RICARDO AMARAL
Eu às vezes penso que Deus manda um anjo pra cá e diz: “Vai lá e empresta sua voz para aquela pessoa.
John Anserson e David Gates são exemplos deste milagre. Uma voz natural em falsete e uma suavidade que faz com que simplesmente ouvi-los faz tudo ficar mais calmo, em paz.
Bread surgiu em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1968, e além de David Gates no vocal, baixo, guitarra, teclados violino e percussão, trazia Jimmy Griffin (vocais, guitarra, teclado e percussão); Robby Royer (contrabaixo, guitarra, teclados e flauta) e Mike Botts na bateria. Larry Knechtel substituiu Royer em 1971.
Bread é uma dessas maravilhas harmônicas surgidas nos anos 1960, a partir da influência de bandas como Beach Boys, Beatles, Mamas and Papas, The Association e muitas outras.
David Gates (alma e som do Bread) nasceu em Tulsa, Oklahoma, na mesma época e cidade de Leon Russel, parceiro de Lennon, Harrison, Ringo, Elton, Clapton e, juntos, formaram várias bandas em sua cidade. Deixaram Oklahoma juntos e partiram para o sonho dourado da Califórnia.
Em 1970, Gates, Griffin e Royer. Este últimos formaram então o Pleasure Fair, cujo primeiro disco foi produzido por David Gates em 1967. Mais tarde, Griffin e Royer juntos compuseram For all we know, para a trilha sonora de Perdidos na Noite, ganhador do Oscar naquele mesmo ano, como melhor filme e melhor trilha. Mais tarde, em 1972, os Carpenters chegavam às dez mais com a canção.
Os três já fazendo um som juntos, resolveram criar uma banda também juntos e, numa uma tarde engarrafada na US1 em LA, ficaram por duas horas atrás de um caminhão de entregas da Panificadora WONDER BREAD. Pronto! Estava formada a banda em 1968.
Sua primeira gravação foi a canção Dismal Day (Dia triste), em setembro de 1969, mas a banda não passou da posição 127 na Bilboard.
Em 1970, com o lançamento de seu segundo álbum On the waters e com hit I make it with you o Bread chegaria ao seu primeiro número um na Bilboard. O single que viria depois, It don’t matter to me, foi também um grande sucesso comercial, mas não passou da décima colocação nas paradas.
No terceiro álbum uma pérola de canção é lançada: If. A voz de Gate parece mesmo um canto angelical. Com um timbre impressionante, ele entoa a maravilhosa poesia da canção, chegando a uma oitava acima do tom original ao final. A música é uma aula de técnica vocal.
Royer, depois de se atritar com Gates por razões envolvendo a autoria das canções, deixa o Bread no verão de 1971, após três álbuns, embora continuasse a compor com Griffin, sendo substituído por Larry Knechtel, músico reconhecido em LA, tendo participado na gravação de Bridge Over Trouble Water. Ele toca o piano na canção de Simon e Garfunkel.
O quarto álbum, Baby I’m a Want You, seu disco de maior sucesso comercial e de crítica, leva o Bread definitivamente à condição de uma das mais bem sucedidas bandas pop da década. A canção título chegou ao quinto lugar e é mais uma esplendorosa interpretação vocal de David. Os arranjos ficaram muito mais elaborados com a presença de Larry Knechtel e se pode notar um lirismo incrível no LP. Diary e Everything I own chegaram entre as 20 da Bilboard.
No próximo álbum, uma apologia a Elvis Presley, Guitar Man, Gates chega ao cume de sua técnica e versatilidade vocal. Guitar Man, a canção, chegou a 11°, Sweet Surrender em 15° e Aubrey em primeiríssimo lugar.
Aubrey é disparada minha canção predileta do Bread. Conta a estória de um encontro jovial de verão, numa relação incrível e marcante, que jamais poderia funcionar. “E Aubrey era o nome dela. Um nome não muito comum de garota, mas a quem culpar”.
Em 1973 a banda se desfaz e Griffin e Gates seguem carreira solo. Para Gates, a academia de cinema ainda reservava um Oscar, além da canção que produzira em Perdidos na Noite, ele escreve Goodbye Girl para o filme homônimo que recebe a estatueta de melhor ator para Richard Dreyfuss.
Para escutar Bread, abra um vinho com o seu amor. Sente e se deixe levar pelas mais belas canções de amor. Ouvir David Gates é tão bom que você só percebe o quanto se acalmou depois de desligar o som.
Além da musicalidade excepcional, o Bread compôs poemas lindos que embalam o sonho e o coração daqueles que um dia se apaixonaram, ou que ainda estão.
Dedico esta a minha filha Olívia Peralta, que um dia virou pra mim e perguntou: “Papai, você conhece Bread”? Linda e apaixonada.
Dedico esta e várias outras que escrevi e escreverei a José Lobão Neto, meu irmão e vocalista do Blow Up, a quem o mesmo anjo que visitou David Gates abençoou e que me apresentou este fenômeno chamado David Gates.