O último mês de abril não podia terminar de forma mais triste para os fãs de metalcore. Uma de suas bandas mais sensíveis, agressivas e surpreendentes, o Letlive., publicou um comunicado na última sexta-feira (28) anunciando o fim do grupo após 15 anos. O motivo, segundo eles, foi uma divergência de visões e objetivos que surgiu entre os atuais quatro membros da banda. Por isso, não há possibilidade da banda continuar existindo (leia íntegra abaixo).
Jason Aalon Butler, vocalista desde o início da banda, em meados de 2002, quando ela começou no fundo de uma garagem no subúrbio da cidade de Los Angeles, foi o único membro fixo durante toda a trajetória do Letlive.
A banda, que ainda contava com o baterista Loniel Robinson, o guitarrista e tecladista Jeff Sahyoun e o baixista Jay Johnson, navegava tranquilamente entre o metalcore, post-hardcore, experimental rock e muitas vezes chegou a ser encaixada no Art Punk. Este último privilegiava a estética e o som típicos do punk rock, sem levantar bandeiras e defender as mesmas ideias que o restante das bandas.
Em uma entrevista à revista Rock Sound, em 2011, Jason afirmou que o Letlive. queria mostrar ao público que o punk rock americano estava mais vivo do que nunca.
Mas não pense que por isso o Letlive. era uma banda sem ideais e princípios. Suas músicas tratavam geralmente de temas como corrupção, raiva, cultura, infidelidade, ressentimentos e críticas em relação ao comportamento da sociedade. Por isso, suas músicas sempre eram muito violentas, carregadas e possuíam uma forte dualidade na figura do vocalista. Amor e ódio, tranquilidade e violência, eram elementos presentes em toda a trajetória da banda.
Posso dizer que ouvir e ver o Letlive. pode trazer sensações completamente diferentes. Jason Butler é capaz de carregar consigo o efeito que as músicas têm nele. É como se o seu corpo fosse o canal por onde passa toda a energia das músicas e letras da banda. Seu poder de expressão é muito forte.
Não à toa ele é muito conhecido pelas performances cheias de linguagem corporal, danças, se arriscando enquanto se pendura e salta de muitos lugares. O palco é o lugar onde ele realmente entrega todo o sentimento existente por trás de cada música da banda. Infelizmente, eu nunca tive a sorte de assisti-los pessoalmente. Por isso, veja algumas das peripécias de Jason no vídeo abaixo.
Exhaustion, Saltwater, and Everything in Between EP (2003)
Após um ano de formação, a banda lançou seu primeiro EP, pela gravadora At One Records. No total, foram oito músicas, entre elas Showcase Heart, a que eu mais gosto no álbum. Quem curte bandas como o Underoath, por exemplo, podem sentir um pouco da influência do som da banda neste primeiro EP.
Speak Like You Talk (2005)
Primeiro álbum de estúdio da banda, o Speak Like You Talk já tinha músicas, letras e um som mais agressivo do que o primeiro trabalho. Não está entre os meus álbuns favoritos, mas Beauty Queen Breast Stroke, Punk is Not Dead, Jesus is e Don’t Fuck Me Tiger… I’m Sick são músicas interessantes.
Fake History (2009)
Para muitos fãs, esta é a obra-prima do Letlive. O álbum foi lançado duas vezes. A primeira pela Tragic Hero Records, gravadora da banda, com 11 músicas. A segunda vez, foi lançada com três faixas bônus pela Epitaph Records, em 2011. Hollywood, and She Did, Lemon Party e This Mime (Sex Symbol) foram adicionadas ao álbum após o vocalista do Bring Me The Horizon, Oliver Sykes, assistir um show da banda e recomendá-la ao dono da Epitaph. Foi a grande estreia da banda ao grande público.
Renegade 86, Muther e Homeless Jazz são músicas incríveis.
The Blackest Beautiful (2013)
Após o sucesso do último álbum, o Letlive. fechou uma porta que Jason Butler deu a entender que era era de aprendizado. O post-hardcore, o punk com músicas cruas e agressivas havia aberto espaço para mais maturidade e experimentação. Confesso que quando ouvi Banshee (Ghost Fame), a música que abre o álbum, eu fiquei maravilhada. A sonoridade deles é incrível.
Vale muito a pena conhecer o álbum pelas músicas Banshee (Ghost Fame), Younger, White America’s Beautiful Black Market e That Fear Fever.
If I’m The Devil… (2016)
Na época do lançamentos, não dava para ter ideia de que este seria o último álbum do Letlive., mas agora dá para dizer com segurança que a banda encerrou sua trajetória com o melhor trabalho da carreira. Mais do que um álbum com músicas agitadas e agressivas, o If I’m The Devil… traz um Jason Butler mais melódico, sons eletrônicos, letras políticas e carregadas de sensibilidade. Fiquei apaixonada logo da primeira vez que escutei.
Em Reluctantly Dead, o vocalista se coloca na pele de grandes autoridades e tenta entender a relação de poder e o que ainda há de humano dentro delas. É uma grande música. Além dela, I’ve Learned To Love Myself, Foreign Cab Rides, Good Mourning, America e Who You Are Not como minhas músicas favoritas.
Como o próprio comunicado da banda deixa claro, embora o Letlive. como banda tenha acabado, “o elemento mais importante, a ideia, vai continuar viva enquanto vocês permitirem. Vocês são e sempre serão o Letlive.”.