Cat Stevens – a obra de um espírito em evolução

Cat Stevens – a obra de um espírito em evolução

RICARDO AMARAL

Dedicado a Samir Nakhle Khoury

Vocês acreditam em inveja boa? Pois não acreditem. Se tem uma coisa que me atormenta deveras é ver (no caso fático não ver) que perdi um momento único. Uma oportunidade que não mais me virá. Explico.
Abri o Facebook um dia desses e vi na publicação de um amigo que ele ganhara ingressos para o show de Yusuf Islam em SP. Meu, adorei por ele, mas me deu uma inveja.

Cat Stevens, para mim, ficava entre as faixas de uma coletânea de outros músicos, tipo Wild Word e outras. Ao ver aqueles ingressos, minha pesquisa se iniciou e pronto. Fui da inveja à depressão. Stephen Demetre Giorgiou nasceu em Londres, 1948, e assumiu o nome Cat Stevens (apelido dado pelas meninas. O cara era bonito!) e hoje tem o nome de Yousuf Islam. Com isso encerro esta bobagem nominal. Mudou uma vez, mudou duas vezes! O que não mudou foi sua aura. O encanto de sua poesia e a profundidade de suas interpretações. Cat Stevens (chamemo-no assim d’ora diante), logo no início de sua carreira, apresentou propostas poéticas absolutamente desligadas com o compromisso romântico de sua época.

Sua capacidade de dizer verdades sobre temas impensáveis, como em The First Cut is The Deepest e I Love my Dog, o transformou rapidamente em um grande astro, cercado de fãs e dinheiro. Com este, vieram os abusos.

Sua influência principal para a música se deu com os Beatles e, mais expressivamente, com sua ida ao teatro para ver West Side Story, o que, segundo ele, mudou o significado de tudo em sua vida.

Acometido pela tuberculose em 1968, Cat Stevens foi diagnosticado como irrecuperável, tendo sua vida estimada em seis meses. Retirou-se para uma fazenda no interior da Inglaterra, onde convalesceu por três meses sem contato algum, senão com o staff da clínica. Lá, Stevens aprendeu meditação, yoga e se tornou vegetariano.

Segundo suas palavras, descobriu uma luz que desconhecia e abandonou seu sarcasmo habitual para dedicar-se aos temas mais delicados e abstratos da natureza humana.

Seu primeiro álbum desta fase foi Mona Bone Jakon, contendo duas preciosidades: Trouble e May be You’re Right. O nome do álbum restou um mistério até tempos atrás, quando revelou em entrevista que era apenas como chamava seu pênis.

O disco que viria na sequência é um desses que obrigatoriamente temos que ter em nossa discoteca: Tea for the with Tillerman tornou-se top 10 da Billboard. Em seis meses já havia vendido mais de 500 mil cópias, recebendo disco de ouro, tanto nos EUA, como no Reino Unido.

A combinação folk com letras acessíveis e tratando de assuntos comuns a todos fez de Cat Stevens uma espécie de guru de sua geração.

Father and son ( a música que me fez descobrir Stevens) é uma narrativa singular sobre a relação pai e filho, reconhecendo de forma quase confessional, as dificuldades de ambos em se compreenderem. Vale pena parar, ouvir e ler a letra. Simplesmente maravilhosa.

Wild World, o hit do álbum, é um alerta às desaventuras dos jovens em se arremeter ao mundo. A canção utiliza uma linguagem postal de um amor desfeito.

Durante os anos de 1971 e 1972, Cat Stevens viveu um romance intenso com Carly Simon, tendo ambos escrito canções um para o outro.

Em 1971, a canção If You Want to Sing Out, Sing Out apareceu pela primeira vez no filme Ensina-me a viver, que embora comercialmente tinha sido um fracasso, é considerado um cult. Esta música tem como ritmo original o skifle, gênero irlandês que influenciou toda a geração britânica dos 1960. Sua letra é um deboche sobre a teimosia juvenil e a banalidade das escolhas, mesmo diante da complexidade que lhes dão os jovens.

No mesmo ano, Cat Stevens regrava um clássico gospel cristão, Morning has Broken, no LP Teaser for the Firecat. Hoje, a canção é conhecida como de sua autoria, o que demonstra a força interpretada de Stevens.

Neste álbum ainda, a esplêndida The Wind, na qual, com uma a poesia muito próxima do espiritismo hindu, Cat Stevens retrata os seus resultados com a meditação transcedental.

https://www.youtube.com/watch?v=GDtJctcarBk&feature=youtu.be

Já sei… Por que se tornou muçulmano? Isto faz parte das escolhas humanas relativas a fé. A fé não tem razão. Habita num percentual inexplicável da nossa busca por nós mesmos. Yusef Islam é Cat Stevens que foi…

Obrigado Samir. Por tudo. Mas por Cat Stevens!