Foto: Divulgação/The Color Morale
O anúncio da pausa nos trabalhos de uma das bandas mais emotivas do atual cenário hardcore veio no mês passado, mas apenas há pouco tempo eu pude digerir o assunto. Afinal, janeiro foi um mês de divulgação de datas de lançamento de novos discos, novos álbuns e clipes na praça, além de dança de membros e bandas nas gravadoras do gênero. O post não gerou muito alarde nas redes sociais porque o The Color Morale não é uma banda tão pertencente ao mainstream do metalcore quanto outras mas, mesmo assim, chocou seus fãs mais fiéis.
Eu fui uma delas. Hoje ainda sou. Para mim, o The Color Morale sempre se posicionou como uma banda forte, autêntica em seu modo de expressar a dor e a complacência com o ouvinte. Mais do que isso, as letras da banda ofereciam conforto, resposta, coragem e aquele abraço apertado que nos ajuda nos momentos mais difíceis.
Mas se engana quem pensa que esse era o objetivo da banda desde o início, em 2007, em Illinois, nos Estados Unidos. Eles nunca tiveram essa pretensão. No último dia 19 de janeiro, o vocalista Garret Rapp escreveu um longo post na fan page da banda, traçando sua história desde os primeiros dias até o momento em que decidiram parar os trabalhos por um tempo para focar nas próprias vidas.
“A The Color Morale nasceu como mais do que apenas um nome, mais do que seus membros e mais do que apenas música. Era uma missão e a ideia de criar algo maior. Até o nome era uma reflexão sobre uma cognição alternativa, acordada por seus criadores. Se essa mensagem era de um lugar de refúgio espiritual praticado ou de alguma sabotagem depressiva caótica e perplexa, sempre foi brutalmente honesto. Eu não consigo acreditar que quase dez anos e seis álbuns mais tarde, não passa um dia sem que eu leia uma mensagem ou comentário sobre como esse mesmo design afetou e continua afetando todos vocês de maneiras positivas. Esse é o maior privilégio que já tive na minha vida”, afirmou.
Ele continua a declaração explicando que a banda não surgiu com a vontade de vender milhares de discos ao redor do mundo e aparecer em capas de revista, mas sim de criar arte com seus amigos. “Começou lá atrás, em uma garagem próxima do campo de um pequeno restaurante no meio do nada. No meio do nada, é exatamente onde você descobre quem e por que você é como é. Dentro da extensão dessa ideia, The Color Morale nunca poderia se separar. Se ela quebrasse, se separasse, seria porque não era mais nossa”, diz.
“Enquanto passamos por muitas mudanças de membros ao longo dos anos, o motivo se manteve o mesmo e, por essa mesma razão, a banda nunca acabará. A verdade é depois de mais de uma década, o esforço demanda por descanso”.
Leia o texto na íntegra abaixo:
https://www.facebook.com/thecolormorale/photos/a.10151509420445736.1073741829.131600695735/10155059429715736/?type=3&theater
A boa notícia é que esse não será um adeus. Rapp continuará escrevendo e mantendo uma ponte de comunicação com os fãs. Enquanto isso, os seis discos da banda continuarão como referência para os fãs.
Vale esclarecer que embora muitos classifiquem a lírica da The Color Morale como a de uma banda cristã, os membros nunca se definiram dessa maneira. Apesar de terem o cristianismo como sua religião, eles sempre optaram por não se limitar e, assim, ampliar sua voz para mais públicos.
A inspiração para compor tantas letras capazes de ajudar seus fãs a seguir em frente e superar suas dores, depressão e outras dificuldades vem do background de seus integrantes, em especial do vocalista e um dos fundadores da banda, Rapp. Na infância, ele foi abusado sexualmente, sofria bullying na escola, desenvolveu bulimia, sofreu depressão e tentou o suicídio.
É com base em sua própria história (que você pode conhecer melhor neste vídeo da Heart Support), que ele escreve, trabalha e ajuda os fãs ao lado da banda.
O trabalho mais recente da banda é o EP Artist Inspiration Series, lançado no ano passado.
We All Have Demons (2009)
Primeiro disco lançado pelos americanos logo após sua assinatura de contrato com a Rise Records, a sonoridade e bastante semelhante a de outras bandas da mesma cena na época. É possível até fazer um paralelo com a primeiro disco do Asking Alexandria, Stand Up And Scream ou o primeiro disco do Woe, Is Me.
De fato, era um som bastante primitivo comparado ao que é feito hoje pela banda. Vale a pena dar play na primeira música, The Sage Of Washington Oaks e curtir um breakdown logo de cara. Também são boas músicas: Hopes Anchor, Humannequin, Close Your Eyes And Look Away entre outras. No entanto, o diferencial que se nota são algumas letras carregadas de raiva, como Humannequin, por exemplo.
My Devil In Your Eyes (2011)
Este disco marca uma transição entre a sonoridade do We All Have Demons e a que virá no Know Hope. Enquanto algumas canções como The Dying Hymm fazem jus ao trabalho anterior, outras, como This Lost Song Is Yours, abrem a possibilidade de um som mais brando e vocais mais limpos.
Falling Awake, Demon Teeth, Be Longing Always também são boas faixas para entender essa transição no som da The Color Morale.
Know Hope (2013)
Lançado pela Rise Records, o Know Hope foi o grande breakthrough da banda. Foi com o lançamento deste álbum que fez com que eu me apaixonasse no primeiro play. Não faltam boas palavras de compreensão, fé, força e acolhimento. Tudo isso somado à bons instrumentais e breakdowns.
Entre as melhores faixas, temos: Steadfast, Strange Comfort, Silver Lining, Have.Will, Saviorself, entre outras.
Hold On Pain Ends (2014)
Este talvez seja um dos álbuns mais importantes da The Color Morale – seu instrumental é forte, imponente, e as letras tratam com muita coragem sobre temas como depressão, suicídio
De fato, há muitas faixas boas neste disco, mas Suicide;Stigma é uma de minhas favoritas. O videoclipe foi gravado com fãs e artistas que participavam da turnê da Vans Warped Tour naquele ano e a mensagem é muito atual e muito importante.
Além desta, vale escutar também: Prey For Me, Developing Negative, Lifeline e Outer Demons.
Desolate Divine (2016)
O último disco de inéditas da banda, lançado em 2016 pela Rise Records, é inspirador. Ele já começa com três músicas de significado explosivo: Lonesome Soul, Paper Clip Wings e Walls. Elas têm letras com mensagens fortes sobre o enfrentamento da solidão, exclusão e coragem para enfrentar as dores que a vida impõe.
Comparado a seu antecessor, ele soa mais post hardcore e pop. Considerando todas as variáveis do trabalho da banda, é um lindo trabalho. Talvez você perceba uma mudança nas vozes que se completam nas canções: o vocalista Garret Rapp não estava mais à cargo dos gritos. Essa tarefa já pertencia ao guitarrista Aaron Saunders.
Vale escutar também: Misery Hates Company, Keep Me In My Body, Perfect Strangers e Version Of Me.