do rock mundial. Back in Black é pra sempre